França
3 de maio de 2007Pouco antes do dia "D", a socialista Ségolène Royal e o conservador Nicolas Sarkozy trocaram, na última quarta-feira (02/05), acusações em duas horas e meia de debate transmitido pela TV francesa, com audiência de milhões de telescpectadores. O debate foi o primeiro dos útlimos dez anos, já que no pleito de 2002 Jacques Chirac se recusou a discutir com o extremista de direita Jean-Marie Le Pen, seu adversário de então no segundo turno.
Acusações mútuas
Para Royal, as promessas de campanha de Sarkozy "não têm confiabilidade", já que o candidato fez parte do atual governo desde 2002 até seu desligamento em função da campanha eleitoral.
A ofensiva de Royal no debate passou por temas como segurança interna, mercado de trabalho, funcionalismo público e política social. Além disso, a candidata socialista acusou seu adversário de ser co-responsável pelo fracasso no combate à violência no país.
Sarkozy, por sua vez, apontou "falta de precisão" nas declarações de Royal e tentou minimizar, em entrevista a uma emissora de rádio, a importância do enfrentamento na TV. "Não acredito que os franceses vão, guiados apenas pelas impressões de duas horas de debate, escolher o presidente que vai governar o país por cinco anos".
Lembranças de 1974
Para os socialistas, por outro lado, o debate transmitido pela TV remete ao lendário duelo entre Valéry Giscard d'Estaing e François Mitterrand, de 1974, que acabou por decidir as eleições em favor de Giscard d'Estaing.
Num tempo em que, como relembra o diário alemão Süddeutsche Zeitung, os políticos ainda não estavam tão acostumados com o aparato tecnológico. "Não é fácil ser você mesmo frente a todas essas máquinas", declarou na época o derrotado Mitterand. Uma realidade distante da atual experiência de Royal e Sarkozy, acostumados e bem treinados para lidar com as artimanhas da mídia.
Empate
No país, o debate da última quarta-feira foi visto por especialistas como um empate, mesmo diante de pesquisas de intenção de voto que dão uma pequena margem de vantagem para Sarkozy (52%) em relação a Royal (48%).
"Nicolas Sarkozy não perdeu, mas Ségolène Royal venceu", estampou o Libération nesta quinta-feira (03/05), enquanto o conservador Le Figaro, depois de disparar elogios a Sarkozy – "preciso e seguro" – ponderou que Royal "não cometeu nenhum erro grave".
Política externa
Se há algo que, apesar das divergências, une os dois candidatos, é a percepção de que apenas uma Europa unida poderá exercer um papel significativo no palco da política internacional. Um provável reflexo do "não" dos franceses à Constituição européia, exatamente numa França que sempre manifestou seu apoio à integração da UE.
Para Pierre Lellouche, coordenador de política externa da campanha de Sarkozy, uma das prioridades do candidato é manter o motor europeu em funcionamento. "O que propomos é uma Constituição com um texto mais enxuto e simples, que colocaria a Europa mais com os pés no chão e seria aprovado pelo atual Parlamento. Queremos fazer isso ainda durante a presidência de Angela Merkel na UE", diz Lellouche.
Ao contrário de Sarkozy, a socialista Royal pretende propor aos franceses um documento semelhante ao anterior, a ser aprovado em novo plebiscito, a ser realizado posteriomente. A questão mostra que as divergências entre os dois candidatos, em relação à política européia, é mais de abordagem do que de conteúdo. Ambos são, pelo que tudo indica, favoráveis a uma UE cada vez mais coesa. (sv)