Sarkozy e Hollande na reta final do segundo turno na França
4 de maio de 2012A decisão do segundo turno da eleição na França entre os dois rivais depende principalmente de votos localizados nos extremos do espectro político. Do lado direito, há uma fatia de 18%, que Marine Le Pen, da Frente Nacional, conseguiu no primeiro turno.
Mas como o sistema francês só prevê dois candidatos no segundo turno, ela não ganhou nada com o resultado, pelo menos de imediato. Os eleitores da Frente Nacional já anteveem grandes conquistas na eleição parlamentar de junho.
Marine Le Pen, filha do fundador do partido, Jean-Marie Le Pen, conseguiu atingir sua meta, diz Etienne François, do Centro de Estudos Franceses da Universidade Livre de Berlim. A escolha do vocabulário pode ter mudado, diz François, mas os objetivos, não. "A mudança na retórica levou o partido a se normalizar cada vez mais."
Direita como fiel da balança
Especialmente Sarkozy tenta conquistar os votos da direita no segundo turno – e precisaria ganhar dois terços dos votos da Frente Nacional para bater Hollande. Uma tarefa quase impossível. Na terça-feira (01/05), Marine Le Pen sugeriu que seus eleitores se abstenham em protesto, em vez de recomendar o voto a Sarkozy.
Nicolas Sarkozy tenta mesmo assim. Ainda que tenha descartado a cooperação com a Frente Nacional, se utiliza dos temas e da retórica da extrema direita. Isso inclui o acordo fechado em meados de abril pelo ministro francês do Interior, Claude Guéant, com seu colega de pasta alemão, Hans-Peter Friedrich, para modificar o Acordo de Schengen.
A diretora do Programa França e Relações franco-alemãs do Conselho Alemão de Relações Exteriores em Berlim, Claire Demesmay, explica que a campanha de Sarkozy sempre girou em torno do tema "Schengen": "Muitos franceses temem a globalização, têm medo de fronteiras abertas." Sarkozy se agarrou à questão Schengen para transmitir sua mensagem aos eleitores: "A Europa deve ser uma proteção para nós. Nós não temos medo da Europa, mas como franceses queremos definir o que a Europa deve se tornar."
"Desordenamento ideológico"
O mais difícil para Sarkozy, diz Claire Demesmay, é que ele não precisa conquistar apenas os votos dos conservadores e da direita, mas também dos apoiadores do candidato de centro, François Bayrou. "São pessoas que se interessam pela questão europeia, que são abertas à União Europeia e favoráveis a uma maior integração. Para Sarkozy é como resolver a quadratura do círculo."
Na verdade, alas do partido de Sarkozy (UMP) recomendam a cooperação com Bayrou – uma clara tentativa de atingir os eleitores de centro, favoráveis à União Europeia. Isso se alinha com o pronunciamento feito por Sarkozy em fins de abril em prol de um pacto de crescimento para a Europa - medida exigida por François Hollande há muito tempo. Devido à tentativa do UMP de atender aos caprichos da esquerda à direita, o jornal liberal de esquerda Libération fala de um "desordenamento ideológico".
O possível cenário Hollande
O desafiante Hollande mantém-se agarrado ao tão prometido pacto de crescimento, exigido por vários países na Europa – e desde final de abril explicitamente também pelo chefe do Banco Central Europeu, Mario Draghi. Jacques-Pierre Gougeon, diretor de pesquisa no Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas de Paris, e também consultor dos socialistas, descreve a posição de Hollande:
"Para Hollande, a política de controle de dívidas é importante, assim como os esforços dos estados-membros sobre as questões econômicas." A União Europeia, no entanto, não pode só poupar, diz o consultor político: "A Europa também precisa adotar medidas de crescimento, geração de empregos e inovação. E isso está faltando no momento."
Alguns observadores temem que Hollande queira revolucionar totalmente a política europeia em relação à crise da dívida. Mas mesmo ele não deve colocar em prática as promessas de campanha – como a renegociação do pacto fiscal – depois da eleição exatamente da maneira como estão, acredita Claire Demesmay.
Uma renegociação do pacto fiscal assinado por 25 países não ocorrerá, disso Demesmay está convencida. "A esse ponto não vai chegar, porque Angela Merkel não vai aceitar. E ela não é a única, muitos países são contra a renegociação." Haverá diálogo para encontrar soluções comuns nesse e em outros setores, mas sem renegociação.
Já a demanda de Hollande por um pacto de crescimento que seja adicionado ao pacto fiscal parece mais realista. Também o chefe do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, se manifestou a favor de medidas adicionais para impulsionar o crescimento.
Agências de rating à espreita
Como observadores já disseram muitas vezes, os temas que realmente interessam à França permaneceram intocados durante a campanha eleitoral – a redução da dívida, o fortalecimento da competitividade da indústria e o combate ao desemprego entre os jovens.
Mas o duro despertar deve vir logo depois da eleição parlamentar em junho, prognostica a economista Isabelle Bourgeois, do Centro de Informação e Pesquisa sobre a Alemanha Contemporânea (Cirac): "Pois as agências de rating estão à espreita e o que está em jogo é a nota AAA da França." E daí, os assuntos que não estão em discussão agora precisarão ser tratados rapidamente, diz Bourgeois: "Como a França vai se modernizar? Como a economia voltará ao caminho certo?
Etienne François, da Universidade Livre de Berlim, ousa fazer mais uma previsão: Se Sarkozy perder a votação, a eleição parlamentar, que ocorrem imediatamente a seguir, provavelmente a Frente Nacional irá eleger muitos deputados, possivelmente vindos de acordos tácitos entre os conservadores e a Frente Nacional. E essa forte representação da extrema direita no Parlamento não deve facilitar as coisas.
Autor: Daphne Grathwohl (ff)
Revisão: Roselaine Wandscheer