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PolíticaIsrael

Quem tem poder de influenciar o Irã no conflito com Israel?

Shabnam von Hein | Gulsen Solaker | Yun-Ching Chang | Cathrin Schaer
18 de abril de 2024

EUA e UE tentam exercer influência moderadora sobre governo Netanyahu. Mas quem conseguiria interagir com Teerã visando evitar uma nova escalada após um possível ataque retaliatório israelense?

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Militar bota a mão em destroços de um míssil
Porta-voz militar israelense mostra míssil balístico iraniano interceptado por IsraelFoto: Tsafrir Abayov/AP/picture alliance

Após o ataque aéreo maciço do Irã, Israel quer retaliação. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse nesta terça-feira (16/04) que o ataque seria realizado com cuidado e não por impulso.

Na noite de domingo passado, o Irã atacou Israel diretamente de seu território pela primeira vez, em retaliação a um ataque com mísseis contra o prédio da embaixada iraniana na capital síria, Damasco, em que vários membros do alto escalão da Guarda Revolucionária foram mortos. O Irã e seus aliados culpam Israel pelo ataque. Israel não emite comentários sobre o assunto.

De acordo com os israelenses, quase todos os drones, foguetes e mísseis de cruzeiro lançados pelo Irã foram repelidos. Agora, o Irã agora alerta que "a menor ação" de Israel contra "os interesses do Irã" resultará em uma "reação dura, abrangente e dolorosa".

Os EUA e a União Europeia (UE) estão tentando exercer influência moderadora sobre Israel.

Mas quem tem influência sobre o Irã e poderia neutralizar uma nova escalada após um possível ataque retaliatório de Israel?

Catar

De acordo com o gabinete presidencial iraniano, o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, conversou na nesta terça-feira por telefone com o emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani. O Irã e o Catar mantêm relações diplomáticas estreitas. Eles se tornaram particularmente próximos durante a crise do Catar. Entre 2017 e 2021, o Catar foi isolado no mundo árabe por instigação da Arábia Saudita. Entre outras coisas, Riad acusou o Catar de apoiar grupos terroristas na região. O Irã e o Catar apoiam a organização terrorista Hamas.

Com a autorização do governo israelense, o Catar é um dos mais importantes doadores de ajuda humanitária à Faixa de Gaza e é considerado um importante mediador entre Israel e o Hamas. Sob a mediação do Catar, Israel e o Hamas concordaram em novembro de 2023 com um breve cessar-fogo e troca de prisioneiros.

Omã

O Sultanato opera discretamente, abaixo do radar público, e há muito tempo desempenha um papel crucial como mediador entre o Irã e os EUA.

Sem Omã, os acordos alcançados nas negociações sobre o programa nuclear iraniano nas últimas duas décadas teriam sido inconcebíveis. Além disso, o país também está fazendo campanha para a libertação de prisioneiros americanos e europeus no Irã.

O New York Times noticia que desde o último fim de semana o governo dos EUA tem buscado diálogo com as autoridades iranianas através do governo de Omã e da Suíça. Os EUA e o Irã não têm relações diplomáticas. O contato deve ser estabelecido por meio de outros países.

Arábia Saudita

Historicamente adversária regional do Irã e aliada próxima dos EUA, a Arábia Saudita também está interessada em evitar que a situação se agrave ainda mais, pois o país depende das exportações de petróleo, que seriam prejudicadas no caso de uma ampliação da guerra.

Foi somente em 2023 que as relações entre a Arábia Saudita e o Irã foram normalizadas, graças à mediação da China. Os dois países trocaram embaixadores novamente, concentraram-se no aumento do comércio e até discutiram a cooperação em defesa.

No entanto, a Arábia Saudita não tem poder para exercer nenhuma influência direta sobre o Irã devido à sua história e, em vez disso, opta por uma estratégia indireta: o ministro das Relações Exteriores saudita, Faisal bin Farhan bin Abdullah, sugere a China como mediadora. Em uma conversa com seu colega chinês, o ministro saudita disse que seu país tem grandes expectativas e espera que a China desempenhe um papel ativo e importante para que a situação ameaçadora no Oriente Médio volte à normalidade.

