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Chade

DW (rr)2 de fevereiro de 2008

Impossibilitada de atuar diretamente no Sudão, a UE enviará sua maior missão na África ao Chade e à República Centro Africana para proteger refugiados de Darfur. No entanto, escalada da violência adia envio de tropas.

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Mulheres no campo de refugiados de Djabal no leste do Chade
Mulheres no campo de refugiados de Djabal no leste do ChadeFoto: AP

Rebeldes armados tomaram neste sábado (02/02) a capital do Chade, Ndjamena. “A cidade inteira está nas mãos dos rebeldes”, informaram fontes militares. Após três horas de choque com tropas do governo, restaram apenas focos isolados de luta, e o presidente do Chade, Idriss Deby, ainda se encontra no palácio presidencial.

Desde que a UE aprovou a missão da Eufor na última segunda-feira (28/01), grupos rebeldes se puseram a caminho da cidade em 300 veículos distribuídos em três caravanas vindas do Sudão, a 800 quilômetros de distância, armados com metralhadoras e mísseis.

A União Africana (UA), no entanto, já anunciou que não reconhecerá um possível governo formado por forças rebeldes. Caso assumissem o poder, o país seria excluído do bloco até que a normalidade e a democracia fossem reinstalados, assegurou seu recém-eleito presidente, o tanzaniano Jakaya Kikwete.

Primeiros vôos cancelados

O agravamento dos combates não coloca em xeque a missão militar humanitária da UE, mas poderá levar a uma adaptação no seu formato, de modo a garantir a segurança das tropas, informou uma fonte do bloco, deixando claro que a situação não põe em dúvida a missão, mas a torna "ainda mais necessária".

Os primeiros 126 soldados franceses enviados ao Chade estão em segurança. No entanto, o envio dos primeiros reforços teve de ser adiado em virtude da escalada da violência na região. Três aviões contendo soldados austríacos e irlandeses foram impedidos de decolar e a ONU retirou grande parte de seus funcionários da cidade.

Um porta-voz da UE garantiu que nenhum avião decolará enquanto a situação se mantiver instável. "Estaremos mais ocupados em coletar informações do que qualquer outra coisa. Observaremos atentamente os desdobramentos e tomaremos decisões com base nos acontecimentos do dia", disse o tenente-coronel Philippe de Cussac.

Missão é a maior da EU na África

A guerra civil que abala a província sudanesa de Darfur há cinco anos já deixou um saldo de centenas de milhares de mortos e milhões de refugiados. Muitos fugiram em busca da paz no oeste, tentando sobreviver no Chade e na República Centro Africana.

Impossibilitada de atuar diretamente no Sudão, os ministros do Exterior da União Européia deram luz verde para esta que deverá ser a maior missão do bloco na África. As tropas da UE, sob o comando do irlandês general irlandês Patrick Nash, atuarão ao longo da fronteira sudanesa, em uma área do tamanho da Alemanha. Os 3700 soldados de 14 países procurarão garantir, a princípio durante um ano, a segurança e o abastecimento dos centenas de milhares de refugiados lá abrigados.

Críticas à liderança francesa

"Esta será a operação mais importante que a União Européia já organizou na África, e também a mais longa, com pelo menos um ano de duração", conta Javier Solana, encarregado da diplomacia do bloco. A missão também servirá para proteger comboios da ONU e garantir o acesso a organizações não-governamentais (ONGs).

Tschad Präsident Idriss Deby
Idriss Deby, presidente do ChadeFoto: AP

A maior parte das tropas virá da França, ex-potência colonial na região, que apóia o governo do presidente Idriss Deby. Também o comando das tropas no local será assumido por um general francês, enquanto o irlandês Patrick Nash coordenará a missão do quarto-general europeu próximo a Paris.

A grande influência francesa, no entanto, vem sendo criticada no Chade, pois principalmente as tropas rebeldes poderiam passar a ver as forças européias como facciosas. Segundo o presidente do partido União pela Renovação e pela Democracia (URD), Wadal Abdelkader, "as tropas devem ser neutras e apartidárias e, antes de mais nada, promover o diálogo entre as diversas facções no país".

Neutralidade absoluta

As tropas da UE não deverão se envolver no conflito com rebeldes. "Temos uma clara missão: se os rebeldes não nos incomodarem, nós os deixaremos em paz", explica Nash. Vale a neutralidade absoluta, sendo que tiros só serão permitidos em caso de defesa. "Não estamos estacionados em nenhum lugar próximo à fronteira sudanesa, nem temos intenção de cruzar a fronteira."

Symbolbild Flüchtlinge Tschad Kinder
Foto: picture alliance/dpa

A missão tampouco tem a ver com as tentativas da ONU e da União Africana (UA) para solucionar o conflito em Darfur. No entanto, o encarregado europeu Torben Brylle espera que tenha um efeito positivo na região. "Ainda esperamos e acreditamos que uma maior segurança poderia fazer crer que uma solução pacífica é possível. O que também contribuiria para dar novo impulso às negociações políticas."

Para a missão, que deverá começar em março, o general Nash juntou tropas e helicópteros de transporte entre os países da UE. A partir do verão europeu, ele espera poder contar com um reforço ainda maior, pois faltam reservas estratégicas para agir em casos de emergência. O maior desafio, segundo Nash, é de caráter logístico: o próximo porto situa-se a dois mil quilômetros de distância e até mesmo o cimento para construir um aeroporto teve de ser trazido da Europa.