Queda na produção no Brasil faz preço de suco disparar na UE
24 de maio de 2024"A crise do suco de laranja só piora", "O suco de laranja está mais e mais caro", "O suco de laranja só vai ficar mais caro". Esses são alguns dos títulos de reportagens publicadas na imprensa alemã nas últimas semanas, diante de novos aumentos expressivos do preço da bebida, que deve ficar ainda mais cara na Alemanha e na União Europeia por causa de problemas de produção no Brasil.
Segundo representantes do setor de sucos da Alemanha, o preço do suco de laranja cotado na bolsa está 150% mais caro em comparação com o início de 2022. E os consumidores têm sentido esse aumento, com alguns jornais alemães apontando que o suco, que costumava ser um item básico, agora está virando um artigo de luxo, tal como já foi até a metade de década de 1960.
Segundo associações do setor, o suco de laranja foi a bebida de fruta mais consumida na Alemanha em 2023. O consumo anual por habitante chegou a 6,8 litros.
Ao longo de 2023, problemas nas safras dos Estados Unidos e da Espanha já haviam pressionado os preços. Agora, a mais recente disparada tem origem no Brasil, aponta Klaus Heitlinger, diretor da Associação da Indústria Alemã de Sucos de Frutas.
O Brasil é o maior exportador de laranjas do mundo, respondendo por 80% do mercado global da fruta.
Clima atípico e doença
A produção brasileira se concentra no chamado "cinturão citrícola", formado por São Paulo e triângulo/sudoeste de Minas Gerais. A safra de 2023/2024 no cinturão já havia sido 2,22% menor em comparação com a temporada anterior, mas, agora, a previsão para 2024/2025 é substancialmente pior. Segundo projeção da brasileira Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), a safra de 2024/2025 deve ter uma queda de 24,3% em relação à safra anterior. Com uma previsão de 232,38 milhões de caixas de 40,8 quilos, a próxima safra brasileira pode ser a pior desde 1988/1989.
O estoque de suco de laranja do Brasil também já havia atingido no ano passado o segundo menor volume dos últimos 13 anos. Em março, o mercado brasileiro de laranja já tinha registrado o maior preço real em 30 anos, com a caixa da fruta saindo por cerca de R$ 100 em algumas regiões de São Paulo. Por causa da dominância do Brasil no setor, não há concorrentes da mesma escala para compensar o potencial déficit mundial de laranjas.
Segundo especialistas do setor, a queda na produção no Brasil ocorre por uma combinação de temperaturas atípicas e a incidência da "doença do dragão amarelo", ou greening, uma doença bacteriana que ataca os pomares e que foi detectada pela primeira vez no Brasil há 20 anos. A combinação climática e a doença já haviam afetado safras dos Estados Unidos, outro grande produtor mundial. Em 2022/2023, a safra de laranja nos EUA foi a pior já registrada em 86 anos. Na Espanha, a maior produtora de laranja da UE, secas prolongadas castigaram as últimas colheitas.
"O tempo seco e quente impactou a produção das laranjeiras, além de um cenário agravado com alta incidência de greening nas plantações. As temperaturas subiram muito desde a chegada do fenômeno El Niño que se instalou em junho do ano passado e provocou maior evapotranspiração e a redução da umidade do solo. Ao todo foram três ondas de calor, após o primeiro florescimento", disse Vinícius Trombin, coordenador da Pesquisa de Estimativa de Safra do Fundecitrus, durante a divulgação das previsões do setor.
Fabricante de sucos alemã apela para substitutos
Diante da disparada do preço da laranja no mercado internacional, alguns fabricantes de sucos na Alemanha têm procurado substitutos – e enfurecido consumidores. Em maio, a imprensa alemã apontou que a fabricante Eckes-Granini, uma das gigantes do setor no país, passou a diluir seu suco de laranja com água adocicada e doses de vitamina C. Dessa forma, o suco que era anunciado como "100% laranja" agora só tem 50% do seu conteúdo extraído da fruta.
Associações de consumidores alemãs denunciaram a manobra, acusando a empresa de não ter divulgado apropriadamente a mudança e induzindo compradores ao erro. Na prática, os consumidores agora estão pagando o mesmo por um suco com 50% menos laranja. Além, a diluição também aumentou o nível de açúcar no suco, apesar de a empresa ter em 2023 anunciado que estava priorizando a redução da substância em seus produtos.
Diante das reportagens críticas, a empresa tentou se defender afirmando que a manobra foi colocada em prática para evitar repassar aumentos de preços.
"Para manter estáveis os preços de varejo recomendados da linha Granini este ano, substituímos o suco de laranja Granini (teor de fruta 100%) por um néctar de laranja (teor de fruta 50%). Este ajustamento nos permite, por um lado, garantir a disponibilidade apesar da atual situação de escassez e, por outro lado, manter os preços constantes apesar do aumento significativo do preço das matérias-primas", declarou a Eckes-Granini.
jps/cn (ots)