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Ter pele mais escura é ser suspeito?

(ds / av)2 de agosto de 2005

Após os atentados em Londres, certos grupos étnicos são revistados com extrema freqüência. Ingleses de pele escura estão expostos a suspeita constante e generalizada, o que altera suas vidas.

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Policial revista passageiro no metrô londrinoFoto: dpa-Report

A mensagem do diretor da polícia britânica responsável pela fiscalização dos meios de transporte foi inequívoca: "Não devemos perder tempo revistando velhas senhoras brancas", declarou Ian Johnston numa entrevista. Para evitar futuros atentados a bomba, após as explosões de 7 de julho em Londres, as revistas devem ser intensificadas, concentrando-se em pessoas potencialmente envolvidas, explicou Johnston.

Um porta-voz do órgão policial, que é também responsável pelo metrô londrino, admitiu: "A medida pode parecer exagerada em se tratando de determinados grupos étnicos". Porém os agentes contam com o apoio incondicional da secretária do Ministério do Interior, Hazel Blears: "A polícia age absolutamente de forma correta", afirmou. Fato que qualquer "pessoa decente" também aceitará.

Inocentes sob a mira antiterrorista

Shami Chakrabarti, diretora da organização pelos direitos humanos Liberty, observa a questão de outro ponto de vista: "Essa política reforçará o sentimentos dos jovens negros e orientais de serem desprovidos de direitos". Além disso, a medida prejudicaria o próprio combate ao terrorismo: "Não se explica aos grupos terroristas que tipo de pessoas estão na mira. Se a polícia se concentrar em determinados perfis étnicos, os grupos podem simplesmente mobilizar pessoas que não correspondem a esse perfil".

Na opinião de Gargi Battacharyya, socióloga da Universidade de Birmingham, trata-se de um duvidoso jogo de roleta: "A decisão baseia-se na cor da pele, sem que se saiba se a pessoa é muçulmana, hindu ou sikh". Por outro lado, muitos muçulmanos brancos, atualmente uma camada significativa, passam pelo crivo. E em Londres, esse método de decisão seria especialmente inútil: "Lá quase a metade da população tem pele escura".

O caso Menezes

Die vier mutmaßlichen Attentäter von London
Os quatro supostos terroristas de Londres – Fotos divulgadas pela Scotland Yard em 22 de julho de 2005Foto: SO

A socióloga lembra que a seleção pela aparência apenas aumenta a insegurança entre as minorias, já abalada desde os atentados: "Para os rapazes do Sul da Ásia e do Oriente Médio o dia-a-dia alterou-se totalmente, pois são percebidos por muitos como uma ameaça".

Tanto maior foi o choque quando os policiais londrinos assassinaram o brasileiro Jean Charles de Menezes, de 27 anos, com oito tiros, por pensarem tratar-se de um homem-bomba: "Muitos viram no fato um sinal de que qualquer um de nós pode ser fuzilado em plena rua".

Após o trágico engano, a polícia divulgou fotos dos supostos autores dos atentados, extremamente desfocadas e podendo representar pessoas com aparências as mais distintas: "Todos de pele um pouco mais escura pensaram: 'Esse aí na foto poderia ser eu'", critica Battacharyya.

Semear insegurança entre os terroristas?

Rolf Tophoven
Especialista em terrorismo Rolf TophovenFoto: dpa

O especialista alemão em terrorismo Rolf Tophoven, em contrapartida, considera justificável o controle concentrado de certos grupos étnicos. Ele lembra que os homens detidos após os atentados frustrados de 21 de julho eram de origem paquistanesa e africana.

"É compreensível as autoridades de segurança tentarem pressionar etnias que constituem território e abrigo potencial para terroristas", afirma Tophoven. As operações de stop-and-search (detenção e revista) poderiam semear insegurança nos meios terroristas, suscitando movimentos que facilitem a captura, especula o perito.

Aproximação ambivalente

"Entre os muçulmanos reina grande mal-estar", afirma Shenaz Yusuf, do Conselho dos Muçulmanos da Inglaterra. Como se não bastasse a política de atirar para matar, defendida pela polícia, houve um aumento radical dos ataques racistas. Desde a primeira série de detonações, em 7 de julho, houve entre 800 e 1100 agressões por motivos raciais no país. A Comissão Islâmica de Direitos Humanos registrou uma multiplicação por 13, em relação aos números usais.

Pelo menos a polícia assegurou que investigará seriamente esses casos: "De forma geral, o modo como agiu a polícia após os atentados foi bastante tranqüilizador", relativiza Yusuf. Por exemplo, visitando as mesquitas, a chefia da polícia tentou evitar um sentimento de marginalização da comunidade islâmica.

Gargi Battacharyya concorda que as autoridades britânicas têm sido bastante respeitosas ao tratar da questão: "Elas reconhecem que tensões entre grupos étnicos poderiam alterar a vida na Inglaterra de forma catastrófica". Por outro lado, o fato de um chefe de polícia visitar uma mesquita, ou de Tony Blair convidar um clérico islâmico, representa uma certa ambivalência: "É também uma forma de dizer: 'Os terroristas são gente sua, dêem um jeito nisso", aponta a socióloga.