Seqüestro em Beslan: desfecho trágico
5 de setembro de 2004Depois de passarem dois dias nas mãos dos seqüestradores, os mais de mil reféns que ficaram confinados no ginásio de esportes de uma escola em Beslan, Ossétia do Norte, foram libertados na manhã de sexta-feira (03/09) pelas forças de segurança russas em uma sangrenta operação. No domingo, o número exato de vítimas ainda é desconhecido.
Segundo a agência de notícias russa Interfax, mais de 350 pessoas foram mortas. Entre os que perderam a vida estão crianças, seus pais, professores bem como policiais que participaram da ação de resgate. Há informações de que 30 terroristas russos e estrangeiros que participaram do seqüestro também foram mortos.
Já o número de feridos ultrapassa os 700, dos quais cerca de 200 são crianças. "Estamos operando dia e noite", disse Kasbek Gussov, médico responsável pelo setor de emergência do principal hospital em Vladikavkas, capital da Ossétia do Norte. Ele revelou ainda que o estado de saúde de alguns pacientes é bastante crítico. Os ex-reféns estão sofrendo as conseqüências do confinamento de dois dias em que tiveram que ficar sentados sem água, alimento, ar puro ou qualquer possibilidade de se movimentar.
O presidente russo Vladimir Putin esteve em Beslan no sábado (04/09). Em visita a um grupo de crianças que está sendo atendido em uma clínica local, ele declarou que este ato terrorista se difere dos demais por ter sido praticado contra crianças. Putin ordenou o fechamento das fronteiras na Ossétia do Norte para facilitar a busca dos seqüestradores que conseguiram fugir no tumulto ocorrido durante a ação de resgate.
Exigências em troca da liberdade
Na manhã de quarta-feira (01/09), extremistas chechenos fizeram como reféns todos os que estavam em uma grande escola participando das festividades do primeiro dia de aulas depois das férias de verão. Estima-se que foram mais de 1.200 pessoas, a maioria alunos mas também muitos pais e professores. Os seqüestradores exigiam a retirada das tropas russas da Chechênia e a libertação de presos envolvidos em atividades terroristas na Inguchétia.
Um porta-voz do Serviço de Segurança Federal da Rússia, informou que desde o começo do seqüestro os terroristas tinham um grande estoque de armas, munição e granadas. O arsenal estava escondido no porão da escola e foi levado para lá durante as reformas realizadas no prédio no período das férias escolares.
Invasão não foi planejada
De acordo com as autoridades russas, a invasão dos policiais no ginásio de esportes não havia sido planejada. Depois de algumas explosões dentro do prédio, que inclusive ocasionaram o desmoronamento do teto, os reféns aproveitaram para fugir. Neste momento, os seqüestradores abriram fogo. Os policiais que estavam nas proximidades começaram a atirar na tentativa de defender as vítimas. Alguns moradores armados também participaram da ação.
Tudo ocorreu de forma bastante tumultuada. As imagens captadas pelas câmeras de TV mostram crianças semi despidas e ensangüentadas correndo em busca de abrigo, mães desmaiando e o desespero no rosto dos que conseguiram sair com vida.
O tiroteio durou horas. A força de elite conseguiu entrar no prédio. Sob os escombros, centenas de mortos. A operação de resgate dos corpos é lenta porque os seqüestradores haviam espalhado bombas pelo local. De acordo com a imprensa russa, quatro terroristas foram presos.
Consternação mundial
O desfecho sangrento do seqüestro causou comoção no mundo todo. O chanceler federal da Alemanha, Gerhard Schröder, condenou o ato terrorista ao mesmo tempo em que ofereceu ajuda humanitária ao governo russo.
O ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer, classificou o seqüestro de "ato abominável", frisando que "nada justifica que crianças, bebês e suas mães sejam tomadas como reféns".
Bernard Bot, presidente do Conselho de Ministros da União Européia disse que este seqüestro foi uma "terrível tragédia humana", acentuando que a EU condena toda e qualquer forma de terrorismo. O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, garantiu à Rússia o apoio americano no combate ao terrorismo.