República de Weimar: a era mais criativa do cinema alemão
27 de janeiro de 2014O drama termina em morte. Carmen, uma funcionária de uma fábrica de cigarros, entra numa discussão, é presa e seduz o guarda que a vigiava. Ela o leva para caminhos tortuosos até ser finalmente morta por ele ao se interessar por outro homem. Esse é o enredo da ópera Carmen, de Georges Bizet.
A obra apreciada no mundo todo foi filmada várias vezes, como por Ernst Lubitsch, com a estrela do cinema mudo Pola Negri no papel principal. A estreia foi em 20 de dezembro de 1918. Nas ruas, no entanto, o clima não era de alegria, mas difusamente revolucionário. Em novembro daquele ano, a Primeira Guerra Mundial havia acabado, e o imperador Guilherme 2º, renunciado. O futuro da Alemanha era incerto.
"Luz e sombra"
Em agosto de 1919, finalmente entrou em vigor uma nova Constituição. Pela primeira vez na história da Alemanha foi instituída uma forma de Estado democrática. A República de Weimar terminou em 1933 com a ascensão de Hitler. Os anos anteriores são chamados muitas vezes de a "dourada década de 1920". O período, no entanto, teve lados positivos e obscuros, o que foi retratado em filmes alemães.
Nesse período, o cinema alemão foi extraordinariamente criativo. Transportou de forma impressionante para as telas os acontecimentos, as visões, os desejos e os perigos iminentes da época. Esse é o tema da exposição Luz e sombra. No set de filmagem da República de Weimar, que pode ser vista até 27 de abril no Museu de Cinema e Televisão em Berlim. A mostra homenageia, ao mesmo tempo, a fotografia no cinema.
Nos arquivos da Cinemateca Alemã, encontram-se inúmeras fotos tiradas durante décadas de filmagens. Elas foram feitas somente por uma razão: para promover os filmes em jornais e vitrines dos cinemas. Algumas das fotos serviram de modelo para cartazes de produções cinematográficas, como aquela em que Pola Negri faz o papel da indomável Carmen.
Já que muitas vezes era preciso ganhar o público com uma única foto, para o trabalho de divulgação eram escolhidos, naturalmente, retratos característicos e fotos de situações particularmente marcantes: rostos dramaticamente iluminados, pessoas perdidas numa natureza avassaladora, jogos ameaçadores de luz e sombra. A programação dos cinemas era bastante variada, e o preço dos bilhetes valia a pena.
Um grande momento do cinema
As invenções e inovações técnicas da década de 1920 – como automóveis produzidos em esteira industrial, aparelhos de rádio ou discos de vinil – não demoraram a entrar nas produções cinematográficas. O telefone se tornou o objeto mais popular para evitar um assassinato em filmes como Der Mann, der seinen Mörder sucht ou para prender um ladrão descarado em Emil und Detektive.
Em muitas produções, jovens mulheres emancipadas entravam no mercado de trabalho e batiam com toques rápidos em modernas máquinas de escrever. O filme da companhia de cinema Ufa Wege zu Kraft und Schönheit idealizava o culto ao corpo e a ginástica. Menschen am Sonntag mostrava um cotidiano bastante normal, e Sinfonia de uma grande cidade se concentrava em 24 horas da agitada vida de uma metrópole.
Na década de 1920, a situação econômica da Alemanha era tensa, o abismo entre pobres e ricos crescia rapidamente. A Última Gargalhada, de Friedrich Murnau, mostrava a vida num pátio berlinense, Kuhle Wampe contava a queda de uma família sem trabalho, enquanto em Metrópolis Fritz Lang desenvolvia a sombria visão de uma cidade do futuro, onde os ricos se divertiam na parte superior e os pobres trabalhavam e moravam no subsolo.
Fim de uma era
Nos estúdios, surgiram cenários monumentais de produções históricas, exóticas ou sombriamente futuristas. A interação entre arquitetura, espaço, luz e câmera garantiam grande intensidade e efeitos surpreendentes, nos mais diferentes estilos. Filmes com imagens poderosas como O Gabinete do Doutor Caligari estabeleceram padrões internacionais de expressão cinematográfica. O cinema da década de 1920 é considerado inovador.
O ano de 1932, o último da República de Weimar, foi marcado por decretos de emergência, confrontos políticos e problemas econômicos. O cinema oferecia uma programação contrastante, deleitava-se na felicidade do amor, sonhava com a ascensão. E Lilian Harvey cantava Irgendwo auf der Welt gibt's ein kleines bisschen Glück (em algum lugar do mundo há um pouco de felicidade).
Este capítulo notável na história do cinema alemão terminou abruptamente com a subida de Hitler ao poder. Muitos diretores, autores e cinegrafistas não puderam mais exercer sua profissão por serem de origem judaica. Muitos emigraram para os EUA – e levaram junto seu conhecimento para Hollywood e para o mundo.