Sloterdijk sugere mudança individual em era de crise global
15 de maio de 2009Em 700 páginas, o volume Du musst dein Leben ändern (Você precisa mudar sua vida) oferece variações do apelo contido no título, que chega a soar como um manual de autoajuda. Essa parece ser a razão pela qual esse livro sofisticado acabou chegando às listas de bestsellers. Mas se há de se defender Sloterdijk contra alguma coisa, certamente será contra esse tipo de acusação. Você precisa mudar sua vida é uma prova de força que passa pela história das ciências humanas no Oriente e no Ocidente.
Não mude o mundo, mas a si mesmo mesmo – quem imaginar aqui um Marx às avessas muito se engana. "Os filósofos apenas interpretaram o mundo, cada um à sua maneira; resta modificá-lo", reza a famosa 11ª tese de Marx sobre Feuerbach.
Porém, esse caminho não levou a nada, opina Sloterdijk. Com a Revolução Francesa ou com a Revolução Russa, a Modernidade – em vez de trazer mudanças – trouxe com frequência somente repressão e um sofrimento incomensurável.
A voz da Idade Antiga
Quando a mudança do mundo exterior chega ao limite, talvez ajude dar uma olhada para trás. Por isso, Sloterdijk busca uma solução na Idade Antiga, encontrando-a nos filósofos gregos, bem como nos gurus indianos, ou então em Um artista da fome, de Kafka, ou nos técnicos de futebol.
Você tem que mudar sua vida é um apelo que chega ao homem moderno vindo do passado mais longínquo. Rilke foi o primeiro a ouvi-lo, para depois abordá-lo em seu poema "Archaischer Torso Apolls" (O torso arcaico de Apolo). No Louvre, em Paris, estão expostos os restos dessa escultura divina, sem cabeça nem membros. Apesar da mutilação, o torso antigo mantém a autoridade de construir "uma mensagem que lança um apelo de dentro de si mesma". Ou como formula lacônico Sloterdijk: "A intensidade vence a perfeição padronizada".
Acima, ao cume
Você tem que mudar sua vida é, além disso, um "imperativo absoluto", mais totalitário ainda que o imperativo categórico kantiano e, no final das contas, cerne de todo o pensamento e a ação religiosos. Mas quem quiser mudar a si mesmo, precisa se esforçar. Sloterdijk opta, contudo, pelo conceito um tanto antiquado do "exercício", pois está menos preocupado com a transformação dos produtos do que com a metamorfose de si mesmo.
Assim, ele sai em busca daqueles que praticaram exercícios neste mundo, para encontrá-los por todos os lados: por trás dos muros dos conventos ou na cama de um faquir – hoje, no entanto, quase somente em esportes altamente especializados. Sloterdijk define como "tensão vertical" o impulso humano de superar a si mesmo e, a partir de uma base relativamente confortável, galgar até o topo.
As principais testemunhas para Sloterdijk são, acima de tudo, Nietzsche e Foucault. Nietzsche combina perfeitamente com a "tensão vertical", pois seu Zaratustra define o ser humano como a corda "estendida entre o animal e o Übermensch (super-homem)".
Foucault é uma referência de Sloterdijk por sempre ter estabelecido relações entre o exercício, a disciplina e o desenvolvimento humano. Segundo o filósofo francês, não se pode libertar o indivíduo sem adestrá-lo.
A crise fala
Mas por que eu deveria mudar a mim mesmo? Quem, por acaso, tem o direito, a autoridade de falar assim comigo? Segundo Sloterdijk, é a própria crise que está falando, seja ela econômica, cultural, moral ou ecológica.
Quando banqueiros, com cobiça desenfreada, aniquilam somas bilionárias; quando incontáveis pessoas associam a palavra cultura a redes privadas de TV e o termo prazer a um hambúrguer; quando estamos prestes a destruir os fundamentos da vida neste planeta, então, finalmente chegou a hora de cada um de nós tomar uma atitude. O que Sloterdijk quer de nós é que aceitemos exercitar diariamente os bons costumes de uma sobrevivência comum.
Aqui termina o livro e aqui somos deixados sozinhos. Segundo Sloterdijk, não há nenhuma prescrição divina, nenhuma utopia terrena universal que nos diga o que é certo e o que é errado. Os 200 anos de Esclarecimento e um período igualmente longo de crítica ideológica deixaram rastros aqui. Não recebemos nenhuma solução de bandeja. Mas, para muitos, bastaria simplesmente levantar do sofá.