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Rouanet prevê aceleração antiglobalizante

Simone de Mello17 de maio de 2002

Ex-ministro fala aos alemães sobre a crescente tendência antiglobalizante no Brasil e destaca – em entrevista à DW-World – a importância da tradução como chave do intercâmbio cultural.

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Para um membro da Academia Brasileira de Letras e ex-ministro da Cultura que batizou uma lei com o próprio nome, é necessário fazer dintinção entre pessoa pública e privada. Foi "a título pessoal" que o atual embaixador do Brasil em Praga, Sergio Paulo Rouanet, se pronunciou sobre as perspectivas do Brasil após oito anos de governo FHC, no simpósio "Brasil pré-eleições", promovido pela Fundação Konrad Adenauer em Berlim.

O cientista político carioca, que descreve a política cultural do governo FHC como uma fase de renascimento de segmentos estacionados da cultura brasileira – como o cinema, por exemplo –, reconhece na crescente influência cultural externa um "lado de sombra". Diante de uma cultura global penetrante, seriam necessárias medidas restritivas - não protecionistas (como a "cota de tela", no cinema, por exemplo), mas sim "racionais".

Rouanet dá a entender que este racionalismo poderá surgir, por exemplo, como reação aos "enlatados televisivos norte-americanos", como conseqüência do crescente ressentimento brasileiro em relação à globalização, que o ex-ministro diagnostica tanto na economia quanto na política e cultura, independente de quem seja o próximo presidente eleito.

Diante dos participantes do simpósio da fundação dos democrata-cristãos da Alemanha, Rouanet defendeu uma concepção emancipatória de globalização. Resgatando o Iluminismo alemão, ele esboçou o ideal de um movimento globalizante não fundado na eficiência, mas sim na universalização dos bens globais. Na cultura, isso significaria autonomia, em vez da recepção passiva de produtos de massa.

Quanto ao estímulo às relações bilaterais Brasil-Alemanha no âmbito da cultura, o ex-cônsul geral do Brasil em Berlim (1993-1996) e criador do Centro Cultural Brasileiro, inaugurado em 1996 pelo presidente FHC na capital alemã, prioriza o intercâmbio literário através de um maior incentivo às traduções de livros brasileiros na Alemanha. "Isso ajudaria a acabar com alguns estereótipos.

"Intercâmbio cultural é uma rua de duas mãos"

Na Alemanha, existe uma tendência de caracterizar o lado folclórico, carnavalesco da literatura brasileira. Os livros que falam de mulatas e carnaval, da famosa alegria brasileira, sol e praia, são considerados representativos da literatura brasileira. Mas não é assim; a literatura brasileira deixou de ser rural e já é em grande parte urbana. Precisaria de um esforço de reaprender a realidade do Brasil de hoje, que não é mais o Brasil dos estereótipos, do brasileiro cordial, da alegria eterna do povo brasileiro", declarou Rouanet.

Isso também se aplicaria à propagação da cultura alemã no Brasil. "O intercâmbio cultural é uma rua de duas mãos. Em geral, no Brasil, quando se fala em cultura, se pensa apenas na brasileira, mas faz parte da nossa cultura absorver de maneira produtiva e criadora a cultura estrangeira. E a alemã é de uma importância fundamental." Como ensaísta divulgador da filosofia alemã no Brasil, sobretudo da Escola de Frankfurt, Rouanet constata: "Walter Benjamin é um autor cult no Brasil. Hoje em dia, Adorno é muito mais lido no Brasil do que na Alemanha."