200 anos da 'Teoria das Cores'
25 de agosto de 2010Em Wetzlar an der Lahn, no centro-oeste da Alemanha, o jovem Wolfgang von Goethe, nos idos de 1772, foi aconselhado por seu pai a fazer um estágio na área jurídica na Câmara da Corte Imperial. No entanto, em vez de se dedicar à árida jurisprudência, ele se apaixonou perdidamente por Charlotte Buff, uma mulher já comprometida.
Essa paixão serviu de inspiração para um livro que viria a ser publicado dois anos depois: Os Sofrimentos do Jovem Werther. Esse episódio tornou Wetzlar a terceira cidade de Goethe, ao lado de Frankfurt e Weimar.
No idílico centro histórico de Wetzlar, atores amadores estão, no momento, celebrando a memória de Goethe, sobretudo a comemoração dos 200 anos de publicação de uma obra que o escritor talvez apreciasse mais do que toda a sua produção literária: a Teoria das Cores (Zur Farbenlehre).
Durante sua estadia em Roma, Goethe descobriu seu amor pelas cores. Ele consultou os pintores com os quais convivia na época para saber como nasciam as sombras de cores em suas pinturas. Não conseguindo obter nenhuma resposta por essa via, Goethe iniciou suas próprias investigações. Os resultados culminaram na obra Teoria das Cores, publicada em 1810.
"Trata-se de um livro no qual Goethe trabalhou durante décadas, assim como em Fausto", explica Oliver Meyer-Ellendt, que está encenando na cidade de Wetzlar a peça Seres das cores no encalço de Goethe, a fim de transmitir de forma lúdica as reflexões goetheanas aos espectadores interessados. "Esta é a sua mais abrangente obra, com a qual ele mantinha o mais forte vínculo pessoal. É um livro praticamente não lido", acrescenta ele.
Goethe versus Newton
Em sua peça, Meyer-Ellendt conduz os espectadores por estações da vida e da época em que Goethe viveu, através do centro histórico de Wetzlar, recapitulando os anos em que o escritor se dedicou ao tema das cores.
Em 17 de maio de 1798, Goethe pegou emprestado um prisma, a fim de observar a passagem da luz e sua projeção sobre uma parede branca recém-pintada, na expectativa de ver o facho se decompor em todas as cores do arco-íris. Isso era o que prometia a teoria de Isaac Newton, acatada por todos na época; segundo o cientista inglês, a luz do sol poderia ser decomposta em diferentes cores constituintes.
Goethe não seria Goethe se não tivesse concluído, através de seu pequeno experimento, que o grande Newton estava equivocado. E no momento em que apresenta essa conclusão, o ator pergunta aos espectadores: "Que equívoco o desse sujeito! Então a pura luz branca encerra em si todas as cores? Que disparate! Como isso seria possível, considerando que cada uma das cores já é mais escura que a luz branca?"
Em seu estudo sobre a essência das cores, Goethe chegou a conclusões bem diferentes das de Newton, que também são mencionadas na peça de teatro apresentada em Wetzlar. Para Goethe, as cores surgiam da interação de luz e escuridão. Essa tese é apresentada com toda minúcia em sua Teoria das Cores.
Cores e a percepção humana
Uma outra parte das investigações de Goethe consiste de observações informais sobre o efeito das diferentes cores sobre seres humanos. Goethe se refere ao "efeito sensorial-moral das cores". Nesse ponto, ele também se distingue claramente de Newton, cuja propagada concepção das cores limitava tais qualidades ao âmbito meramente subjetivo. Já o pesquisador e escritor alemão priorizou a percepção humana em suas investigações.
A peça apresentada em Wetzlar também se refere ao famoso círculo das cores de Goethe e deixa as atrizes divagarem sobre a essência das mesmas: "Se você observar uma paisagem em dias cinzentos de inverno, através de um vidro amarelo, vai sentir os seus olhos e o seu ânimo se alegrarem; se observar a mesma paisagem sob uma luz verde, seus olhos vão relaxar e se tranquilizar".
Wetzlar planeja uma exposição
Em rigor, as ideias de Goethe e de Newton ficam evidentemente aquém das atuais investigações científicas. De acordo com as conclusões da física quântica, a luz não é composta de partículas, mas representa algo unitário, total.
Wetzlar, uma cidade associada à Óptica por sediar desde o século 19 grandes empresas como a Leitz ou a Hensoldt, pretende documentar o histórico da teoria das cores e suas controvérsias. Por ocasião dos 200 anos da Teoria de Goethe, a cidade vai inaugurar em novembro próximo a exposição Íris e a Invenção das Cores, reunindo peças raras associadas ao tema.
"A mostra incluirá diversas gravuras e livros históricos, inclusive os chamados manuais de tintura, nos quais são descritas as misturas químicas ou naturais de cores, assim como atlas de pigmentos, nomenclaturas de cores, entre outros", explica a curadora Anja Eichler.
Até o fim de agosto, a Teoria das Cores de Goethe poderá ser testemunhada de forma lúdica e viva. Esse trajeto pelo centro histórico de Wetzlar prova que visitas turísticas guiadas não precisam ser entediantes.
Autor: Daniel Scheschkewitz (sl)
Revisão: Soraia Vilela