Rússia e Cuba reforçam aliança estratégica
8 de maio de 2015Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e de Cuba, Raúl Castro, expressaram nesta quinta-feira (07/05), em Moscou, o desejo mútuo de manter e desenvolver a aliança estratégica entre os dois países, mesmo após o processo de restabelecimento das relações diplomáticas com os Estados Unidos.
"Não preciso descrever a qualidade das relações russo-cubanas. Elas têm uma longa história e, além disso, celebramos o 55º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas. Estamos muito contentes por vê-lo, seja bem-vindo", disse Putin a seu convidado no início do encontro.
Os líderes se cumprimentaram calorosamente e se abraçaram diante dos jornalistas antes de duas reuniões – em uma acompanhados por suas respectivas delegações e outra, posteriormente, a sós.
O líder cubano, o primeiro dos visitantes internacionais a chegar a Moscou para participar das celebrações do 70º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, agradeceu a Putin pelo convite. "Não podia faltar a esta festa", afirmou Castro, após se referir à "grande vitória dos povos da antiga União Soviética" sobre os nazistas.
Castro também destacou os importantes acordos no plano econômico alcançados durante a visita que Putin fez a Cuba em julho do ano passado, e que agora pretendem botar em prática. Sobre estes planos, Castrou falou na quarta-feira, seu primeiro dia de estadia em Moscou, com o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, em um encontro centrado na cooperação econômica.
Pingos nos 'is'
Nem Putin nem Castro fizeram mais declarações após as reuniões desta quinta-feira, mas analistas consideram que o principal objetivo do líder cubano é convencer Moscou de que, apesar da reaproximação entre Washington e Havana, Cuba continuará sendo um parceiro estratégico.
"Raúl Castro veio para pôr os pingos nos 'is' e comunicar claramente às autoridades russas que, apesar da importância e da necessidade de desenvolver a colaboração com os EUA, Cuba segue plenamente interessada em desenvolver a cooperação com a Rússia", disse o diretor do Centro de Estudos Políticos do Instituto da Academia de Ciências da Rússia, Boris Shmeliov.
Havana precisa de investimentos para tirar sua economia do ponto morto, e nesse sentido ganham força os projetos em áreas como as de energia e infraestruturas, a serem desenvolvidos com a ajuda de Moscou.
Além disso, segundo Shmeliov, o líder comunista estaria buscando obter uma espécie de garantia de segurança por parte da Rússia caso chegue à Casa Branca um líder mais duro em política externa do que Barack Obama, que mude a postura em relação a Cuba demonstrada em março na Cúpula das Américas, no Panamá.
As relações russo-cubanas, que esfriaram após a desintegração da União Soviética em 1991, foram impulsionadas novamente uma década depois. No ano passado, por exemplo, a Rússia cancelou 90% da dívida de aproximadamente 31 bilhões de dólares contraída pelo país caribenho perante Moscou durante a época soviética.
Castro participará no sábado do desfile militar na Praça Vermelha que celebra o 70º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra, junto a outros aliados da Rússia, como os presidentes de Venezuela, Nicolás Maduro, e China, Xi Jinping.
A tradicional parada militar de 9 de maio será acompanhada por cerca de 30 chefes de Estado ou de governo mundiais, mas por nenhum líder ocidental, apesar dos convites feitos pelo Kremlin. A Rússia segue submetida a sanções por seu suposto envolvimento na crise da Ucrânia.
"A presença de Castro na parada demonstra que, apesar das tentativas dos EUA de normalizar as relações com Cuba, a prioridade estratégica para Havana continua sendo a Rússia", disse o ex-general soviético e chefe da Academia de Assuntos Geopolíticos da Rússia, Leonid Ivashov, à agência de notícias Efe.
Precisamente quando as relações russo-americanas passam por uma grande tensão, o líder cubano viajará no domingo ao Vaticano para agradecer ao papa Francisco por sua mediação na aproximação entre Cuba e os Estados Unidos.
PV/efe/ots