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"Traidor do povo" é a despalavra alemã de 2016

10 de janeiro de 2017

Legado de ditaduras, quando usada contra políticos expressão é difamatória e sufoca a democracia, justifica o júri. A "despalavra" é escolhida há 26 anos e seu objetivo é chamar a atenção para o uso consciente do idioma.

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Unwort des Jahres 2016 Volksverräter
Foto: picture-alliance/Eibner-Pressefoto

Volksverräter , "traidor do povo", é a "despalavra alemã" de 2016, anunciou nesta terça-feira (10/01) a linguista Nina Janich, porta-voz do júri responsável pela escolha, em Darmstadt. A palavra, justificou, é um "legado de ditaduras, entre elas a nacional-socialista". Segundo ela, quando usada como crítica a políticos, é uma palavra difamatória que sufoca discussões necessárias para a manutenção da democracia.

A palavra foi usada, por exemplo, em agosto do ano passado contra o ministro alemão da Economia e vice-chanceler alemão, o social-democrata Sigmar Gabriel. Em resposta aos manifestantes de direita, ele mostrou o controverso dedo médio.

O termo Volksverrat (traição ao povo) ganhou importância na linguagem dos nazistas. Ele surgiu depois da Primeira Guerra Mundial no linguajar da extrema direita para se referir aos democratas que defendiam a República de Weimar. Ao tomarem o poder, os nazistas tornaram a "traição ao povo" punível através do código penal. 

Deutschland Gutmensch PK Unwort des Jahres 2015
Nina Janich faz parte do júri que escolhe a "despalavra"Foto: picture-alliance/dpa/F. Rumpenhorst

Hoje em dia, o termo é usado na retórica do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) e pelo movimento populista de direita Pegida.

Um júri independente, formado por linguistas e um jornalista, escolheu a palavra entre 1.064 sugestões enviadas, das quais 60 correspondiam aos critérios de "despalavra". Grande parte das colaborações sugeria uma linguagem difamatória em relação a migração e refugiados, disse Janich.

A "despalavra do ano" é escolhida desde 1991. A intenção do júri é "desenvolver a sensibilidade para o idioma e chamar a atenção para formulações sem nexo ou desumanas no linguajar público e incentivar a reflexão crítica na linguagem cotidiana."

Da mesma forma, é escolhida uma "Palavra do Ano". Em 2016, foi postfaktisch  (pós-factual).

As "despalavras" dos últimos anos:

2015 - Gutmensch– "gente boazinha"

2014 - Lügenpresse– "imprensa da mentira"

2013 – Sozialtourismus"turismo social"

RW/dpa/epd