Nova tese sobre 'Ilíada'
5 de janeiro de 2008Anúncio
A descoberta de Tróia se deve ao fato de o alemão Heinrich Schliemann ter levado a sério a Ilíada de Homero e reunido pistas literárias para sua investigação arqueológica. Agora, o escritor e tradutor austríaco Raoul Schrott causa polêmica na Alemanha por sugerir que as descrições homéricas de Tróia remetem às paisagens da antiga Cilícia, localizada na fronteira mediterrânea entre a atual Turquia e Síria. Isso significaria que o berço do Ocidente pode mais oriental do que se pensava.
Após ter traduzido a epopéia suméria Gilgamesh para o alemão, Schrott, livre-docente em Literatura Comparada, dedicou os últimos anos a uma nova tradução da Ilíada, a ser publicada em março próximo. No prefácio à edição, publicado em excertos na imprensa alemã, o escritor enfatiza as influências orientais sobre a obra e propõe uma nova imagem de Homero.
Na visão de Schrott, a Ilíada tem uma construção elaborada demais para ser considerada uma obra transmitida oralmente através dos séculos, até terem surgidos os primeiros registros escritos. O tradutor identifica Homero como um escriba grego a serviço de soberanos assírios, descobrindo em sua epopéia motivos, personagens e episódios do Gilgamesh.
Redescoberta da Tróia homérica
O enredo da Ilíada remeteria a acontecimentos históricos ocorridos por volta de 700 a.C. na Cilícia, uma premissa que leva Schrott a concordar com os filólogos que datam a obra de 660 a.C. Isso explicaria por que teria se passado tanto tempo, quase meio milênio, entre a Guerra de Tróia e os primeiros registros escritos da epopéia homérica.
O palco da Ilíada é a Grécia, mas – segundo a teoria – o cenário histórico e geográfico das descrições homéricas ficaria mais para o leste, uma estreita faixa ao longo do Mediterrâneo habitada no século 7º a.C. por povos orientais e usada por colonos gregos como ponto de partida para expedições no interior do continente.
A proposta revisionista de Schrott, recebidas com reservas pela opinião pública pelo fato de ele não ser helenista nem historiador, se baseiam – em parte – em teses já formuladas na filologia antiga. Mas as coincidências pontuais que ele destaca entre a descrição de Tróia por Homero e uma localidade diferente da cidade descoberta por Schliemann faz sua teoria soar como uma sensação. (sm)
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