Suco mais caro
17 de agosto de 2010Os europeus levaram um susto ao encontrar nas prateleiras dos supermercados o suco de laranja mais caro. Na Europa, não há outra saída: enquanto no Brasil a bebida é apreciada a partir da fruta fresca, a mistura do concentrado da laranja ainda é a maneira mais barata de saborear a bebida no Velho Continente.
E os motivos dessa alta estão diretamente ligados ao mercado brasileiro: o país é o maior exportador mundial do concentrado do suco e responsável por 85% do comércio global. A maior parte é consumida na União Europeia – aproximadamente 72%.
Na Alemanha, as grandes redes de supermercados culpam o Brasil pela alta nos preços: a rede popular Aldi elevou o preço do suco em 0,20 euro para 0,89 só nas últimas duas semanas – as concorrentes Lidl e Netto também fizeram o mesmo.
Christian Lohbauer, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos, rebateu as críticas dos supermercados alemães em entrevista à Deutsche Welle. "Estamos vendendo o concentrado a um preço bom. É que em comparação com 2009, o valor dobrou."
O Brasil exporta para a Europa o suco concentrado congelado, chamado pela indústria de FCOG (Frozen Concentrated Orange Juice) – é na Europa que o produto é preparado para o consumo final.
A tonelada do produto está sendo negociada a 2 mil dólares – eram 1.100 dólares em 2009. "Está mais caro neste ano porque, basicamente, os estoques do ano passado foram consumidos, e a safra no Brasil e na Flórida foram menores", explica Lohbauer.
A indústria brasileira
A dinâmica da indústria de cítricos não foge à regra natural que regulamenta os preços: a lei da oferta e da procura. "Nós trabalhamos com uma commodity como qualquer outra, que sofre picos e baixas de tempos em tempos", comenta Lohbauer.
No Brasil, quatro grandes indústrias são responsáveis pela exportação de 99% do concentrado do suco brasileiro: Cutrale, Citrosuco, Citrovita e Louis Dreyfus. Cerca de 30% da laranja processada vem dos pomares das próprias indústrias, o restante é comprado de produtores de todo o país.
O suco comercializado atualmente foi processado com a fruta colhida no ano passado: a indústria pagou aos produtores, em média, 3,5 reais pela caixa na safra 2009/2010. Já neste ano, a caixa, que contém 40 quilos, está sendo vendida a 15 reais. "Há menos laranja disponível devido aos efeitos do clima. Não sabemos por quanto vamos conseguir vender o concentrado no ano que vem. Mas a expectativa é de que o preço suba."
Envasamento
Se o mercado europeu já reclama do valor pago pela tonelada do concentrado neste ano, em 2011, a queixa deverá ficar ainda mais acentuada.
Mesmo com toda essa flutuação de preços, há um setor que dificilmente sofre prejuízo: as redes de supermercados. "São eles que têm a maior condição de administrar a lucratividade porque vendem o suco ao consumidor com base no preço que pagaram pelo envasamento do suco. Ou seja, se pagam mais caro pelo suco envasado, vão repassar para o consumidor", explica Lohbauer.
Na Europa, 15 grandes engarrafadores concentram aproximadamente 85% do envasilhamento do suco – só a Granini compra cerca de 7% do concentrado congelado brasileiro. Essas empresas, por sua vez, negociam o preço do suco já pronto para o consumo com os supermercados. E no final dessa cadeia, o consumidor pode levar um susto ao colocar o produto no carrinho.
Os produtores de laranja
Flávio Viegas, da Associação Brasileiras de Citricultores (Associtrus), fala em nome dos produtores de laranja: "O custo de produção é superior aos dos preços comercializados. As doenças na planta, principalmente, encarecem a produção."
Nesta terça-feira (17/08), representantes da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Citricultura discutem em Brasília ações de combate às pragas greening e cancro cítrico e as perspectivas de mercado do suco concentrado de laranja. Produtores também avaliam o potencial do Nordeste para expansão do setor – segundo Viegas, o estado de São Paulo sofreu uma redução de 200 mil hectares de plantio de laranjas nos últimos anos.
Segundo a Associtrus, dos 160 milhões de árvores cultivadas no Brasil, 50 milhões pertencem a pomares da indústria que vende o concentrado do suco para o mercado externo. A previsão para a safra 2010/2011 é que ela deve oscilar entre 270 milhões e 280 milhões de caixas – em 1999 foram 440 milhões.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Carlos Albuquerque