'Fraternidade para o século 21'
26 de março de 2008Nicolas Sarkozy desembarcou em Londres nesta quarta-feira (26/03) com a mala cheia de presentes. De novas usinas atômicas a um maior envolvimento no Afeganistão, o presidente francês aposta plenamente numa cooperação mais estreita com os ingleses.
Juntamente com a primeira-dama Carla, ele foi recebido no aeroporto de Heathrow pelo príncipe Charles e esposa Camilla, em nome da rainha Elizabeth 2ª. Segundo suas próprias palavras, com esta visita de dois dias à Inglaterra – a primeira de um presidente francês em 12 anos – Sarkozy quer fundar "uma nova fraternidade franco-britânica do século 21".
Para tal, ambos os países devem agir "de mãos dadas" contra a imigração ilegal e o terrorismo. Sarkozy pretende, além disso, colocar mais soldados à disposição para a missão da Otan no Afeganistão. A França quer vencer a guerra contra os talibãs, declarou o chefe de Estado em entrevista à emissora BBC. Atualmente há cerca de 1.500 militares franceses estacionados naquele país asiático.
Alemanha em segundo plano
Do programa da visita consta um encontro de cúpula com o primeiro-ministro inglês, Gordon Brown, na quinta-feira. Sarkozy anunciou que proporá a Brown uma iniciativa comum contra a queda do dólar. "Não podemos pressionar em conjunto nossos amigos americanos para que o dólar suba? Isto é um problema."
Durante a entrevista à BBC, Sarkozy sublinhou o desejo de ter o Reino Unido como mais um parceiro importante na União Européia, complementando o eixo franco-alemão. "Jamais reduzi a política européia à amizade com a Alemanha." O eixo Paris-Berlim "é fundamental, porém não basta", afirmou.
Desde que, recentemente, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, freou os planos de Sarkozy para uma aliança mediterrânea, o premiê Brown ocupa um lugar mais elevado nos interesses do chefe de Estado francês. "As relações entre Paris e Berlim nunca estiveram tão mal", postulou Katinka Barysch, do Centre for European Reform, ao jornal Daily Telegraph.
Unidos pelo átomo
Uma chave para uma parceria mais estreita entre franceses e britânicos poderia ser a energia atômica. Segundo o jornal britânico Guardian, os dois países pretenderiam construir em conjunto reatores termonucleares de última geração, e nos próximos 15 anos exportar a nova tecnologia, em nível mundial.
Associações ambientalistas criticam tais planos, classificando-os como uma "besteira perigosa". A França produz 80% de sua energia por fissão nuclear, contra 20% na Inglaterra, tendência ascendente.
O presidente francês planeja maior cooperação também na indústria armamentista. "Não poderíamos unir nossas indústrias, tornando-nos mais eficientes e economizando dinheiro?", sugeriu durante a entrevista à BBC.
Política, nudez e culinária
A chegada do casal presidencial a Londres foi marcada por um miniescândalo tipicamente britânico. A casa Christie's anunciou para abril o leilão de uma fotografia da primeira-dama Carla Bruni-Sarkozy.
Realizada em 1993, esta mostra, em preto e branco, a ex-modelo nua, apenas cobrindo a púbis com as mãos. Nesta quarta-feira, a foto adornava a primeira página de vários jornais de imprensa marrom, para indignação do casal Sarkozy.
Excessos de otimismo à parte, a visita presidencial parece realmente abrir uma nova era nas relações anglo-francesas. Antes mesmo do golpe fatal que foi a polêmica em torno da guerra no Iraque, o antecessor de Sarkozy, Jacques Chirac, comentara certa vez, a respeito dos britânicos: "Não se pode confiar em gente que cozinha tão mal assim".