Provável destino de Snowden, Equador depende cada vez mais da China
26 de junho de 2013O pedido de asilo político de Edward Snowden – que vazou informações secretas da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA para a imprensa – ao Equador chamou a atenção para o declínio da influência política e econômica dos Estados Unidos na América do Sul. Em vez de seguir a agenda de Washington, muitos países se voltam para China.
O Equador, por exemplo, depende cada vez mais do dinheiro vindo de Pequim. Nesta segunda-feira (24/6), o presidente Rafael Correa anunciou um acordo gigantesco com o governo chinês. Segundo o jornal El Comércio, a empresa petrolífera estatal China National Petroleum Company (CNPC) investirá 12,5 bilhões de dólares na modernização e construção de novas refinarias no país americano, um membro da Opec (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).
Apenas para a construção da nova Refinaría del Pacífico foram destinados 10 bilhões de dólares. O restante será investido em mais três refinarias: La Libertad, Amazonas e Esmeralda, localizadas na costa do Pacífico. Com a nova cooperação, a PetroChina, uma subsidiária da CNPC, terá uma participação de 30% nas novas refinarias.
O megainvestimento é sintomático da crescente dependência financeira equatoriana do capital chinês. Em fevereiro último, o Banco de Desenvolvimento da China pagou a primeira parcela, no valor de 1,4 bilhão de dólares, de um empréstimo de 2 bilhões de dólares. O dinheiro será investido em infraestrutura e no orçamento do Estado.
Além disso, a imprensa equatoriana divulgou que, a partir de 2015, empresas chinesas instalarão linhas de alta voltagem em diversas áreas urbanas do país.
Exportador e importador
Projetos para investir não faltam no Equador. O governo de Correa, em seu terceiro mandato – o presidente foi reeleito em fevereiro último –, construirá oito usinas hidrelétricas, além das refinarias. Hoje o país exporta principalmente petróleo bruto e se vê obrigado a importar derivados a preços bem mais elevados.
Antes do megainvestimento na Refinaría del Pacífico, a dívida do Equador com a China já era de 7,8 bilhões de dólares, o que corresponde a mais de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país americano.
Os chineses começaram a se tornar o maior credor do país em dezembro de 2008, quando o governo equatoriano decretou a moratória das suas dívidas. Desde então, o país não tem mais acesso aos mercados financeiros internacionais e não consegue empréstimos do Banco Mundial ou do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Ainda assim, o desenvolvimento econômico do Equador é positivo. Depois da introdução do dólar americano como moeda corrente, em 2000, a economia cresceu em média 5% ao ano até 2008, início da crise financeira mundial. Após uma queda por causa da crise, o PIB voltou a crescer a partir de 2010, chegando a 8% em 2011. No ano passado esteve pouco abaixo de 5%. As previsões para este ano variam entre 3,8% e 4%.
Fuga dos investidores estrangeiros
Assim como em muitos países latino-americanos, o crescimento econômico do Equador é impulsionado por investimentos públicos de grande porte em programas sociais, que por sua vez são financiados com o lucro das exportações de petróleo. A venda de petróleo bruto responde por 58% do dinheiro obtido com as exportações.
Desde que assumiu em 2007, Correa nacionalizou boa parte da indústria petrolífera, o que afugentou os investimentos de empresas estrangeiras. De acordo com a Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), o Equador é um dos países da região que menos recebem investimentos estrangeiros diretos, em razão da falta de garantias legais.
A falta de investimentos teve efeito negativo na produção de petróleo. Desde 2008, ela está estagnada em 500 mil barris por dia. Com 184 milhões de barris por ano, o país produz hoje menos do que há sete anos, segundo o El Comercio.
Para poder produzir, o Equador depende do dinheiro de fora, afirmou recentemente Mauricio Dávalos, ex-ministro da Agricultura. Se mantiver o atual modelo de desenvolvimento, a dependência da China deverá continuar ainda por muito tempo.