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Tulipa Ruiz estreia na Alemanha com o disco "Tudo Tanto"

Marco Sanchez15 de junho de 2013

Revelação da música brasileira, Tulipa Ruiz faz primeiro show na Alemanha, apresentando o seu segundo disco "Tudo Tanto" no festival BeLaSound. Em conversa com a DW Brasil, Tulipa diz que seu sucesso começou na internet.

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Foto: Rodrigo Schmidt

A vida de Tulipa Ruiz é uma música, um desenho, uma foto e um filme narrado com alegria e entusiasmo pela própria protagonista. Essas histórias estão registradas em seus dois discos: Efêmera (2010) e Tudo Tanto (2012), ambos produzidos por seu irmão Gustavo.  

No palco, Tulipa é o centro de um universo de canções pop cheias de referências visuais e sonoras. Sem pretensão e quase de forma lúdica, ela achou seu espaço nos palcos paulistanos e depois conquistou o Brasil.

Sem depender de gravadoras, a artista, até recentemente, distribuía pessoalmente seus próprios discos. Ela é a prova viva de que uma bela voz, ótimas composições, presença de palco e trabalho duro são caminhos para o reconhecimento e o sucesso.

Em conversa com a DW Brasil antes de sua apresentação na Alemanha, a cantora Tulipa Ruiz falou de suas influências, do prazer de estar no palco e disse que seu sucesso começou quando colocou algumas composições na internet.

DW Brasil: Esta é sua primeira vez em Berlim? Quais são suas expectativas?

Tulipa Ruiz: Primeira vez na Alemanha. A banda toda está curiosa para conhecer Berlim, que falam que é um lugar incrível. É sempre interessante tocar num festival e ver como a musica brasileira é absorvida em lugares de línguas diferentes. Estamos num misto de empolgação e curiosidade.

Como foram suas experiências em tocar fora do Brasil?

Isso varia muito. Os portugueses são fãs de música brasileira, assim como os japoneses, que pesquisam toda sua biografia na internet. Em outros lugares, a plateia está vendo você pela primeira vez. A lição que ficou é que a música é uma comunicação muito maior do que o falar.

Quando eu estou num lugar em que não falo a língua, o show acontece de maneira diferente. O corpo tem que se comunicar de outro jeito. Acho que muda a partitura corporal. Isso muito legal.

Tulipa Ruiz Festival BeLaSound in Berlin
O lugar onde Tulipa Ruiz se sente mais à vontade é o palcoFoto: Rodrigo Schmidt

Você estudou canto lírico, mas canta de uma maneira mais teatral e divertida. Essa foi uma escolha consciente?

Na minha infância, eu escutei muito o grupo Rumo, que tinha uma coisa muito forte com a melodia da fala. Eu acho isso no meu repertório. De alguma maneira eu absorvi e "antropofagizei" as coisas que ouvi na infância. Eu enxergo o lírico como um botãozinho que eu posso apertar em alguns momentos. Coisas que eu vou armazenando e disparo na hora que acho mais legal.

Você também estudou teatro?

Não, mas sou muito mais do palco do que do estúdio. Acho que preciso ainda fazer dez discos para poder desfrutar totalmente esse momento do estúdio. O palco é um espaço cênico onde tudo pode ser linguagem. Eu gosto das possibilidades grandiosas do palco. Tudo ali é possível e isso para mim é uma coisa muito encantadora. O palco tem uma coisa de sagrado. Mas, de alguma maneira, eu me sinto confortável nele.

Apesar de ter crescido em Minas, você soa muito paulistana...

Fui para Minas com minha mãe e meu irmão. Meu pai [Luis Chagas, jornalista e ex-guitarrista de Itamar Assumpção] ficou em São Paulo e ele é o cara mais paulistano que eu conheço. Eu vinha sempre visitá-lo, mas me considero mineira. No entanto, minhas referências musicais são muito paulistanas. Se eu não tivesse ido para São Paulo, talvez hoje não fizesse música, mas morar em Minas e ver o que acontecia em São Paulo me trouxe outras inspirações.

Como foi trocar São Lourenço por São Paulo? Você já sabia que queria cantar?

Apesar de tudo que aconteceu na minha vida, eu ainda faço o que fazia quando tinha 13 anos: invento música, desenho e escrevo. Sabia que queria trabalhar com comunicação. Eu tinha 23 anos, trabalhava numa loja de discos, estudava canto lírico e italiano. Não sabia mais para onde ir e fui para São Paulo. Fiz faculdade de comunicação, continuava confusa, mas continuava a desenhar, escrever e ter banda. No decorrer de tudo isso, a música começou a ficar mais séria do que todas as outras coisas. 