China

Pequim afirma querer evitar uma nova escalada no Oriente Médio. Pelo menos é o que informa a agência de notícias estatal chinesa Xinhua. A China é o parceiro comercial mais importante do Irã. Os dois países também cooperam militarmente. Em sua conversa telefônica com seu colega iraniano, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, pediu nesta terça-feira ao Irã que use de moderação. Wang também garantiu ao Irã que a China, como poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, condenou o ataque com mísseis ao prédio da embaixada iraniana em Damasco. No entanto, no próprio grêmio da ONU não foi possível chegar a um acordo sobre uma condenação.

Wang Yi, ministro do Exterior da China, aperta mão de seu colega Faisal bin Farhan, da Arábia Saudita
Wang Yi, ministro do Exterior da China, com seu colega Faisal bin Farhan, da Arábia Saudita, em imagem de arquivoFoto: Andy Wong/AP/picture alliance

"A China não quer que a situação no Oriente Médio saia do controle. O país já está enfrentando o aumento dos custos de transporte e um aumento drástico nos riscos de fornecimento de energia", disse James Dorsey, cientista político da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, ao jornal cingapuriano Zaobao.

Entretanto, a China não tem canais de comunicação com Tel Aviv, segundo Dorsey. "A única coisa que a China pode fazer é apelar a Israel, juntamente com a comunidade internacional, para evitar uma escalada e reagir com moderação."

Rússia

Tradicionalmente, Moscou tem boas relações políticas com todos os atores envolvidos: Israel, os grupos palestinos, a Arábia Saudita e o Irã. A Rússia é considerada uma aliada próxima do Irã. Teerã e Moscou expandiram ainda mais sua cooperação sob as sanções dos EUA. O Irã fornece drones para o Exército russo, que são usados contra a Ucrânia.

A crescente tensão entre o Irã e Israel está desviando a atenção da guerra na Ucrânia. A Rússia está realmente interessada em diminuir a escalada no Oriente Médio?

"Qualquer coisa que leve a um aumento nos preços da energia, especialmente preços mais altos do petróleo, é benéfico para a Rússia, pelo menos a curto e até mesmo a médio prazo", diz David Sharp, especialista militar israelense, em entrevista à DW. "Mas se o Irã se envolver em uma grande guerra e se uma guerra for travada contra o Irã, teoricamente seria possível que o fornecimento de armas iranianas para a Rússia venha a sofrer restrições."

Moscou pediu moderação tanto de Israel quanto do Irã. Em uma conversa com o chefe do Conselho de Segurança Nacional de Israel, Zachi Ha-Negbi, nesta segunda-feira, o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, enfatizou a necessidade de "contenção de todos os lados do conflito no Oriente Médio, para evitar uma escalada". Patrushev enfatizou que a Rússia é da opinião de que as diferenças devem ser resolvidas "exclusivamente por meios políticos e diplomáticos".

Turquia

A Turquia tem apoiado a posição palestina desde os primeiros dias do conflito no Oriente Médio. Na semana passada, Ancara chegou a anunciar sanções econômicas contra Israel. O governo turco também teme mais tensão e violência entre Irã e Israel. O governo turco também teme novas tensões e violência entre o Irã e Israel e pediu moderação a ambas as partes.

"Diferentemente de outros países da região, como Catar, Omã e Arábia Saudita, a Turquia tem uma longa fronteira terrestre com o Irã", diz Gülru Gezer, diplomata e diretora para política externa da Fundação Turca de Pesquisa em Política Econômica (TEPAV). "Uma possível instabilidade no vizinho Irã poderia ter sérias consequências para a Turquia, especialmente no que diz respeito à migração do Irã. A Turquia infelizmente já teve que passar por isso com as guerras na Síria e no Iraque."