Servindo de escudo
4 de março de 2003Mais da metade da população alemã acredita que a guerra no Iraque é inevitável. Cerca de 40%, entretanto, ainda acham possível que o conflito seja solucionado sem um confronto armado. Uma dessas pessoas é Jürgen Hanel, 40 anos, que deixou a Alemanha para se unir a pacifistas que estão no Iraque para servir de escudos humanos.
Hanel crê que a simples presença de civis ocidentais no país seja um empecilho e tanto para o exército americano. Afinal, se uma bomba não matar iraquianos e sim cidadãos do Ocidente, isso com certeza irá gerar protestos em todo o mundo.
"Nosso objetivo é claro, queremos evitar a guerra. Mas em caso extremo ficaremos por aqui. Quer dizer, as bombas também cairão sobre nossas cabeças. Mais importante, porém, é a vida das 25 milhões de pessoas no Iraque", justificou Hanel.
Os escudos humanos que estão no Iraque não passaram desapercebidos ao secretário de Defesa norte-americano, Donald Rumsfeld. Na quarta-feira passada (27/02), ele disse que os Estados Unidos não podem garantir pela segurança do grupo.
Rompendo sanções econômicas
Jürgen Hanel é um homem simples que ganha a vida na Alemanha prestando serviços ocasionais como motorista de caminhão ou pedreiro. Para ele, o bem-estar material não é tão importante quanto a preservação da natureza e a manutenção da paz. Sem medo de missões perigosas, Hanel era membro ativo dos movimentos contra a energia atômica e a globalização, até ler uma entrevista com três pacifistas do grupo "Voices of the Widlerness", que relatavam seus esforços em enviar medicamentos e brinquedos para um hospital infantil iraquiano, driblando as sanções econômicas.
A partir desse momento, decidiu aderir ao grupo. Para tanto, procurou se informar sobre o país e fundou uma pequena iniciativa na Universidade de Tübingen para reforçar o envio clandestino de artigos de primeira necessidade ao hospital de Basra, no sul do Iraque.
E-mails para o chanceler
Em janeiro, Hanel fez sua primeira viagem a Bagdá. Depois, ficou três semanas em Amã, capital da Jordânia, à espera de um visto para poder retornar ao Iraque. Nesse meio tempo, escreveu diversos e-mails ao chanceler federal Gerhard Schröder, ao ministro das Relações Exteriores Joschka Fischer e para o presidente da Alemanha, Johannes Rau, informando sobre o movimento.
Nas últimas semanas, Hanel refletiu muito sobre o significado de servir de escudo humano. "É claro que o medo existe e a gente pensa muito no que fazer em caso de perigo. Eu decidi ficar e para isto é preciso se preparar, descobrindo onde ficam os abrigos anti-aéreos mais próximos e levar sempre consigo os comprimidos para desinfetar a água".
Solidariedade com a população
O alemão revelou ainda que os escudos humanos chamam a atenção do governo e da imprensa do Iraque. Ele frisou que o principal objetivo do grupo é prestar solidariedade à população do país. "Para nós, pacifistas, o que importa são as pessoas e não se apoiamos ou repudiamos o regime. Esta, aliás, é uma pergunta que sempre nos fazem". Nesse contexto, Haner questionou por que esta pergunta não é feita também para firmas como a Daimler Benz e construtoras que mantêm escritórios no Iraque.
Os escudos humanos não estão lá para fazer negócios. "Pelo contrário, nós pagamos tudo do nosso bolso, o vôo, tudo. Não seremos reembolsados por isso e se algo sair errado, vamos pagar com nossas vidas".