Reconstrução do Afeganistão custará bilhões
29 de novembro de 2001O diretor do Programa de Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (UNDP), Mark Malloch Brown, apresentou nesta quarta-feira, em Berlim, as suas primeiras estimativas quanto aos custos para a recuperação do Afeganistão. Brown foi designado pelo secretário-geral Kofi Annan, há duas semanas, para coordenar a reestruturação da economia daquele país. Ele calcula que o processo consumirá cerca de US$ 6,5 bilhões, ao longo de cinco anos.
Pelo menos foram estes os gastos com a reconstrução de Moçambique, cuja situação a ONU considera comparável à do Afeganistão. Este pais asiático encontra-se totalmente assolado por 20 anos de guerra: ruas e casas destruídas; diversas regiões sem eletricidade nem água corrente; uma agricultura negligenciada, agravada pela seca sem precedentes; além de um sistema econômico quase inexistente. Em contrapartida, as estimativas do Banco Mundial são de US$ 20 bilhões. Esta instituição toma como parâmetro um bilhão de dólares para cada milhão de habitantes.
Os 15 minutos de fama do Afeganistão
Um grande encontro dos países e organizações multilaterais interessados em apoiar a reconstrução afegã está marcado para o final de janeiro de 2002, em Tóquio. Para o diretor do UNEP é importante garantir um comprometimento, pois sua experiência mostra que o impulso doador tende a esmorecer rapidamente, após uma crise aguda. Segundo Brown, "o Afeganistão está vivendo seus 15 minutos de fama", e cabe aproveitá-los.
Isto se aplica também à atual conferência de paz no castelo de Petersberg, em Bonn, envolvendo diferentes grupos étnicos e políticos afegãos. Da mediação do encarregado da ONU, Lakhdar Brahimi, dependem muito as chances para a reestruturação nacional, acentuou Brown. Esta relação entre sucesso político e econômico funciona, aliás, nos dois sentidos: progressos visíveis no país poderão fortalecer o elemento pacificador.
Solidariedade a longo prazo
O estado de destruição do Afeganistão dita um determinado ritmo para os esforços de reerguimento. A primeira fase exclui iniciativas envolvendo grande volume de capital, já que faltam as estruturas exigidas pelos grandes investimentos. Este é o segundo motivo porque Brown se empenhará para que os eventuais doadores se comprometam a longo prazo: "Não precisamos de assentimento apenas para o período em que a reconstrução é barata, precisamos moldar a vontade política no formato de um plano de cinco anos".
O diretor do UNEP lembrou que será preciso coordenar as diferentes iniciativas de ajuda. Há também necessidade de um programa superior hierarquicamente, que permita o financiamento de tarefas freqüentemente negligenciadas pelos doadores. No momento, o Afeganistão carece tanto de um sistema bancário como de ministérios que funcionem.
A Alemanha se empenha na reconstrução
Inspirados pela conferência de Petersberg, representantes dos 15 principais países e organizações doadores pretendem reunir-se em 5 e 6 de dezembro em Bonn, para discutir possibilidades de ajuda humanitária para o Afeganistão. Trata-se da conferência anual do Afghanistan Support Group (Grupo de apoio para o Afeganistão – ASG), presidido pela Alemanha. Segundo porta-voz do Ministério alemão do Exterior, a ênfase estará no auxílio de emergência e para reconstrução.
Entre os demais membros da ASG estão a Grã-Bretanha, França, Canadá, Austrália e a Comissão Européia. Segundo informações do próprio grupo, já foram liberados € 800 milhões para ajuda imediata. Representantes da UE, da ONU e da Cruz Vermelha Internacional também estão convidados para o encontro.
O governo alemão anunciou que planeja dedicar cerca de € 80 milhões do orçamento de 2002 à reconstrução do Afeganistão.