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'Caritas in Veritate'

8 de julho de 2009

Enquanto a Conferência de Bispos Alemães elogiou a encíclica que cobra valores éticos na economia como avanço da doutrina social católica, para a ONG Attac, a Igreja Católica perdeu a visão das injustiças econômicas.

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Bento 16 assina a encíclica no VaticanoFoto: picture alliance/dpa

O papa Bento 16 exigiu em sua nova encíclica uma nova ordem financeira mundial em consequência da crise econômica. Divulgada nesta terça-feira (07/07), um dia antes do início da conferência de cúpula do G8 na Itália, o documento Caritas in Veritate (Caridade na Verdade) exige uma ordem econômica baseada em fundamentos éticos, comprometida com princípios de caridade e solidariedade, e orientada para o bem comum, em resposta à globalização.

Bento 16 cobrou um ordenamento político, jurídico e econômico que incremente e guie a colaboração internacional para o desenvolvimento solidário de todos os povos. "Para o governo da economia mundial, para sanar as economias atingidas pela crise de modo a prevenir o agravamento da mesma e em consequência maiores desequilíbrios, para realizar um desarmamento oportuno e integral, para garantir a segurança alimentar e a paz, salvaguardar o ambiente e regulamentar os fluxos migratórios, urge a presença de uma verdadeira autoridade política mundial", consta do texto.

Papst Benedikt unterzeichnet Enzylika
Foto: picture alliance/dpa

Católicos elogiam, protestantes silenciam

A Conferência de Bispos Alemães elogiou a encíclica como sendo um passo significativo para o progresso da doutrina social católica e uma contribuição decisiva para o atual debate sobre globalização e justiça. "O momento da publicação, um dia antes da cúpula do G8, ressalta a urgência da demanda", disse seu presidente Robert Zollitsch, arcebispo de Freiburg.

Segundo ele, o papa não apenas apela aos responsáveis nas principais nações industrializadas a encarar os desafios atuais com coragem e sem esquecer os fundamentos éticos essenciais, mas também encoraja todos os indivíduos a contribuir de boa vontade. "Ele exige de todos uma mudança de pensamento", esclareceu Zollitsch.

A Igreja Evangélica da Alemanha optou por não se posicionar oficialmente sobre a nova encíclica, devido ao "bom costume" entre as confissões de não fazer comentários mutuamente. No entanto, um porta-voz salientou que há claras semelhanças entre as teses do papa e um documento publicado na semana passada pela Igreja Evangélica.

Attac critica falta de visão

A Confederação Alemã de Sindicatos (DGB) viu confirmadas pela encíclica papal suas reivindicações por um maior controle dos fluxos globais de capital. Segundo seu presidente, Michael Sommer, também a DGB se empenha em combinar uma economia sustentável com estruturas sólidas de cooperação entre instituições internacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Banco Mundial.

Tons críticos partiram da organização não governamental Attac. "Infelizmente, a Igreja Católica Apostólica Romana há décadas perdeu de vista as necessárias reformas de estruturas econômicas injustas", disse um porta-voz da ONG.

"Se não viessem do papa, reflexões seriam de esquerda"

Para o jornal Tagesspiegel, de Berlim, "o papa é melhor quando se expressa por escrito. Bene dicere... e bem dito é o que consta de sua encíclica, 24 horas antes da cúpula do G8 na Itália, o que não é coincidência. (...) Notável sua sugestão de criar uma autoridade mundial a fim de limitar a economia através de moral e ética. Fica em aberto se o papa pensou em uma nova instituição ou no desenvolvimento da OMC. (...) Surpreendentes suas idéias sobre novas formas de ação na economia de mercado: que não haja empresas internacionais que apenas visem lucros, mas também outras, de utilidade pública. Se tais reflexões, com suas críticas fundamentais ao capitalismo, não viessem do papa, elas seriam de esquerda".

Já o Süddeutsche Zeitung, de Munique, considerou a encíclica uma decepção: "Falta nela o potencial visionário que Paulo 6º desenvolveu em sua encíclica social Populorum progressio e a intensidade profética dos escritos de João Paulo 2º numa época em que ambas [qualidades] seriam essenciais como há muito tempo não o são. (...) Ser alheio ao mundo, não correr atrás de qualquer modismo, é uma posição que cabe às igrejas cristãs e, com isso, também ao papa. (...) Mas os limites deste papa apolítico se tornam cada vez mais visíveis. Como agora, quando palavras sobre as novidades deste mundo seriam essenciais, o que saiu foi uma cópia fraca de coisas que já foram ditas."

RR/ap/kna/afp/

Revisão: Roselaine Wandscheer