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'Saúde liberta'

Jane Paulick (jp)3 de setembro de 2008

Um dos artistas mais famosos da Dinamarca lançou uma campanha a favor do cigarro, usando um conhecido slogan nazista. A pequena comunidade judaica do país diz não sentir-se agredida.

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Leis antitabagismo são coisa de "fascistas da saúde", diz LarsenFoto: AP

Como vocalista da Gasolin', uma influente banda de rock que teve seu apogeu nos anos 70, Kim Larsen sempre foi um dos bad boys do rock dinamarquês. E como qualquer "mau rapaz " que se respeite, sempre foi veementemente contra o establishment.

Como todo bom roqueiro, ele é também um fumante inveterado. E não por acaso, não gosta das leis antitabagistas da União Européia, introduzidas na Dinamarca um ano atrás, que proíbem o fumo em bares e restaurantes.

Fascistas da saúde

Do tipo que não gosta de ser mandado, Larsen recentemente ajudou a lançar uma campanha publicitária com o slogan "Tillykke med rygeforbudet – Gesundheit macht frei!!!"

A primeira parte significa "boa sorte com a proibição ao fumo", em dinamarquês. O slogan em alemão, "Saúde liberta", é uma óbvia alusão ao slogan nazista "Arbeit macht frei" ou "O trabalho liberta", presente na entrada de vários campos de concentração nazistas, como Auschwitz e Dachau.

Pro-Rauchplakate in Dänemark
De Auschwitz para Copenhague: 'Saúde liberta'Foto: DW

"As pessoas que introduziram a proibição ao fumo são fascistas da saúde", teria afirmado Larsen.

Ele disse que a referência ao Terceiro Reich é pertinente, pois os nazistas introduziram uma proibição nacional contra o cigarro, como parte de sua busca pela pureza corporal e racial.

"Hitler foi o primeiro a banir o tabagismo", disse o cantor. Larsen, que tem muitos álbuns best-sellers em seu país natal, também já foi escolhido para representar a Dinamarca no concurso Eurovisão. Neste, artistas de vários países passam por seletivas nacionais, competindo depois em nível europeu.

Anti-semitismo?

Supõe-se que Larsen não tenha sido a única celebridade a fazer doações ao fundo Himmelbla, que organiza a campanha publicitária espalhada pelos outdoors de Copenhague. "Não é uma defesa ao cigarro", argumenta Larsen. "Trata-se de uma defesa da democracia e da liberdade".

Dänemark Sänger Kim Larsen
Kim Larsen: estupidez ou apologia do nazismo?Foto: Kim Larsen & Kjukken / Stjernekasterne

A comunidade judaica do país, por sua vez, está optando por enxergar a campanha como um mero protesto de mau gosto contra a interferência governamental sobre as liberdades individuais.

"É estúpido, simplesmente estúpido", disse Stefan Isaak, presidente da comunidade judaica dinamarquesa, à DW-WORLD.DE. "Eu não vejo ligação alguma com qualquer tipo de anti-semitismo – é somente uma estupidez".

Explicando porque os pôsteres de Larsen foram amplamente ignorados, ele indicou que a Dinamarca tem poucos sobreviventes do Holocausto, já que a maioria dos judeus do país escapou para a Suécia durante a Segunda Guerra Mundial.

"Os sentimentos das pessoas podem ser atingidos, mas o slogan é tão idiota; não dá nem para começar a associá-lo a Auschwitz", ele afirmou.

Mau gosto

Arne Rolighed, da Sociedade Dinamarquesa do Câncer, principal instituição de pesquisa oncológica no país, sente-se mais ofendido. "É de extremo mau gosto", disse ao jornal dinamarquês Politiken.

A analogia não é inédita. Na Alemanha, onde alusões ao nazismo não são ignoradas com tanta facilidade, um protestante lançou uma linha de camisetas, no começo deste ano, estampadas com uma estrela de David, e abaixo a palavra "fumante".

As camisetas foram rapidamente retiradas do mercado, após objeções de grupos judaicos, que protestaram contra a comparação entre a pressão sobre os fumantes e a perseguição sofrida pelos judeus durante o nazismo.

Isaak, da comunidade judaica dinamarquesa, é mais discreto. "Quanto menos comentarmos, melhor", disse.