Repercussão
20 de novembro de 2007"A caminho da Opep?", perguntou o Tageschau, principal noticiário da TV alemã, ao anunciar a descoberta do campo petrolífero de Tupi, na bacia de Santos, no início de novembro. Outros importantes órgãos da mídia também tiveram manchetes semelhantes.
Na semana passada, o jornal alemão especializado em economia Handelsblatt afirmava que "o Brasil vai se tornar importante exportador de petróleo", e o austríaco Der Standard também anunciava "imensa reserva petrolífera encontrada no Brasil".
Da eleição presidencial brasileira de 2009 à reavaliação da teoria do Peak Oil, mídia e analistas europeus examinam, agora, o significado econômico, político e tecnológico da descoberta brasileira.
"Tupi or not Tupi"
Tanto na mídia brasileira como na alemã, o trocadilho de Oswald de Andrade "Tupi or not Tupi, that's the question" tem sido usado para designar alguns pontos controversos da descoberta do Campo Tupi. Entre eles, está o próprio anúncio da descoberta.
Segundo o Handelsblatt, sua existência já seria conhecida desde meados de 2006. Para o porquê do seu atual anúncio, o jornal de Düsseldorf registra quatro razões.
Primeiramente, o governo brasileiro queria desviar a atenção de que o país está na iminência de uma crise no abastecimento de gás natural. Em segundo lugar, o anúncio da queda em 22% do lucro da Petrobras no terceiro trimestre de 2007 em relação ao mesmo período do ano passado poderia ser aliviado com a notícia da descoberta do campo.
Outros motivos
Um argumento para a exclusão de 41 blocos de leilão da rodada de licitações que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) realizará na próxima semana é mencionado pelo jornal como o terceiro motivo para a atual declaração da descoberta.
Ao mesmo tempo, tal argumento permitiria o aumento dos preços de novas concessões e uma intensificação das condições de exploração. O quarto motivo, segundo o Handelsblatt, seria a pressão exercida pela própria Petrobras.
Já o diário Frankfurter Rundschau registra a observação de analistas de que foi a ministra Dilma Rousseff, e não o presidente Lula, quem anunciou a importante descoberta, em alusão à candidatura de Rousseff como sucessora de Lula.
"Pico petrolífero"
Os analistas do Commerzbank Corporates and Markets, divisão de investimentos do banco alemão, vêem na descoberta do Campo Tupi uma reavaliação da opinião de alguns especialistas da teoria do Peak Oil ou "Pico do Petróleo".
Segundo a teoria baseada nos estudos do geólogo e geofísico americano Marion King Hubbert (1903–1989), o pico máximo de exploração de petróleo será alcançado quando a metade das reservas esgotarem.
Em seguida, as perfurações sofreriam uma forte queda. Alguns defensores desta teoria, explica o Commmerzbank, acreditam que este pico de produção será atingido em breve.
Os analistas do banco revidam esta opinião e mencionam as descobertas da jazida de Tupi, com estimados 8 bilhões de barris de petróleo, como também a do Campo Jack 2, no Golfo do México no ano passado, com possíveis 15 bilhões, como provas da ampliação da reserva mundial.
"Terra incógnita"
Isto mostraria a existência de muita "terra incógnita" ainda a ser explorada, afirma o banco. As estatísticas apoiariam a teoria dos analistas do Commerzbank. Apesar do aumento de produção, há anos que as reservas de petróleo não diminuem. Hoje, a previsão da duração das reservas de petróleo é de 40 anos. Há 25 anos, previu-se que o petróleo acabaria em 30 anos.
Além disso, o banco menciona as inovações tecnológicas e a intensificação das perfurações, que dobraram desde 2002, em conseqüência dos altos preços. O Commerzbank ressalta que todos estão de acordo, no entanto, que as reservas petrolíferas não são infindáveis e que as novas descobertas implicam em alto custo de exploração.
Tupi se encontra a cerca de 7 km da superfície marinha e Jack 2, até mesmo a 8 km. Desta forma, os analistas do banco acreditam em elevado ou crescente preço do petróleo a longo prazo. Acredita-se que o preço adequado do atual barril de petróleo deveria girar em torno dos US$ 70. (ca)