Sinal verde na briga por símbolo de Berlim
17 de junho de 2005
Em Berlim, não há quem não o conheça. Símbolo do lado oriental da cidade, a figura verde que orienta os pedestres está espalhada pelas esquinas dos antigos bairros comunistas e começa a ser usada também nos sinais do lado ocidental. Os berlinenses têm especial simpatia pelo homenzinho do semáforo, o Ampelmännchen, o que faz dele um dos poucos símbolos da antiga Alemanha Oriental a ser bem aceito em toda capital.
Essa simpatia se traduz em dinheiro. Com a queda do Muro, o Ampelmännchen passou a ser visto também em canecas, camisetas, bolsas e bijuterias, artigos muito procurados pelos visitantes que passam por Berlim e encontráveis perto de qualquer ponto turístico. Um negócio que movimenta dois milhões de euros por ano e que levou à justiça dois empresários detentores de direitos de comercialização.
Homenzinho verde terá companhia feminina
Foi o designer de Tübingen Markus Heckhausen quem levou o caso aos tribunais alemães. Ele acusou o seu concorrente, o engenheiro de Zwickau Joachim Rossberg, de não fazer o devido uso dos direitos que havia registrado para a marca e que portanto eles estariam prescritos.
Pela argumentação do designer, Rossberg tem se ocupado apenas da fabricação de semáforos e não faz uso dos direitos sobre outros produtos. O engenheiro nega. Ele afirma comercializar a marca ainda nos tempos da Alemanha Oriental e que a usa em outros produtos, como camisetas.
Heckhausen também registrou direitos da marca em 1997, após assinar um contrato com o criador da figura, o psicólogo Karl Peglau. Na Alemanha, as licenças são concedidas para classes de produtos, e os escritórios patenteadores não verificam se elas já estão registradas. Isso faz com que possa haver sobreposição de direitos.
O acordo que selou a paz entre o designer e o engenheiro envolveu uma troca de direitos e um novo símbolo: a Ampelmädchen, versão feminina do sinal de semáforo, já utilizada em Dresden e Zwickau. Num acordo amigável, ficou basicamente acertado que Heckhausen terá os direitos sobre a versão masculina, e Rossberg, sobre a feminina. Os detalhes serão negociados pelos advogados nas próximas semanas. Ambas as partes se mostraram satisfeitas com o acerto.
Batalha entre Ossis e Wessis
O engenheiro é dono de uma empresa que fabrica semáforos na cidade de Zwickau, o que ele já fazia nos tempos da Alemanha Oriental. Sua principal fonte de renda é o fornecimento de semáforos para canteiros de obras. Rossberg ainda ganha um dinheiro extra vendendo camisetas, canecas e uma cachaça com a marca do Ampelmännchen, o que lhe rende 50 mil euros por ano. Ele afirma ter criado a versão feminina da famosa figura.
Já o designer Heckhausen se mudou para Berlim após a queda do Muro. Ao perceber o amor dos berlinenses pela figura, teve a idéia de registrar os direitos, que lhe foram concedidos em 1997. De posse deles, Heckhausen fundou sua empresa e entupiu as lojas da cidade com artigos exibindo o homenzinho verde. Hoje, fatura dois milhões de euros por ano.
A batalha entre os dois ganhou o noticiário local e foi interpretada por muitos alemães como um conflito entre um Wessi (ocidental) e um Ossi (oriental) em torno de um símbolo da Alemanha Oriental. Heckhausen, o ocidental, chegou a ser xingado por isso.
Idéia foi de um psicólogo
Nenhum dos dois, porém, criou o símbolo. A idéia foi do psicólogo Karl Peglau. Até 1961, os cruzamentos da Alemanha Oriental tinham semáforos semelhantes aos de várias cidades do mundo, com círculos vermelho e verde. Mas os alemães não os levavam a sério, e acidentes eram freqüentes. O governo incumbiu Peglau de criar figuras que despertassem a simpatia e a confiança da população – foi assim que surgiu o Ampelmännchen, nas suas versões vermelha e verde. Com sucesso. Os acidentes de trânsito diminuíram após ele começar a ser usado.