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Surfe, esqui e turismo na Coreia do Norte

Esther Felden (av)16 de fevereiro de 2016

Cada vez mais pessoas escolhem o país como destino de férias. Mas, para se divertir, é preciso lidar com vigilância constante - e com o dilema de estar dando dinheiro para uma das ditaduras mais ferrenhas do mundo.

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Praias na costa leste da Coreia do Norte são apreciadas por surfistas de muitas nacionalidadesFoto: www.surfnorthkorea.com

Viajar é uma paixão para o alemão Markos Kern, de 33 anos, que participou de uma viagem em grupo à Coreia do Norte pela primeira vez em junho de 2015. Ele sempre quisera visitar o Estado comunista, um dos mais isolados do mundo, e ver com seus próprios olhos o país sobre o qual tinha escutado e lido tantas coisas negativas.

Kern conta que não ignorava a situação dos direitos humanos na Coreia do Norte antes de embarcar na aventura, e que não teria como ignorar esse aspecto. "Mas também fazemos negócios com países onde acontecem coisas terríveis. Não conheço ninguém que diga: 'Não vou à China, porque lá se violam os direitos humanos.'"

Por outro lado, mesmo só indo visitar o país com fins turísticos, ele prometera a si mesmo que suspenderia a viagem, caso se deparasse com violações graves dos direitos humanos.

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Líderes Kim Il Sung eKim Jong Il: sorriso sobre a república comunista asiáticaFoto: www.kerninnovations.com

Sem contato com a população

Organizar a empreitada foi fácil para o proprietário de uma consultoria de empresas em Munique, que recebeu o visto poucos dias depois de apresentar o requerimento.

Ele conta que na república comunista os turistas são sempre acompanhados por um guia, não sendo permitido circularem livremente. O que não impede Kern de resumir assim suas impressões:

"Minha experiência com a Coreia do Norte foi muito agradável. Ela teve um encanto extremo sobre mim, porque é diferente de qualquer coisa que a gente conheça", explica.

Mesmo só tendo conhecido uma pequena parte do país e apesar de a interação com os habitantes ter sido mínima, a paisagem e a população local o fascinaram.

"Como turista normal, a pessoa conhece o seu guia, e talvez fale um pouquinho, aqui e ali, com o garçom ou com a senhora da recepção. Mas há muito poucas situações de contato próximo."

Surfe e esqui numa ditadura

Markos Kern afirma que nunca teve motivos para se sentir inseguro: "É preciso simplesmente conhecer as regras, que incluem nunca deixar o hotel sozinho nem fotografar militares, e obedecê-las." Desde a excursão no verão de 2015, ele já retornou à República Democrática duas vezes, porém não como turista comum, mas na qualidade de parceiro da Uri Tours.

A certeza de que o país asiático pode ser um local divertido é tão profunda, que sua Kern Innovations está trabalhando junto à agência de turismo americana para expandir dois novos ramos na Coreia do Norte: surfe na costa leste e esqui na estação de luxo do Monte Masik, na região norte.

A empresa tem programadas para 2016 diversas viagens às praias e montanhas locais, nas quais, espera Kern, haverá finalmente a possibilidade de interagir com os norte-coreanos. "Surfando, a gente fica sempre várias horas junto na água e, mesmo que haja uma barreira da língua, se cria, ainda assim, um tipo de contato humano", aposta.

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Estação de esqui Masik-Ryong foi construída segundo padrões internacionais de qualidadeFoto: www.skinorthkorea.com

E os direitos humanos?

A cada ano, milhares de turistas já escolhem Coreia do Norte como destino. Mas será ético oferecer viagens turísticas no reino isolado do ditador Kim Jong-un, notório por suas sistemáticas violações dos direitos humanos?

"Nós acreditamos firmemente que o turismo é capaz de trazer mais compreensão mútua e paz entre a Coreia do Norte e a comunidade internacional", é a resposta de Andrea Lee, cofundadora e diretora da Uri Tours.

A maioria de seus clientes é proveniente dos Estados Unidos, cujo governo permanece crítico quanto a viagens à nação comunista.

"O Departamento de Estado dos EUA desaconselha todos os cidadãos americanos a viajarem à Coreia do Norte", frisa o site. "Visitantes estrangeiros podem ser presos ou deportados da Coreia do Norte por coisas que não contariam como atos criminosos em outros países."

Na contramão das autoridades em Washington, Rubio Chan, fundador da empresa turística Eastern Vision, baseada em Hong Kong, insiste na necessidade de intensificar o contato direto com os cidadãos norte-coreanos, a fim de reduzir os temores e preconceitos recíprocos.

"Isolar a Coreia do Norte não vai resolver a questão", afirma o operador de turismo.