Setor econômico reage com tranquilidade a resultado eleitoral na Alemanha
25 de setembro de 2013Foi quase nula a reação dos mercados financeiros, na manhã desta segunda-feira (23/09), à presumível reeleição de Angela Merkel. Tanto as bolsas de valores quanto a cotação do euro praticamente não se alteraram. O resultado das urnas já teria sido previsto e "descontado" pelos mercados, disseram os economistas.
Em todo caso, dificuldades nas negociações em torno da coalizão de governo podem vir a afetar a economia. Lastimou-se que o Partido Liberal Democrático (FDP) tenha perdido sua representação no Bundestag (câmara baixa do Parlamento).
Muitos líderes empresariais teriam preferido a permanência do FDP e uma continuação da coalizão entre liberais e conservadores. Em sua opinião, agora estaria faltando não só um partido que sempre esteve muito próximo ao empresariado, mas também um corretivo importante – por exemplo, na política fiscal.
Por exemplo, enquanto em quase todos os demais partidos já se discutia abertamente sobre um imposto sobre transações financeiras, os liberais estiveram até o fim entre os opositores da taxação.
Mas foi justamente essa função corretiva que faltou ao Partido Liberal Democrático nos últimos tempos, aponta Joachim Scheide, chefe da divisão de crescimento e ciclos econômicos no instituto IFW, sediado em Kiel. "O partido não era mais o que deveria ser, ou seja, o corretivo dentro do governo, nos termos da economia de mercado. E por isso, foi punido pelos eleitores", disse à Deutsche Welle.
Continuidade versus segurança de planejamento
Com os partidos agora representados no novo Bundestag, tornou-se mais provável a introdução de um salário mínimo por lei – tema pouco agradável do ponto de vista empresarial e no qual o FDP não mais terá influência. Para Ulrich Grillo, presidente da Confederação da Indústria Alemã (BDI), nos últimos tempos se falou demais de a redistribuição de renda: "Nos últimos meses da campanha eleitoral, falamos muito pouco sobre uma política econômica e industrial direcionada", criticou, em entrevista à TV alemã ARD.
Temas não faltam, prosseguiu Grillo: política energética, impostos, investimentos. A BDI fala em nome de "pelo menos 8 milhões de pessoas empregadas. E elas querem ver crescimento, querem ver mais empregos". Se essas questões forem abordadas com sucesso, "então poderemos redistribuir mais".
Por outro lado, a maior parte dos representantes do setor econômico já está contente de que não tenha ocorrido um temido caos eleitoral, com resultados ambíguos. Pelo contrário: do ponto de vista do empresariado, com a vitória decisiva da União Democrata Cristã (CDU) e da União Social Cristã (CSU), preservou-se um certo grau de continuidade e, portanto, de segurança de planejamento – quaisquer que sejam as coalizões a se formarem.
Também independentemente da nova coalizão de governo, a maioria dos líderes empresariais concorda que, embora seja preciso investir mais na educação e infraestrutura, a última coisa que se deve fazer é aumentar impostos para financiar esses investimentos.
Pedido de novas reformas
Scheide também quer mais reformas no mercado de trabalho e na política previdenciária. Segundo ele, dos programas dos partidos recentemente eleitos, pouco consta a esse respeito. "Então, só podemos esperar que a situação não piore", torce o subdiretor do IFW.
É preferível uma ausência de reformas, a reformas na direção errada, mas: "Na verdade, seria preciso fazer muito mais, pois a médio prazo a situação na Alemanha deverá piorar – ainda que, no momento, não pareça", arremata o economista.
Os meios econômicos respiraram aliviados por o partido eurocético Alternativa para a Alemanha (AfD) não ter conseguido entrar no Bundestag – apesar de seu resultado eleitoral, impressionante para um calouro. Já antes da eleição, diversos líderes empresariais haviam exigido um compromisso claro com a moeda europeia. A entrada dos eurocéticos para o parlamento alemão possivelmente teria desencadeado turbulência e ceticismo nos mercados financeiros, especialmente nos países meridionais da zona do euro.