Rio 2016 vê protagonismo feminino
11 de agosto de 2016O protagonismo feminino na edição carioca dos Jogos Olímpicos tem garantido às mulheres um espaço bem além da tradicional cobertura jornalística focada mais em atributos físicos e roupas do que em conquistas esportivas. Nos primeiros dias, elas foram as maiores estrelas da competição – e tanto as estrangeiras quanto as brasileiras.
A primeira medalha de ouro do Brasil veio pelas mãos da judoca Rafaela Silva, e a jogadora de futebol Marta, cinco vezes eleita a melhor do mundo, segue sendo um dos maiores destaques da delegação brasileira. A performance ruim dos homens nos dois primeiros jogos só aumentou o contraste e gerou centenas de memes feministas nas redes sociais. "Joga que nem mulher, porra!" é um dos bordões mais repetidos.
"Acho que esse protagonismo feminino começou em Londres, em 2012, e culminou nessa explosão aqui no Rio", afirmou Maíra Liguori, criadora da campanha Olga Esporte Clube, de incentivo à mulher por meio do esporte, e diretora da ONG feminista Think Olga.
"Ainda estamos muito atrasados nas discussões, o esporte é pouco valorizado no país e, no caso do feminino, nem se fala. Mas esta é a Olimpíada que tem o maior número de mulheres competindo e, na delegação brasileira, as principais promessas de medalha são mulheres."
Ao participar do revezamento da tocha olímpica, ainda antes da abertura dos jogos, a diretora executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, disse que a participação das mulheres na competição está praticamente equilibrada, mas ela defendeu a ampliação do número de contratadas para cargos administrativos de instituições de esporte nacionais e internacionais.
Para Mlambo-Ngcuka, ter um lugar de destaque num evento tão importante é crucial para ampliar a visibilidade das mulheres como ícones do esporte e modelos a serem seguidos por milhares de pessoas.
Maioria nas delegações de EUA e China
Nesta edição dos Jogos Olímpicos, as mulheres são 45% dos atletas e somam 4,7 mil – um salto gigantesco em relação à primeira vez que competiram, em Paris, em 1900, quando eram apenas 22 entre 977 competidores.
A presença feminina é a maior em pelo menos 30 delegações – incluindo as de Estados Unidos e China. A delegação americana tem 292 mulheres e 263 homens e é a maior equipe feminina de um país na história dos Jogos. Até agora, o maior destaque da delegação americana é a ginasta Simone Biles, que encantou o mundo com movimentos inéditos, liderando a equipe que ganhou o ouro olímpico.
A China confirma a tendência, com 256 mulheres e apenas 160 homens. O Egito trouxe, pela primeira vez, uma equipe feminina de vôlei de praia – embora o grande destaque na mídia tenha sido o uniforme das atletas. Por questões religiosas, um delas joga de véu islâmico. A Arábia Saudita, um dos países mais conservadores do mundo no que diz respeito às mulheres, trouxe quatro atletas.
A equipe brasileira tem mais homens do que mulheres (256 ante 209), mas bateu o seu recorde de participação feminina em Jogos Olímpicos. E as maiores chances de medalha para o Brasil estão nos esportes coletivos femininos, como vôlei, handebol e futebol, diz a presidente da Comissão das Mulheres no Esporte do Comitê Olímpico do Brasil, a ex-jogadora de vôlei de praia e medalhista olímpica Adriana Behar.
"E isso apesar de as condições de treinamento e os salários não serem iguais aos dos homens", destaca. Ela lembrou ainda a importância da participação de mulheres, como as ex-atletas Daiane dos Santos, Maureen Maggi e Fabiana Molina, como comentaristas esportivas na televisão.