"Traidor do povo" é a despalavra alemã de 2016
10 de janeiro de 2017Volksverräter , "traidor do povo", é a "despalavra alemã" de 2016, anunciou nesta terça-feira (10/01) a linguista Nina Janich, porta-voz do júri responsável pela escolha, em Darmstadt. A palavra, justificou, é um "legado de ditaduras, entre elas a nacional-socialista". Segundo ela, quando usada como crítica a políticos, é uma palavra difamatória que sufoca discussões necessárias para a manutenção da democracia.
A palavra foi usada, por exemplo, em agosto do ano passado contra o ministro alemão da Economia e vice-chanceler alemão, o social-democrata Sigmar Gabriel. Em resposta aos manifestantes de direita, ele mostrou o controverso dedo médio.
O termo Volksverrat (traição ao povo) ganhou importância na linguagem dos nazistas. Ele surgiu depois da Primeira Guerra Mundial no linguajar da extrema direita para se referir aos democratas que defendiam a República de Weimar. Ao tomarem o poder, os nazistas tornaram a "traição ao povo" punível através do código penal.
Hoje em dia, o termo é usado na retórica do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) e pelo movimento populista de direita Pegida.
Um júri independente, formado por linguistas e um jornalista, escolheu a palavra entre 1.064 sugestões enviadas, das quais 60 correspondiam aos critérios de "despalavra". Grande parte das colaborações sugeria uma linguagem difamatória em relação a migração e refugiados, disse Janich.
A "despalavra do ano" é escolhida desde 1991. A intenção do júri é "desenvolver a sensibilidade para o idioma e chamar a atenção para formulações sem nexo ou desumanas no linguajar público e incentivar a reflexão crítica na linguagem cotidiana."
Da mesma forma, é escolhida uma "Palavra do Ano". Em 2016, foi postfaktisch (pós-factual).
As "despalavras" dos últimos anos:
2015 - Gutmensch– "gente boazinha"
2014 - Lügenpresse– "imprensa da mentira"
2013 – Sozialtourismus– "turismo social"
RW/dpa/epd