Sebastião Salgado apresenta "Genesis" em Berlim
17 de abril de 2015Depois de passar por Brasil, Inglaterra, França, Estados Unidos e Cingapura, é a vez da Alemanha abrigar Genesis, grandioso projeto do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado.
"As pessoas questionam se abandonei meu trabalho social para fotografar a natureza. Mas quero contar essa história da mesma maneira que venho contando histórias minha vida inteira", disse o fotógrafo na abertura à imprensa da mostra fotográfica em Berlim, nesta sexta-feira (17/04).
"Nunca fotografei miséria. Miséria para mim não é a falta de dinheiro ou recursos, mas o isolamento, viver e morrer sozinho", completou.
Genesis é resultado de oito anos de viagens a remotos cantos do planeta. Dividida em cinco núcleos temáticos, a exposição reúne mais de 200 imagens em preto e branco, característica marcante do artista brasileiro. A curadoria é de sua esposa, Lélia Wanick Salgado.
Projeto ambicioso
Partindo da premissa de que 46% da Terra ainda estão intactos como nos primórdios do planeta, Salgado embarcou em 32 jornadas a regiões isoladas. O preto e branco contrastante do trabalho do fotógrafo ganha contornos ainda mais grandiosos nas imagens de cânions, vulcões, geleiras, animais e remotas comunidades indígenas.
"É difícil dizer qual lugar mais me tocou. Foram oito anos da minha vida tendo experiências incríveis. Andei por 850 quilômetros no norte da Etiópia e tive contato com tribos que nunca viram um homem branco, mas têm uma agricultura fantástica", disse Salgado em Berlim.
Genesis é uma homenagem visual ao planeta. Um documento de sua diversidade e riqueza, mas também um veículo poético para alertar as pessoas sobre preciosidades intocadas e sobre a importância de preservá-las.
Homem e mito
Além de exposição e livro, o projeto Genesis também rendeu o documentário O sal da Terra, em que a história de Salgado é contada a partir de dois pontos de vista. O cineasta alemão Wim Wenders retrata o trabalho do brasileiro com a grandiosidade de suas fotografias. Já o filho do fotógrafo, Juliano, apresenta uma versão mais pessoal do homem por trás de famosas e marcantes imagens.
Esses dois lados de Salgado também puderam ser vistos na abertura de Genesis para a imprensa berlinense nesta sexta-feira. O brasileiro foi tratado como grande estrela, sendo cercado por jornalistas, que pediam autógrafos em livros, cartões e pôsteres.
Salgado enfatizou que seus projetos não seriam possíveis sem o grupo de pessoas que neles trabalham. "Vivemos numa sociedade que precisa do nome de uma pessoa para ser uma espécie de herói", disse, descrevendo a si mesmo como apenas a "ponta do iceberg".
Em seu próximo projeto, o fotógrafo vai trabalhar com grupos indígenas na Amazônia, tópico que ele aborda também em Genesis, com imagens dos Zo'é, que habitam o noroeste do Pará.
"Por volta de 13% do território brasileiro é indígena. O agronegócio é muito forte no Brasil, e tem muita gente interessada nessas terras. Mas elas pertencem a todos os brasileiros; os índios tomam conta delas. Temos que protegê-las, em beneficio não só do Brasil, mas de todo o planeta", disse o fotógrafo.
Genesis fica em exposição na capital alemã até 16 de agosto, no C/O Berlim. Paralelamente, a cidade de Colônia trará outro trabalho de Salgado ao país: Terra. O projeto retrata trabalhadores sem terra no Brasil entre 1980 e 1996 e será exibido de 24 de abril a 16 de maio na galeria Labor.