Tudo é pânico... e sucesso
6 de novembro de 2003Ele está de volta ao hit parade com um conceito que o acompanha há exatamente 30 anos: o "pânico", termo que surge em inúmeras de suas criações. Foi em 1973 que Udo Lindenberg fundou a Panik Orchester, um conjunto de músicos de primeira classe liderados por um amigo de longa data.
A banda, que mudou de composição inúmeras vezes, acompanhou todo esse tempo fielmente o letrista e compositor por seus discos e shows, sempre inovadores. O CD agora entre os mais vendidos, Der Panikpräsident, marca o início das comemorações dos 30 anos de existência da orquestra, que vão prosseguir com uma turnê pela Alemanha a partir de fevereiro do ano que vem.
Rock em alemão
Nascido em maio de 1946 numa cidadezinha na fronteira com a Holanda, Lindenberg destacou-se já na adolescência por suas qualidades de baterista. Fez seu primeiro sucesso como cantor em 1973, com o LP Alles klar auf der Andrea Doria. Com ele, tornou-se o pioneiro do rock cantado em alemão, impondo o idioma pátrio contra o inglês dominante no pop, com letras que em nada lembravam os textos água-com-açúcar das canções alemãs de até então.
Com seu jeito característico de mais declamar do que cantar, a voz rouca e fanhosa, Lindenberg abordava de forma irônica os assuntos que a sociedade preferia recalcar: armamento, homossexualismo, desemprego entre a juventude, o radicalismo de direita.
Para além da Cortina de Ferro
O caráter político de suas letras fez com que ele se tornasse conhecido e apreciado também na República Democrática Alemã (RDA). Com a canção Der Sonderzug nach Pankow (O trem especial para Pankow — nome de um distrito na então Berlim Oriental), ele pedia em 1983 ao então chefe de partido e de governo da Alemanha comunista, Erich Honecker, em tom de brincadeira, permissão para uma turnê do outro lado da fronteira que separava as duas Alemanhas.
O que lhe foi permitido foi apenas uma curta apresentação no Palácio da República, a um público seleto, em outubro de 1983. Uma turnê planejada para o ano seguinte acabou sendo cancelada. Dois anos depois, porém, ele conseguiu apresentar-se na União Soviética, participando dos Jogos Mundiais da Juventude.
Seu primeiro show no território da RDA só aconteceu após a queda do Muro de Berlim. Mas a aproximação com o Leste por ele iniciada lhe rendeu um encontro com Honecker, quando este visitou a República Federal em 1987, ocasião em que Lindenberg lhe deu de presente seu casaco de couro de roqueiro, recebendo em troca um instrumento de sopro. Por seu empenho pelo entendimento entre Leste e Oeste, o roqueiro foi condecorado pelo governo alemão com a Cruz do Mérito da Alemanha, em 1989.
O "trem especial para Pankow" concretizou-se este ano, no Dia da Unidade Alemã, 3 de outubro, quando Udo & Friends partiram num comboio de Berlim a Magdeburg, onde se apresentaram com um grande show. Os 12 vagões do trem, aliás, foram decorados pelo próprio Lindenberg, que se lançou em 1996 também como desenhista e pintor.
Outro grande marco de seu engajamento político foi a iniciativa "rock contra a violência de extrema direita", um grande concerto promovido em Leipzig em 2001 com a participação de outros grandes do showbiz alemão.
Mais que música
Udo Lindenberg nunca se contentou apenas em cuidar das letras e das músicas. É também um mestre da encenação, levando para os palcos grandes espetáculos em que conjuga elementos do teatro, do musical e do filme. Seu mais recente projeto do gênero é Atlantic Affairs, um musical em que resgata canções de Kurt Weill, Bertolt Brecht e outros que emigraram para os Estados Unidos fugindo do nazismo e com o qual ele vem se apresentando desde fevereiro, com seus convidados especiais.