Tulipa Ruiz Festival BeLaSound in Berlin
Até recentemente, a cantora distribuía seus próprios discosFoto: Rodrigo Schmidt

A música já não era algo que estava no seu sangue?

Apesar de gostar de música, esse sempre foi um departamento do meu pai e do meu irmão. Na verdade foi tudo acontecendo muito aos poucos. Gravei meu primeiro disco aos 30 anos. Para mim, o ponto de virada foi quando eu coloquei algumas composições na internet.

E como as coisas começaram a realmente acontecer?

Foi um processo natural. Quando meu pai fez 50 anos, ele se deu de presente uma banda e eu era a vocalista. Tocamos num projeto do Ronaldo Evangelista no Estúdio SP e ele me convidou para fazer meu primeiro show como Tulipa. Como não tinha repertório, toquei o mesmo repertório do outro show, mas arrisquei uma composição minha. Assim, aos pouquinhos, começaram a me chamar para fazer shows e eu fui exercitando minha composição. Quando ficou inviável, eu larguei o trabalho e me dediquei só à música. Em 2009, eu fiz meu primeiro show com repertório próprio. Passei um ano exercitando essas músicas com a banda e o público.

Você já tinha gravado o disco Efêmera?  

Não, eu estava em fase de amadurecimento de repertório. Precisei formalizar as coisas e o disco é como um cartão de visita. Foi muito legal gravar porque a gente já tinha experimentado muito o repertório.

Como foi o processo no estúdio?

Foi como se eu tivesse dado um zoom na minha voz. Fiquei incomodada com minha respiração, era tudo tão ruidoso. Isso me assustou muito. É um pouco a diferença entre o teatro, que é algo exagerado, e o cinema, mais contido. No estúdio, eu não tinha corpo, só voz.

Foi um momento de descoberta? 

Gravamos muito rápido, não tive muito tempo para fazer experimentos. Prometi fazer isso no segundo disco. Queria desfrutar mais o estúdio e foi o que rolou no Tudo Tanto.

Você não sentiu pressão para gravar o segundo disco?

Quando eu lancei o Efêmera em São Paulo, todo mundo já estava perguntando sobre o segundo disco, sendo que o primeiro tinha 12 horas de vida. Mas não senti pressão. Eu vivi o Efêmera. As ideias para o próximo disco, eu anotava. Quando terminei a turnê, eu falei: pronto, agora está na hora de viver esse segundo disco.

Como surgiram as diversas colaborações do Tudo Tanto?

O Efêmera foi um disco de celebração. Eu quis chamar todo mundo que me inspirou a fazer música. Quem eu não consegui chamar para o disco, eu chamei para desenhar no encarte. No Tudo Tanto as músicas foram pedindo as colaborações. Eu tinha conhecido o Lulu Santos em Salvador e quando escrevemos Dois Cafés, pensei que a música era a cara dele. Eu estava compondo Víbora e não sabia o que fazer com a música, daí, pensei no Criolo. A música era um pouco sombria e o Efêmera era muito solar, era como seu eu entrasse num terreno novo e estranho.

Brasilianische Sänger Criolo
O paulistano Criolo participa da música 'Víbora' do segundo disco 'Tudo Tanto'Foto: Daryan Dornelles

O primeiro disco veio do palco e como foi o processo inverso no Tudo Tanto?

No primeiro momento foi uma grande responsabilidade, queríamos ser fiéis. Agora estamos curtindo o repertório. Quando gravamos uma música tiramos uma foto, mas ela é mutante. Estamos brincando, deixando-a crescer e se transformar.

Esse também é um disco de pop florestal como o Efêmera?

O Tudo Tanto é um disco mais "urbanoide". Ele fica à vontade só com o pop.

Seu trabalho é cheio de referências sonoras e visuais. Isso é uma característica da nova geração de músicos de São Paulo?

São Paulo é um lugar de encontros com gente de todo o mundo. Temos uma coisa de colagem. Acho que essa coisa da mistura é da minha geração. Não acontece só aqui, mas no mundo todo.

O que mais você quer Tulipa?

A coisa que eu mais curto fazer é show. Acho muito legal também que a música promova encontros entre artistas. Essas parcerias são muito legais. Depois da turnê, volto para o Brasil e quero fazer videoclipe, explorar um pouco as imagens do Tudo Tanto. Também quero gravar um DVD, acho importante ter esse registro do palco.

Tulipa Ruiz se apresenta neste sábado (15/06) no festival BeLaSound em Berlim.