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Prêmio Büchner

24 de outubro de 2010

O Prêmio Georg Büchner de 2010 foi concedido ao autor berlinense Reinhard Jirgl. Na antiga Alemanha Oriental, ele passou anos escrevendo sem publicar, mas hoje já faz parte do 'mainstream' literário alemão.

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Reinhard JirglFoto: picture-alliance/dpa

Jirgl muitas vezes causa dor aos leitores, declarou o crítico e jornalista berlinense Helmut Böttiger em seu discurso de homenagem ao autor premiado. Em seus romances, Jirgl usa elementos da cultura trivial e televisiva que escapam, no entanto, a qualquer consenso.

O premiado é o tipo de escritor contra o qual os professores de literatura sempre advertiram, constatou Böttiger. Ele representa algo de incômodo e seus romances costumam ser associados à cor negra. No entanto, ressalvou o crítico, esse negro tem um efeito esclarecedor.

O Georg Büchner, dotado em 40 mil euros, é considerado o prêmio literário mais significativo da Alemanha. Reinhard Jirgl recebeu-o neste sábado (23/10), no Teatro Municipal de Darmstadt.

Panorama do século 20

Buch Cover Die Stille Roman Hanser 2009 Rheinhard Jirgl
Foto: Hanser

Os horrores da Primeira e da Segunda Guerra, a inflação, a fuga e o desterro, o trauma da separação e da reunificação dos dois Estados alemães: em seus romances Die Stille (O Silêncio) e Die Unvollendeten (As Incompletas), Jirgl não omite nenhum grande tema do século 20. Rupturas de vida e situações limítrofes fascinam o escritor de 59 anos, cuja própria biografia é repleta de rompimentos e recomeços.

Jirgl escreveu seis longos romances que não puderam ser publicados. Em 1983, quando enviou sua primeira obra, Mutter Vater Roman (Romance de Pai e Mãe), à editora Aufbau, em Berlim Oriental, recebeu uma recusa de publicação, sob alegação de que o livro não tinha uma concepção histórica marxista.

"Quando a pessoa é rotulada dessa forma logo de início, todo o resto vai por água abaixo", afirma Jirgl. Nesse caso, um escritor precisa ser mesmo teimoso para não desistir e para mostrar a que veio.

Escrever nos bastidores

Reinhard Jirgl não se deixou desencorajar, muito pelo contrário. Continuou escrevendo seus romances nos bastidores e para tal até desistiu de sua profissão de engenheiro, passando a ganhar a vida como técnico de iluminação do teatro Volksbühne, em Berlim. No ano da reunificação alemã, ele finalmente conseguiu publicar seu primeiro romance, que na época não chegou a ter uma grande repercussão.

Só em 1993, o autor berlinense se tornou conhecido por um público mais amplo. Foi quando recebeu o Prêmio Alfred Döblin por seu romance Abschied von den Feinden (Despedida dos Inimigos) e foi incorporado definitivamente à lista de autores da editora Carl Hanser, onde publica até hoje. Em 1996, Jirgl abandonou suas atividades como técnico de palco e passou a viver só da literatura.

"Bate-estacas da literatura contemporânea"

O Prêmio Georg Büchner, o mais importante da Alemanha, representa um novo impulso para a carreira de Jirgl, que chegou a ser denominado por um crítico de "bate-estacas da literatura contemporânea".

Porträt Klaus Reichert
Klaus ReichertFoto: Deutsche Akademie für Sprache und Dichtung

Afinal, seus livros não são de fácil digestão. Para começar, sua ortografia peculiar já dificulta a leitura. Jirgl costuma colocar sinais de pontuação no início da frase, como o ponto de interrogação, por exemplo. "Isso interrompe o fluxo normal e linear de leitura, mas também faz o leitor refletir", elogia Klaus Reichert, presidente da Academia Alemã de Língua e Literatura, que concede o Prêmio Büchner desde 1951.

Jirgl escreve com grande paixão e sensibilidade narrativa sobre as rupturas e catástrofes do século 20, caracteriza Reichert. "Resolvemos premiar um escritor que tem a ousadia de usar a linguagem para escrever algo que não pode ser digerido tão facilmente", justificou.

Ao receber o prêmio, Jirgl se alinha a uma série de grandes escritores do século 20 que também o mereceram, entre os quais Friedrich Dürrenmatt, Heinrich Böll, Erich Kästner e Elfriede Jelinek.

Autorin: Sabine Damaschke (sl)
Revisão: Soraia Vilela