"Segundo tremor provocou caos e pânico", conta nepalesa
26 de abril de 2015O Nepal foi atingido neste fim de semana por uma grande tragédia causada por dois fortes terremotos que deixaram, até este domingo (26/04), 2,5 mil mortos.
Moradora da capital Katmandu, a jornalista e autora nepalesa Shiwani Neupane falou sobre os tremores que atingiram seu país em entrevista à DW. O segundo terremoto provocou o desabamento de muitas casas que haviam sido somente danificadas no primeiro terremoto, contou Neupane.
A jornalista ressalta que os vilarejos em torno da capital Katmandu foram os principais atingidos, e as pessoas estão cada vez mais receosas.
Neupane é a criadora do website Story of South Asia (História do sul da Ásia) com relatos sobre a região.
Deutsche Welle: Onde as pessoas passaram a noite após o terremoto de 7,8 de magnitude que danificou muitos edifícios no sábado?
Shiwani Neupane: A maioria das pessoas teve de dormir na rua. Muitos enfrentaram o frio da noite em locais públicos, no centro de Katmandu. Outros acamparam em algum lugar ao relento, onde pudessem achar um gramado. Só poucos puderam dormir em suas casas – eu também pude dormir do lado de dentro.
Depois do tremor principal, por volta do meio-dia de sábado, foram registradas mais de 20 réplicas. Que impacto tiveram os novos tremores?
Durante o último tremor secundário, que teve uma magnitude de 6,7, eu estava na rua. Naquele momento, muitas pessoas achavam que o pior já havia passado e que poderiam voltar para as suas casas. Mas quando a terra voltou a tremer tão fortemente, houve pânico e caos. As pessoas, algumas com crianças pequenas, começaram a gritar e correram para espaços abertos. Eles ainda estão acampados lá fora e têm cada vez mais medo de tremores ainda mais fortes.
Os meios de comunicação no Nepal informam que centenas de pessoas podem ter morrido após esse novo tremor secundário, já que houve deslizamentos de terra nas proximidades do epicentro. O "segundo tremor" – como é chamado por muitas pessoas – também destruiu a estrutura de muitos edifícios, causando o desabamento de muitas casas que haviam sido somente danificadas pelo primeiro terremoto.
Como as autoridades responderam ao primeiro tremor de magnitude 7,8?
As autoridades tentam fazer o que podem. Médicos e enfermeiras cuidam de doentes e feridos, trabalhando muitas vezes até a exaustão. No entanto, muitas pessoas ainda estão presas e soterradas nos prédios desabados. Todos aqui são vítimas da catástrofe e a maioria das pessoas quer ajudar primeiramente a família e os amigos.
Quais as maiores dificuldades enfrentadas pelas equipes de busca?
O novo tremor, seus danos e o caos são, no momento, os maiores obstáculos para os voluntários. Muitas ruas foram liberadas novamente, para que as equipes de resgate possam chegar aos feridos e também possam viajar para outras regiões afetadas. Isso não vale para regiões próximas do epicentro, como, por exemplo, Kaski, Gorkha, Lamjung, onde também houve graves danos.
A ajuda internacional já chegou e tem alcançado as pessoas?
A Índia está fazendo grandes esforços, disponibilizando ainda assistência e mantimentos. Aviões e helicópteros aterrissam, trazendo o material de ajuda para o país. Nossos vizinhos indianos também expressaram suas condolências e a simpatia para conosco.
Os danos aqui são muito grandes, principalmente nos vilarejos ao redor de Katmandu. Muita ajuda ainda é necessária nos próximos dias. A pergunta é se ela virá.