Três dias após terremoto, socorristas ainda salvam vidas
9 de fevereiro de 2023Mesmo três dias após o catastrófico terremoto na região de fronteira entre Turquia e Síria, as equipes de resgate ainda conseguem retirar sobreviventes dos escombros.
Nesta quinta-feira (09/02) uma mãe e seus dois filhos foram salvos após passarem cerca de 78 horas sob a ruínas de sua casa na província de Kahramanmaras, na Turquia.
Imagens de televisão mostraram como ajudantes carregaram a mulher e crianças para a ambulância em uma maca e usando tipoias, em meio aplausos dos espectadores. Os socorristas se abraçaram, e um deles disse à emissora CNN Türk estar feliz com o "pequeno sucesso", após trabalharem por cerca de 15 horas para libertar a família.
Na noite de quarta para esta quinta-feira, 68 horas após o terremoto, uma menina, Hazal Guner, foi resgatada de um prédio desmoronado na cidade de Antakya, na província de Hatay, no sul da Turquia.
Duas horas depois, o pai dela, Soner Guner, foi encontrado vivo sob os escombros do mesmo edifício, reportou a agência de notícias IHA .Quando o homem estava sendo preparado para ser posto na ambulância, ajudantes das equipes de resgate disseram a ele que sua filha estava viva e que ele iria ser levado para o mesmo hospital. "Eu amo vocês todos", sussurrou à equipe de socorristas.
Em Diyarbakir, ao leste de Antakya, uma mulher foi retirada ferida de um edifício desmoronado pela manhã, mas as três pessoas que estavam perto dela nos escombros estavam mortas, segundo a agência de notícias DHA.
No centro da cidade turca de Gaziantep, mais três pessoas foram resgatadas com vida dos escombros de uma casa, entre gritos de comemoração dos socorristas. Alguns deles tinham lágrimas nos olhos. "Esperamos por mais milagres", disse um repórter.
Luta contra o tempo
As equipes de resgate estão lutando contra o tempo – as chances de encontrar os sobreviventes diminuem a cada hora que passa desde o terremoto. O governo turco diz que mais de 100 mil ajudantes estão em ação, apoiados por cães de busca.
Na última madrugada, foi ultrapassada a marca crítica de 72 horas, período após o qual, segundo especialistas, as chances de sobrevivência das pessoas presas sob escombros são consideradas baixas.
Estudiosos disseram que a janela de sobrevivência para aqueles presos sob os escombros ou incapazes de obter necessidades básicas está se fechando rapidamente. Ao mesmo tempo, afirmaram ser muito cedo para abandonar a esperança.
"As primeiras 72 horas são consideradas críticas", disse Steven Godby, especialista em desastres naturais da Nottingham Trent University, na Inglaterra. "A taxa de sobrevivência dentro de 24 horas é de, em média, 74%; após 72 horas, é de 22%; e no quinto dia, é de 6%.''
De acordo com a agência de gerenciamento de desastres, mais de 110 mil membros de equipes de resgate estão participando do esforços, e mais de 5.500 veículos, entre tratores, guindastes e escavadeiras foram enviados. A tarefa é monumental, com milhares de edifícios derrubados pelo abalo sísmico.
Mas parentes de vítimas e membros das equipes de resgate não querem perder a esperança. "O tempo corre contra os sobreviventes que estão enterrados sob o sob os escombros dos edifícios desmoronados na Turquia e na Síria", afirmaram à emissora TRT World.
Temperaturas bem abaixo de zero diminuem ainda mais as chances de novos relatos de sucesso nos salvamentos. Apesar das condições difíceis, até agora os socorristas na Turquia registraram o resgate de cerca de 8 mil pessoas com vida desde o terremoto, ocorrido há três dias, informou a emissora.
O tremor, com uma magnitude de 7,7 a 7,8, atingiu na manhã de segunda-feira a região fronteiriça entre a Síria e a Turquia, causando enorme devastação. Na segunda-feira à tarde, ele foi seguido por outro terremoto com magnitude de 7,5 na mesma região. O número de mortos em ambos os países já aumentou para mais de 19 mil e mais dezenas de milhares de feridos.
Milhares de prédios desabaram. Imagens das áreas do desastre também mostraram escavadeiras removendo detritos na madrugada de quarta para quinta-feira.
Cenas de "milagre"
Nesta quarta-feira, dois dias após o terremoto, também foram vistas cenas emocionantes de resgate que muitos consideraram verdadeiros milagres. Como quando um bebê de sete meses foi resgatado de escombros por bombeiros na província de Adiyaman, no sul da Turquia. Conforme relatado pela agência de notícias estatal Anadolu, o bebê foi levado para um hospital.
As equipes de resgate também libertaram um bebê em Hatay, 58 horas após o desastre. Os ajudantes escalaram um vão entre as paredes da casa desabada, envolveram o bebê em um cobertor e o retiraram, como mostrou a agência de notícias DHA.
Em Kahramanmaras, uma criança de um ano foi retirada viva dos escombros com sua mãe grávida após 56 horas, informou o DHA. O pai já havia sido resgatado com vida.
Na terça-feira, uma menina recém-nascida foi resgatada de uma casa de quatro andares desabada, ainda presa pelo cordão umbilical a sua mãe, morta pela catástrofe, em um vilarejo nos arredores da cidade de Afrin, na província de Aleppo. Ela é a única sobrevivente de sua família. Seu pai, suas três irmãs, seu irmão e sua tia só puderam ser retirados mortos dos escombros.
"Ouvimos um barulho e cavamos", disse um parente, Halil Savadi, contando o momento em que procuravam pela família entre as ruínas, à agência de notícias AFP. "Removemos os escombros e encontramos a pequena, louvado seja Deus", comemorou. "Cortamos o cordão umbilical, e meu primo levou a bebê para o hospital", disse.
Um vídeo circulou na internet mostrando um homem em meio aos escombros segurando a menina nua e coberta de poeira com os restos de seu cordão umbilical ainda pendurados na barriga. Diante das baixas temperaturas, alguém traz um cobertor para envolver a recém-nascida, que foi levado para um hospital na cidade vizinha de Afrin.
Lá a pequena foi colocada em uma incubadora e recebeu infusões de vitaminas. "Ela foi trazida com os membros rígidos por causa do frio, e sua pressão arterial havia caído", disse à AFP o médico Hani Maaruf. "Fornecemos os primeiros socorros e aplicamos soros porque ela não tomava leite há muito tempo."
md/lf (DPA, AP, Reuters)