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Sempre diante dos olhos

Jutta Wasserrab11 de janeiro de 2004

Escapando do destino de ser desativada depois da queda do Muro, parece que a Jenoptik AG deu início a seu sucesso com um saneamento radical. Mas no fundo esse sucesso já começou no século 19 com pequenos cacos de vidro.

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Mais que lentes: diodo laser de alta potência da JenoptikFoto: AP

Quem fala da Jenoptik AG também fala de Carl Friedrich Zeiss (1816 – 1888). Foi ele que se encantou pelos caquinhos graduados, pelas lentes ópticas que têm uma potência enorme de diminuir ou aumentar o tamanho real de imagens e objetos.

Uma fórmula que ainda faz falta

Zeiss vivia procurando um método com base teórica para poder produzir a lente de qualidade mais alta possível. Abriu uma oficina de mecânica e óptica em Jena, na Turíngia, aos 30 anos. Ali montava microscópios, com uma vela na mesa, tratando as lentes a mão até que a imagem da vela refletida na lente fosse exata.

Era um homem de princípios: destruía todos os microscópios com um martelo – caso não atingissem a qualidade desejada. E como nos primeiros anos fabricava as lentes dos microscópios sem base teórica mas muito mais pelo método de tentativa e erro, alguns aparelhos não devem ter chegado às mesas de cientistas curiosos.

Com a ajuda do matemático Ernst Abbe achou, afinal, as tão procuradas fórmulas matemáticas para calcular os instrumentos ópticos. Dali em diante as lentes Zeiss não se encontravam apenas em microscópios, mas também em projetores de filmes, máquinas fotográficas, lunetas, binóculos e óculos.

Um produto que ninguém quer

Hoje a Jenoptik é muito mais que as lentes Zeiss. A linha de produção do conglomerado industrial com mais de 20 subsidiárias e cerca de 10 mil funcionários inclui também óptica de alta potência à base de luz, técnicas militares de defesa e tecnologias industriais e prediais, oferecendo soluções para sistemas de calefação e de ventilação ou sistemas sanitários. Por isso, os Aché Laboratórios Farmacêuticos a encarregaram em 2000 de instalar no Brasil uma chamada sala limpa, uma unidade de produção de remédios.

E, todos os dias, comsumidores no mundo inteiro têm em mãos um produto da Jenoptik que nenhum deles jamais compraria: um retrato como prova de excesso da velocidade máxima permitida e junto uma multa para pagar. Radar móvel, radar fixo ou sistemas de pedágio: com um faturamento de 25 milhões de euro por ano, uma subsidiária da Jenoptik é líder mundial na área de sistemas de monitoramento de trânsito.

Em 1997, com a nova legislação de trânsito no Brasil, a empresa brasileira Compuletra, de Porto Alegre, ingressou no mercado de controle eletrônico de velocidade – em parceria com a Jenoptik.

Um sucesso que muitos pagaram

Para muitos alemães seu faturamento de dois bilhões de euros em 2003 serve como prova de que o Leste alemão é capaz de superar a troca da economia planificada pela economia de mercado. Mas a empresa de Jena é das poucas com matriz em terreno outrora comunista, tendo uma política própria, não copiada do Ocidente.

E essa autonomia custou: 16 mil trabalhadores da Jenoptik perderam o emprego com o desmantelamento de grandes partes da empresa depois da queda do Muro – mais que a metade dos empregados todos. Lothar Späth, o ex-governador de Baden-Württemberg e presidente da Jenoptik por 12 anos, foi quem precisou tomar essa decisão. Ele não se arrepende, mas diz: “Se alguém me perguntasse hoje se assumiria a presidência da Jenoptik depois da queda do Muro mais uma vez, diria que não. Até teria medo”.