Tragédia ainda está viva na memória dos nova-iorquinos
5 de setembro de 2006Gary, psicoterapeuta na Broadway
É impossível descrever esse sentimento. É sempre muito sofrido seguir trabalhando com pessoas que ainda estão sofrendo e tentando lidar com o que aconteceu naquele dia. Há momentos em que percebo que as pessoas conseguiram seguir adiante; em outros momentos, sinto que não. A cada 11 de setembro essas experiências podem voltar de maneira intensa. Todos os que caminham nas proximidades de onde ficava o World Trade Center podem perceber claramente essas oscilações. Normalmente tem-se a impressão de que as pessoas que vivem depois da 14th Street têm um sentido mais apurado de como foi o 11 de setembro e são mais resistentes a fazer comentários a respeito dos atentados. Quem esteve aqui em meio à fumaça e aos escombros tem na cabeça uma vívida memória daquela situação. Eu não caminho com medo e com o sentimento de insegurança, mas sei que os sentidos estão bem mais aguçados. As pessoas estão mais alertas a coisas que aparentam estar fora da normalidade. Isso vai e vem todos os dias, de acordo com o nível de alerta determinado pelas autoridades, de acordo com ruídos mais altos que são ouvidos. Acontecem diversos programas de treinamento de policiais na parte baixa de Manhattan e quando as pessoas vêem a polícia elas não sabem se está havendo uma simulação ou não. Há uma falta de clareza.
David, sapateiro na Broadway
Havia uma grande fila na minha oficina pedindo para usar o telefone porque os celulares não funcionavam. Foi uma experiência terrível. Eu vi fogo, pedaços de corpos... Depois de cinco anos ainda é difícil de lembrar-me de tudo. Naquele dia eu apenas corri. Eu nem mesmo fechei meu estabelecimento. Tudo estava coberto de poeira quando os edifícios caíram. Não houve tempo para fechar as portas. Depois do 11 de setembro, pessoas de todas as partes chegavam à minha oficina, não só de Nova Jersey como de outras regiões, mesmo não precisando de consertar sapatos. Elas vinham simplesmente para me dar apoio e manter-me ocupado. Eu só conseguia ganhar o suficiente para pagar meu aluguel, nada mais. Nesta área havia mais negócios, mas agora ela tornou-se essencialmente residencial. Diversos escritórios e empresas se mudaram depois do 11 de setembro. Apenas agora os negócios começam a se recuperar um pouco. Às vezes tenho medo, especialmente no metrô. Nunca se sabe o que pode acontecer. Quando se chega de metrô em Manhattan, é inevitável pensar em tudo isso. Mas a vida continua.
Carl, ourives em Trinity Place
Foi um dia chocante, algo que jamais era esperado. Eu ainda penso nisso e fico incomodado. Por outro lado, eu me senti muito orgulhoso em ver a resposta não apenas por parte do público em geral como também dos servidores públicos, bombeiros e policiais. Eles estavam dispostos a fazer muito. Havia ainda assim uma ordem, apesar daquele caos. Eles estavam tentando normalizar a situação da melhor forma possível, orientando, apoiando e ajudando as pessoas. Eu estou aqui há 30 anos e conheço muito bem esta área. Perdemos muitas pessoas em virtude deste incidente. Várias empresas se mudaram e tenho travado uma verdadeira luta para trazer meus negócios de volta aos níveis de antes dos atentados. As coisas já melhoraram, mesmo vagarosamente espero que elas continuem melhorando. Tenho um pensamento positivo em relação a isso.
Magali, secretária de consultório médico em Fulton
As pessoas se tornaram mais cuidadosas. Todos estão um pouco paranóicos. Acho que depois de tanto tempo as coisas ficaram um pouco mais tranqüilas. No começo a situação estava muito agitada, as pessoas prestavam atenção a cada ruído ou sirene. Sim, eu me sinto segura atualmente. Mas na verdade eu tento não pensar nisso.
Nancy, proprietária de livraria na Chambers Street
Foi, no mínimo, surreal. Havia um verdadeiro pandemônio nas ruas, as pessoas estavam completamente confusas. No começo ninguém sabia o que estava acontecendo. Quando a primeira torre desabou, pessoas ainda estavam nas ruas e elas não sabiam o que fazer. Todos simplesmente corriam na direção norte. Nós estávamos na livraria nesse momento, somos uma livraria universitária e era época de volta às aulas. Chegou um momento em que tivemos que fechar as portas e também correr para o norte, a situação estava insuportável devido à poeira e à fumaça por todas as partes. Conseguimos reabrir os negócios na primeira semana de outubro, mas vários estabelecimentos vizinhos jamais conseguiram se recuperar. Desde então nossos negócios não cresceram, houve sim uma leve queda. Acho que as pessoas não estão tão abertas como costumavam ser. Na verdade, os nova-iorquinos nunca foram muito abertos. Mas eles estão ainda mais cautelosos uns com os outros. Não vejo as pessoas sorrirem tanto. É um comportamento diferente, um temperamento diferente. Isso pode acontecer em qualquer lugar, é preciso estar ciente disso.