Ressentimentos contra os diferentes
12 de novembro de 2002Não é por acaso que a expressão "politicamente correto" nem sequer tradução para o alemão possui. Os alemães gostam de clareza. Tal como estava nos cartazes de campanha eleitoral do candidato liberal Jürgen Mölleman, que foi à caça de votos há poucas semanas com preconceitos anti-semitas.
Nada de rodeios, nada de falsa cordialidade. As coisas têm nome. Afinal "ainda se tem o direito de expressar-se". Uma frase volta e meia ouvida nos últimos tempos na Alemanha.
Exatamente por isto, escuta-se com cada vez maior freqüência e maior franqueza aquilo que o "politicamente correto" andou selando nos lábios por anos a fio. De preconceitos e ressentimentos até opiniões claramente hostis sobre os outros: sejam diferentes por sua religião, sua cor ou sua origem. Ou seja, os outros.
Cartas de ouvintes e leitores dos meios de comunicação alemães já vinham, há algum tempo, dando amostras de relaxamento no autopoliciamento ao fazer afirmações "que propriamente não se faz", mas que há anos estão na pauta das conversas de botequim entre alemães. Aquilo que não passava de suspeita agora ganhou contornos de certeza. A primeira pesquisa do estudo de longo prazo da Universidade de Bielefeld apurou:
- 55% dos entrevistados acham que existem estrangeiros demais na Alemanha;
- 28% querem que os estrangeiros sejam enviados de volta a seus países;
- 16% acham que cabe aos brancos o papel de liderança mundial;
- 40% defendem mais direitos para os alemães do que para os imigrantes; e
- 71% opinam que os muçulmanos não devem viver na Alemanha sob seus preceitos religiosos.
Estrangeiros, homossexuais e sem-teto são considerados inimigos, especialmente no leste da Alemanhao, enquanto a opinião sobre os judeus não varia conforme a região: 22% dos alemães acham que eles têm influência demais e são eles próprios culpados pelo anti-semitismo. Da mesma forma, muitos estão convictos de que os estrangeiros que vivem na Alemanha só deveriam casar entre si.
Maus resultados, que deixam em dúvida o sucesso de 50 anos de formação e educação política para a democracia e a tolerância. Mas não neguemos: sempre soubemos que muito daquilo que nós costumamos apresentar – e até mesmo pregar aos outros – como nossa moral política e social, nunca chegou a certos cantos da sociedade e talvez nunca chegará.
Que tais pensamentos tenham sido considerados por nós como parte de nosso passado e não como uma parte de nosso presente, deve ser creditado ao fato de que era quase proibido falar tais coisas. O "politicamente correto" calou aqueles que não puderam ser corrigidos.
E exatamente isto é o assustador no estudo. Não se trata aqui de cientistas interpretando o estado de espírito dos alemães. Não. As perguntas aos entrevistados eram diretas: o que acham dos estrangeiros, daqueles que têm outra religião e de outros diferentes. As respostas foram igualmente objetivas, e corajosas. E se supusermos que ainda há um ou outro policiando suas próprias posições, então o resultado só pode ser ainda mais negativo.
O único consolo: não sabemos se a situação piorou nos últimos anos, pois este estudo está apenas começando. Ele deve durar dez anos, ao custo de 700 mil euros. Somente no decorrer deste período poderemos averiguar para onde as coisas vão. Na verdade, um fraco consolo.