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Rússia nega acolhimento a refugiados sírios

lya KovalI (av)13 de setembro de 2015

Apesar da suposta amizade Moscou-Damasco e do tamanho do território russo, volume de asilos concedidos é mínimo. Refugiados dependem de ONGs e voluntários: autoridades geralmente optam pela deportação.

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Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis

Dezenas de milhares de refugiados estão vindo para a Europa, muitos deles da Síria. Segundo dados das Nações Unidas, só o número de migrantes sírios já alcança os 4 milhões. Quase 2 milhões estão registrados na Turquia, mais de 1 milhão no Líbano. Desde o início do conflito no país árabe, em 2011, cerca de 350 mil cidadãos sírios solicitaram asilo a países europeus.

Nesse mesmo espaço de tempo, 3.338 pessoas pediram asilo ao Serviço Federal de Migração russo. Dessas, apenas 1.774 deles obtiveram o status oficial de refugiados.

Acesso ao asilo vedado

Em entrevista à DW, Svetlana Ganushkina objeta: "Não posso confiar nesses números do Serviço de Migração". Ela é presidente da ONG Assistência Civil, a única da Rússia que há décadas se engaja pelos interesses dos refugiados. Além disso, ela chefia a rede Migração e Direito, do centro russo de direitos humanos Memorial.

Ganushkina está segura que a cifra real dos refugiados sírios em seu país é muito mais elevada. O problema é que o acesso ao processo de asilo lhes é vedado.

Russland Menschenrechtlerin Swetlana Gannuschkina
Svetlana Ganushkina se empenha há décadas pelos refugiados na RússiaFoto: DW/Y. Vishnevetskaja

"Um refugiado chega, mas não consegue consulta com as autoridades. Ou as pessoas são detidas e deportadas. Há muitos casos assim." Ela calcula o número efetivo de migrantes sírios na Rússia em 10 mil, aproximadamente.

Sem incentivo para permanecer

Comparado com o afluxo migratório às demais partes da Europa e, sobretudo, considerando-se o tamanho da Rússia, tal cifra parece quase insignificante. Mas por que os sírios relutam em buscar refúgio num país que reafirma insistentemente sua amizade com a Síria e supostamente quer ajudar a população local?

"No mais das vezes, eles encaram a Rússia apenas como país de trânsito, pois aqui não há qualquer tipo de ajuda para refugiados", explica a ativista. Para os filhos dos recém-chegados é difícil serem aceitos nas escolas, e os adultos não conseguem trabalho.

"Quem consegue asilo provisório pode trabalhar. Mas os empregadores geralmente não sabem disso, e não aceitam os migrantes", lamenta Svetlana Ganushkina. Além disso, para os patrões traz mais vantagem financeira empregar migrantes ilegais.

Drama secular dos circassianos

Menos conhecido é o fato de que na Síria vivem mais de 100 mil representantes da etnia circassiana. Expulsos do Império Russo, seus ancestrais lá foram realocados no século 19, depois da guerra no Cáucaso.

Em 2012, por iniciativa do então senador Albert Kasharov, da região norte-caucasiana de Cabardino-Balcária, o Conselho Federal russo debateu sobre o retorno dos circassianos étnicos da Síria. "Na verdade, não se trata de uma repatriação, mas sim de salvar essas pessoas", pleiteava o político.

O foco da discórdia era onde assentar os repatriados. As quotas dos que retornavam à Rússia era inferior à dos que desejavam emigrar. As autoridades federais não apoiaram a proposta de criar campos de refugiados, e com a morte de Kasharov em 2013, o tema caiu no esquecimento.

Autoridades russas são mais um adversário

Somente no princípio de setembro de 2015 Maxim Shevchenko, membro do conselho de direitos humanos do presidente russo Vladimir Putin, voltou a se manifestar sobre o assunto, na emissora de rádio Echo Moskwy.

"A Dinamarca e a Noruega acolhem circassianos sírios. Lá já foram aceitos mais deles do que na Rússia, onde são rejeitados." O político disse considerar as quotas de acolhimento vigentes como "uma vergonha para o meu país". Nos últimos três anos, apenas 1.500 circassianos tiveram permissão para emigrar da Síria para a Rússia. Lá, o único apoio que recebem é de organizações da sociedade civil, voluntários e parentes.

Todos os demais refugiados da Síria no país dependem da assistência de ativistas dos direitos humanos, os quais frequentemente têm de defendê-los das autoridades. Pois, se dependesse delas, eles seriam imediatamente reenviados para o país de origem, onde a guerra civil grassa e o "Estado Islâmico" segue sua campanha sanguinária.

"Há poucos dias, com a ajuda do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), conseguimos anular uma decisão das autoridades da república russa do Daguestão para deportar dois refugiados sírios", registra Svetlana Ganushkina.