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Desarmamento nuclear

23 de dezembro de 2010

Com ratificação do tratado Start pelo Senado dos EUA, Barack Obama festeja sua vitória mais importante em política externa. A câmara baixa do Parlamento russo deve aprovar pacto de desarmamento antes do fim do ano.

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Obama não escondeu o ar de triunfo ao falar à imprensaFoto: dpa

Com um ar claramente confiante, o presidente norte-americano, Barack Obama, falou à imprensa na quarta-feira (22/12). Ele fez da ratificação do Start uma questão pessoal, trabalhando intensamente para convencer os republicanos. Ao final, 13 senadores do partido adversário votaram com os democratas pela adoção do tratado, garantindo que fosse alcançada mais do que a necessária maioria de dois terços.

Para Obama, muito estava em jogo

"Esta aprovação no Senado é um sinal claro ao mundo de que democratas e republicanos estão lado a lado quando se trata de garantir nossa segurança", disse o presidente norte-americano após a votação. Com a vitória, Obama conseguiu provar ainda dispor internamente de capacidade de governo, apesar do limitado apoio que goza no Legislativo, e salvou sua reputação de Prêmio Nobel da Paz, defensor do desarmamento nuclear.

"Este contrato reforça nossa liderança no esforço para prevenir a proliferação de armas nucleares e lutar por um mundo pacífico", afirmou Obama. O presidente ressaltou ainda que as armas dos russos podem agora ser inspecionadas pelos inspetores norte-americanos.

Russos devem aprovar tratado rapidamente

Symbolbild Atomwaffen Verhandlungen USA Russland
Número de mísseis atômicos será limitadoFoto: AP

Desde que o antigo tratado de redução de arsenal atômico Start, de 1991, expirou há um ano não foram mais realizadas inspeções. Barack Obama e o presidente russo, Dimitri Medvedev, assinaram o novo pacto no dia 8 abril em Praga. O acordo prevê uma cota máxima de 1.550 ogivas nucleares em condições de operação em ambos os lados. O número de sistemas de lançamento nuclear, como mísseis, submarinos e aviões, deve ser limitado em 700 por país.

Medvedev saudou a ratificação pelo Senado norte-americano. Para que o tratado possa entrar em vigor, tem que ser ainda aprovado pelo Parlamento russo.

A câmara baixa do Parlamento russo poderá ratificar o novo Start ainda antes do fim do ano, possivelmente na sexta-feira. O presidente da Duma, Boris Gryzlov, disse que a câmara baixa poderia aprovar o tratado na sexta-feira, no caso de a resolução de ratificação do Senado dos EUA "não afetar o texto do acordo", segundo informação da agência de notícias estatal RIA.

O partido Rússia Unida, apoiado pelo Kremlin, domina ambas as câmaras do Parlamento, o que faz a aprovação ser tida como certa, já que o pacto é respaldado pelo presidente Dimitri Medvedev e pelo primeiro-ministro Vladimir Putin.

A chanceler alemã, Angela Merkel, também cumprimentou Obama. Ela expressou a esperança de que sejam realizados novos avanços no desarmamento nuclear.

Obama salientou que o Start é o acordo de desarmamento mais importante em quase duas décadas. "Ele nos traz segurança e reduz nossos arsenais nucleares e os dos russos", afirmou.

Republicanos quiseram forçar renegociação

Os republicanos, maioria no Senado, vinham resistindo à aprovação do tratado de forma cada vez mais ostensiva nas últimas semanas. E durante um longo tempo, tudo levava a crer que eles iriam ficar com a última palavra. Um dos argumentos dos conservadores era de que o pacto iria ser um empecilho à construção do escudo antimísseis planejado pelos EUA. Uma alteração do trecho do documento referente ao assunto iria requerer uma nova rodada de negociações entre americanos e russos.

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Senador Kyl, de defensor do pacto a estorvo para aprovaçãoFoto: AP

A votação final foi precedida por um debate marcado por profundas divergências entre os partidos, além de desconfiança em relação à Rússia. Jon Kyl, senador republicano do Arizona, discordou do argumento do governo de que o contrato era necessário para garantir uma continuidade da cooperação com a Rússia. Ele ressaltou que os russos tinham provado serem "parceiros de negociação difíceis no debate nuclear em relação ao Irã e à Coreia do Norte" e acusou Moscou de sempre agir em interesse próprio. "Sinais amistosos dos EUA não têm importância alguma nas discussões", alegou Kyl.

Jogando com o tempo

O senador sempre foi considerado um defensor do Start e foi por muito tempo o principal negociador dos republicanos. Mas agora ele queria adiar a votação para o próximo ano.

Um adiamento da votação diminuiria a chance de sucesso para o governo Obama, porque no Senado recém-eleito os democratas dispõem de apenas 53 votos, incluindo dois deputados independentes. Caso a votação tivesse que ser realizada somente após a posse do novo Senado, no próximo ano, o partido de Obama teria que convencer pelo menos 14 republicanos a votarem a favor do pacto para conseguir a maioria de dois terços exigida.

Impedir êxito de Obama

Para o cientista político Thomas Mann, do Instituto Brookings, em Washington, os republicanos só quiseram impedir o sucesso do presidente. Ele acha infundado o argumento dos republicanos de que o governo Obama queria aprovar o pacto a toque de caixa, diante de um processo de sete meses de negociação no qual foram realizadas 18 audiências e mais de mil perguntas foram esclarecidas.

Ele acredita que o conteúdo do Start seja menos importante do que a ratificação em si. "O pacto tinha que ser ratificado, mesmo que seja somente para que o processo de monitoramento e inspeções seja mantido. O mais importante é manter as negociações com os russos, para que seja preservada a credibilidade do processo de desarmamento nuclear global", avaliou.

Autora: Christina Bergmann / Márcio Damasceno
Revisão: Carlos Albuquerque