Rússia e Ucrânia avançam em acordo para liberação de grãos
14 de julho de 2022O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse nesta quarta-feira (13/07) estar esperançoso de que os negociadores russos e ucranianos cheguem a um acordo formal já na próxima semana para liberar as exportações de grãos através do Mar Negro.
Delegações de Ucrânia, Rússia, Turquia e da ONU se reuniram em Istambul para discutir a questão.
"Esperamos poder nos reunir muito em breve, tenho certeza na próxima semana, e espero que possamos ter um acordo final", disse Guterres, em Nova York, após receber informações sobre o encontro.
Segundo ele, há "um amplo acordo" sobre um plano da ONU para enviar milhões de toneladas de grãos bloqueados na Ucrânia por causa da guerra para os mercados mundiais e permitir que a Rússia também envie grãos e fertilizantes.
O anfitrião da reunião, o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar, disse que as partes concordaram em "controles conjuntos" nos portos e em maneiras de "garantir a segurança das rotas de transferência" através do Mar Negro. Para ele, também é possível chegar a um acordo final na próxima semana, quando as partes voltarão a se reunir na Turquia para revisar os detalhes e, ao que tudo indica, assinar o acordo.
Akar disse que as negociações foram realizadas em uma atmosfera construtiva. "Vemos que as partes estão dispostas a resolver este problema”. A Turquia se ofereceu para fornecer corredores seguros no Mar.
Zelenski agradece empenho
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que a delegação de seu país também o informou sobre os progressos. Ele disse estar grato às Nações Unidas e à Turquia por seus esforços para restaurar as exportações agrícolas da Ucrânia.
"Se eles conseguirem remover a ameaça russa ao transporte marítimo no Mar Negro, isso reduzirá a gravidade da crise global de alimentos", destacou Zelenski nesta quarta-feira, em seu discurso noturno em vídeo.
Guterres vem pressionando desde o início de junho por um pacote que permitirá à Ucrânia exportar grãos e outros alimentos, não apenas por terra, mas também por portos bloqueados do Mar Negro, além de permitir que alimentos e fertilizantes russos entrem nos mercados mundiais sem restrições.
Atualmente, parte dos grãos da Ucrânia estão sendo escoados por via férrea, rodoviária e fluvial, mas a quantidade é pequena em comparação com as rotas do Mar Negro.
Enquanto isso, a Rússia disse que apresentou um pacote de propostas para uma "solução prática e rápida" para desbloquear a exportação de grãos ucranianos, mas não deu detalhes.
Estima-se que 22 milhões de toneladas de grãos estejam bloqueadas na Ucrânia. Além disso, cresce a pressão por uma solução para que os silos sejam esvaziados a tempo da próxima colheita.
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) disse que a guerra na Ucrânia está colocando em risco o abastecimento de alimentos em muitos países em desenvolvimento, elevando os preços em todo o mundo e pode piorar a fome de até 181 milhões de pessoas.
Troca de acusações
Kiev acusa Moscou de bloquear - e às vezes até roubar - seus grãos. O Kremlin nega e afirma que a Ucrânia é livre para enviar grãos de seus portos. Centenas de minas foram lançadas no Mar Negro por ambos os lados.
Moscou afirma que os portos fortemente minados da Ucrânia estão causando o bloqueio dos grãos. Recentemente, o presidente russo, Vladimir Putin, prometeu que Moscou não usaria os corredores para lançar um ataque se as minas marítimas fossem removidas.
No entanto, a Ucrânia é cética e se recusou a desminar a área por medo de que a Rússia pudesse realizar um ataque anfíbio.
O plano proposto pela ONU faria os embarques começarem em corredores específicos, evitando locais minados conhecidos.
Antes das negociações desta quarta, um alto diplomata russo disse que Moscou está disposto a garantir uma navegação segura para navios que transportam grãos dos portos ucranianos, mas deseja inspecionar as embarcações em busca de armas.
As sanções ocidentais à Rússia não proíbem as exportações de alimentos ou fertilizantes. Mas Moscou argumenta que as sanções às suas indústrias bancária e marítima tornam impossível exportar esses bens e estão assustando as companhias de navegação estrangeiras.
le (Reuters, AFP)