Quatro décadas de influência de Akbar Hashemi Rafsanjani
9 de janeiro de 2017Desde a criação da República Islâmica, Akbar Hashemi Rafsanjani sempre provou ser capaz de influenciar decisivamente as mais importantes fases da existência de seu Estado, seja como tático e estrategista astuto, seja como político e empresário inteligente, apesar das restrições impostas a ele pelos clérigos conservadores.
Nos primeiros 15 anos seguintes à revolução, ele foi o segundo estadista mais importante no país, depois do fundador do novo Estado, o aiatolá Ruhollah Khomeini. Agindo com punho de ferro contra os oposicionistas dentro e fora do país e com estratégias eficientes contra os religiosos conservadores, ele muitas vezes surpreendeu, mostrando ser o homem certo para situações de crise.
Durante quase quatro décadas, o político nascido em 1934 em Bahreman, no sudeste iraniano, esteve exposto às críticas mais rigorosas, tanto por parte da oposição secular quanto dos clérigos conservadores de direita. Pois, nas primeiras duas décadas da República Islâmica, nenhum outro político do Irã se engajou tanto pelas metas estabelecidas por Khomeini. De forma esperta e sutil, Rafsanjani lutou para estabelecer a onipotência do Estado recém-nascido, custasse o que custasse.
Após a morte de Khomeini
Após a morte do aiatolá, em 1989, Rafsanjani manteve sua influência no Conselho de Especialistas, responsável pela escolha do novo líder supremo do Irã. Até hoje, este é Ali Khamenei, nomeado sucessor de Khomeini apesar de não ser jurista erudito, como prescrevia a Constituição.
O próprio Rafsanjani foi eleito presidente no mesmo ano, mantendo o cargo até 1997. Enquanto, em diversos aspectos, o inexperiente líder Khamenei se via obrigado a se curvar à influência do experiente chefe de Estado, seu mentor expandia o próprio poder em todos os setores do Estado.
Após a bem-sucedida fase de estabelecimento político do Estado e repressão de todos os movimentos oposicionistas, Rafsanjani passou a agir no sentido da estruturação econômica e da abertura na política externa, a fim de libertar o Irã do isolamento internacional.
A privatização e a livre economia de mercado introduzidas por ele trouxeram ao país um impulso econômico que colocou em foco uma nova classe média, acompanhada dos representantes de seus interesses políticos.
Nos oito anos da presidência de Rafsanjani, por um lado dezenas de oposicionistas dentro e fora do Irã foram classificados como ameaça à segurança e neutralizados por agentes do serviço secreto. Além disso, o político e seus familiares foram acusados durante anos de se locupletar, ou com a criação de um Estado rentista ou com os rendimentos do petróleo e acordos econômicos internacionais.
Por outro lado, o movimento de reforma e a ampliação da sociedade civil, iniciados pelo presidente sucessor Mohammad Khatami (1997-2005), teriam sido praticamente sido possíveis sem o apoio político e financeiro de Rafsanjani. A partir daí, ele se engajou consequentemente pelos reformistas e contra o enfurecido Khamenei, embora sem sinalizar qualquer desacato à autoridade do líder.
Influência a partir dos bastidores
Também sob o governo reformista, a sociedade civil iraniana sofreu repressão, desta vez exercida sobretudo pela Justiça conservadora e os radicais guardiães da revolução, visando fortalecer a autoridade abalada do líder Khamenei.
Ao ser derrotado por Mahmoud Ahmadinejad nas eleições presidenciais de 2005, Rafsanjani se queixou inutilmente ao Conselho dos Guardiães da Constituição. Durante os quatro anos seguintes, quando se retirou da cena política, ele e sua família foram alvos de diversas calúnias.
Forçado para fora do campo pelos conservadores, nas eleições seguintes de 2009 Rafsanjani se engajou com veemência pelo candidato Mir-Hossein Mussavi, apoiando mais tarde os protestos do Movimento Verde Iraniano por supostas fraudes eleitorais.
Após criticar Khamenei durante um sermão de sexta-feira, Rafsanjani ficou proibido de realizar as prédicas. Seu último triunfo político foi a vitória de Hassan Rohani no pleito presidencial de 2014, dando novo impulso ao debilitado movimento reformista.
Rafsanjani viu a filha e o filho serem presos por um Estado que ele mesmo criara. Em suas memórias, em vários volumes, ao mesmo tempo em que lamenta a dureza excessiva do Estado contra a oposição, ele adverte seus rivais conservadores de que um dia poderia abrir o cofre de seus segredos de Estado e revelar as atrocidades dos adversários.
Akbar Hashemi Rafsanjani morreu em 8 de janeiro de 2017 no Teerã, aos 82 anos de idade.