Resultado em Dresden pode impulsionar coalizão
2 de outubro de 2005A morte de uma candidata pouco antes das eleições alemãs, ocorridas no último 18 de setembro, forçou um distrito eleitoral do país a ir às urnas neste domingo (02/10). Não fosse o impasse que reina no cenário político alemão, o fato provavelmente teria sido noticiado apenas pela imprensa local.
Peso simbólico
No entanto, os votos dos 219 mil eleitores do distrito 160, de Dresden, se transformaram no assunto predileto da mídia do país e ganharam um peso simbólico. Os altos índices de participação (na Alemanha, o voto é facultativo), com mais de 72% dos eleitores indo às urnas, foram acompanhados cuidadosamente pela mídia.
Embora a votação em Dresden não possa resolver o impasse entre os partidos no país, o que só aconteceria através de uma clara maioria no Parlamento, os resultados acentuam a vantagem dos democrata-cristãos sobre os social-democratas. O candidato da CDU, Andreas Lämmel, foi eleito com um "mandato direto", atingindo 36,99% dos votos. A candidata do SPD, Marlies Volkmer, ficou com 32,13% dos votos.
Com isso, a estreita vantagem da CDU sobre o SPD no Bundestag passa de três para quatro mandatos. Até a eleição no distrito, a aliança CDU/CSU contava com 225 mandatos e o SPD com 222. Agora, os democrata-cristãos têm 226 cadeiras no Parlamento, ou seja, quatro a mais que o SPD.
Escolha estratégica: voto nos liberais
O voto de legenda em Dresden foi certamente resultado de uma escolha estratégica dos eleitores da CDU, que optaram pelo voto direto no candidato democrata-cristão, mas por um voto de legenda no Partido Liberal. Isso para evitar que a CDU perdesse, devido ao "excesso" de votos, um mandato suplementar.
Quem lucrou com os paradoxos do sistema político alemão, que faz, às vezes, com que perdas levem a lucros, foram os liberais. Na posição de alidados da CDU, eles obtiveram no distrito de Dresden 16,6% dos votos de legenda. Um índice extraordinário, principalmente considerando que o partido não tem seu reduto eleitoral na região.
Empurrão necessário
De fato, o impasse político no país não deverá ser resolvido de imediato. No entanto, é provável que a eleição em Dresden dê o empurrão necessário para que os grandes partidos acertem os ponteiros de uma coalizão.
Políticos democrata-cristãos afirmam que a vantagem da CDU em Dresden é um claro sinal de que o país quer ver Angela Merkel como premiê. Também o presidente do Partido Liberal, Guido Westerwelle, declarou que a escolha do eleitorado na cidade simboliza um "não" à postura de Schröder.
Os dois grandes partidos (CDU e SPD) têm negociações marcadas para a próxima quarta-feira (05/10). É possível que a vantagem dos democrata-cristãos em Dresden venha a desempenhar um papel importante no encontro.
O presidente do SPD, Franz Müntefering, afirmou na noite do domingo a uma cadeia de televisão, que seu partido quer Schröder como chanceler federal, mas deverá avaliar a situação como um todo. No decorrer desta segunda-feira (03/10), as lideranças políticas do SPD deverão se reunir para discutir o assunto.
Renúncia de Schröder ou novas eleições?
A imprensa do país muito especulou sobre uma possível renúncia de Schröder ao posto de chanceler, o que abriria alas, sem maiores problemas, para a posse de Merkel como chanceler federal. Políticos da CDU/CSU levantaram a hipótese de que Schröder poderia, após as eleições em Dresden, abdicar da intenção de se manter como chefe de governo, selando uma coalizão dos grandes partidos, sob o comando de Merkel.
Antes das eleições em Dresden, o porta-voz do governo, Bela Anda, havia afirmado que o atual premiê não cogita esta possibilidade. Também Müntefering, presidente do SPD, declarou várias vezes que o país precisa "de um governo estável, que possa perdurar por quatro anos".
O nome de Müntefering vem sendo cogitado para ocupar o posto de vice-chanceler, caso Schröder venha a abrir mão do cargo, ao selar uma coalizão com os democrata-cristãos. O diário Süddeutsche Zeitung noticiou há pouco que algumas alas do SPD defendem, porém, a realização de novas eleições no país, caso o impasse não seja resolvido.