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Sarkozy perde popularidade

Julia Elvers-Guyot (av)24 de agosto de 2007

Pesquisa de opinião revelou que presidente francês perdeu 5% de seus adeptos, em um mês. Ao que tudo indica, populismo e dinamismo não bastam para compensar dificuldades conjunturais e mal-vista aproximação com os EUA.

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Nicolas Sarkozy: a coroa (ainda) na cabeçaFoto: AP

Dentre os franceses, 61% consideram o trabalho do presidente Nicolas Sarkozy "muito" ou "bastante" bom. Esta foi a conclusão de uma pesquisa de opinião do Instituto Ipsos, publicada nesta quinta-feira (23/08) pelo semanário Le Point. O estudo se baseou numa seleção representativa de quase mil votantes em potencial.

Os resultados em favor de Sarkozy são 5% inferiores aos apresentados pelo mesmo instituto em julho último. A porcentagem dos insatisfeitos cresceu de 25% para 30%. "Estarão impacientes os que esperavam uma ruptura mais decisiva com seu antecessor?", especula Le Point.

O jornal Le Parisien acredita que Sarkozy estaria enfrentando as "primeiras turbulências". Perspectivas conjunturais nebulosas poderiam vir a dificultar as reformas planejadas. O periódico não deixa, entretanto, de lembrar que Sarkozy, após cem dias de mandato, ainda apresenta os números mais positivos desde o fundador da República, Charles de Gaulle.

Uma lei para cada problema

Frankreich Präsident Nicolas Sarkozy Familie
A família presidencialFoto: AP

O presidente francês aposta na carta da política interna, como confirmou nesta mesma semana. Um criminoso sexual liberado antecipadamente da prisão violentou um menino de cinco anos. Sarkozy falou em "castração química" e prometeu o endurecimento da legislação contra criminosos sexuais contumazes. Uma promessa desconcertante, já que a mais nova lei a respeito acabou de entrar em vigor há pouco menos de duas semanas.

Este exemplo ilustra o estilo de governo de Sarkozy, afirma Wolfgang Neumann, do Instituto Franco-Alemão de Ludwigsburg (DFI). "Ele é dinâmico, pressiona para a frente. Sua rapidez é o que mais chama a atenção. Para cada assunto discutido na política interna ou externa, ele toma imediatamente uma posição e geralmente já sugere fazer uma lei."

Esse dinamismo poderia ser um dos motivos para a atual popularidade de Nicolas Sarkozy. Durante o recesso de verão, já submeteu diversas reformas ao Parlamento. "A mais importante é certamente a reforma universitária, visando dar maior autonomia às instituições. A segunda é uma reforma do mercado de trabalho, incluindo acabar, de fato, com a jornada semanal de 35 horas na França", relata Neumann.

Novas agitações nos subúrbios?

Uma série de outras leis está prevista. "Sobretudo em relação à imigração, dificultando a reunião da família." O tema agitou os ânimos durante a campanha presidencial, culminando em explosões de violência nos subúrbios, que poderão voltar a eclodir agora. Apesar de tudo a planejada lei de imigração deverá encontrar amplo consenso na França, crê Neumann, uma vez que a sociedade está muito sensível quanto ao tema.

Mesmo assim pode ficar cada vez mais difícil para Sarkozy governar, após os primeiros cem dias. "A competitividade da economia francesa é aparentemente mais reduzida do que o governo tem levado a crer. Também o crescimento é menor do que o divulgado até então", declara Wolfgang Neumann. Agora Paris espera incentivar o crescimento através de incentivos fiscais às pequenas e médias empresas.

O próximo ponto mais importante seriam as mudanças na previdência social, com o fim de reduzir custos, ao lado de uma regulamentação do mercado de trabalho. Esta implicaria que 10 mil postos de trabalho liberados nos próximos anos não seriam preenchidos. "São grandes pacotes que dificilmente serão introduzidos sem resistência de parte da sociedade francesa", antecipa o especialista do DFI.

Oposição nula

Der neue französische Premierminister Francois Fillon und der neue Präsident Nicolas Sarkozy
Premiê Francois Fillon (e) à sombra do presidenteFoto: AP

Com suas exaltadas ingerências em assuntos políticos de toda ordem, na realidade Sarkozy extrapola suas competências. "Quem observa a política da França constata que não há um governo factual, no sentido autônomo do termo", aponta Neumann. "Sempre houve uma prevalência do presidente, porém uma maior reserva em questões do dia-a-dia político."

O que fortalece o presidente é a ausência de uma oposição política real. A única instância digna de nota, o Partido Socialista, encontra-se atualmente em conflito. Importantes funcionários do partido foram incorporados ao governo, o que simplifica a tarefa de Sarkozy.

No colo de Bush

No tocante à política externa, o que mais chama a atenção é a mudança de atitude da França em relação ao Iraque e aos Estados Unidos. "É mais do que simbólico Sarkozy haver passado nos EUA seus 14 dias de férias, acompanhados tão de perto pela mídia. O fato também manifesta uma maior proximidade da política francesa em relação aos norte-americanos, em claro contraste ao antecessor Chirac", analisa Neumann.

Isso é algo que poderá custar mais votos ao presidente. O jornal Le Courier Picard comentou: "O retorno ao colo de George Bush não agradou a todos. No fim das contas, o presidente precisa se apressar, se deseja preservar a própria popularidade."