Sob o mesmo teto
3 de abril de 2008A avó viver na mesma casa que seus filhos, netos e até mesmo bisnetos é fato raro na Alemanha atual. Somente em dois entre cem domicílios encontram-se diferentes gerações dividindo o mesmo teto
No entanto, com o desaparecimento da grande família, desaparecem também vantagens do dia-a-dia. Quem cuida das crianças quando os pais não estão em casa? Quem leva as compras para quem não as pode carregar? Quem pode emprestar um carro a quem não tem?
Em Bonn, um projeto residencial reúne 66 pessoas de diferentes gerações cansadas de viver sozinhas – famílias, casais, solteiros, mães, viúvas, avós, aposentados ou deficientes em cadeira de rodas. Os últimos moradores do conjunto residencial Amaryllis se mudaram em janeiro último.
Possibilidade de convivência
"Eu não sou com certeza uma avó perfeita, mas acho ótimo poder ensinar tricô ou crochê às crianças", afirma Helga Arenhövel. As crianças às quais se refere a senhora de 74 anos são, no entanto, as dos vizinhos.
Os moradores encaram isto de forma bastante pragmática. Não se trata somente de ajudar vizinhos. Cada um tem suas quatro paredes e pode decidir se prefere morar sozinho, numa casa ou numa república. O que importa é a possibilidade de convivência.
Para Jochen Lampe, de 44 anos, portador de deficiência física em cadeira de rodas, a alternativa seria uma moradia com acompanhamento assistencial. "Faltaria o componente social que aqui existe. São tantas mãos que ajudam. No dia-a-dia, as pessoas têm receio de se aproximar dos deficientes", afirma Lampe.
Uma mão amiga
Diferentes gerações vivendo num só domicílio sem laços familiares é novidade na Europa. A tendência a residências com um ou dois moradores aumenta não só na Alemanha. Nos países escandinavos, existem mais apartamentos de solteiros que domicílios com mais de uma pessoa.
Somente Espanha, Irlanda e Portugal têm média de três habitantes por domicílio. Mas residências com mais de duas gerações tornaram-se raridade também nesses países.
Muitas vezes, são coisas simples que os moradores do projeto residencial desejam: crianças gritando no corredor, comer com os vizinhos, uma conversa na varanda ou uma mão amiga.
"Ninguém aqui é obrigado a aprofundar a amizade com ninguém. Isto nem é possível, se tratando de 66 moradores. Com alguns, tem-se mais amizade que com outros", afirma Anneke Berger, que vive numa casa geminada com seu marido e três filhos.
Território emocionalmente virgem
A curiosidade em torno da vida conjunta é grande entre todos os moradores. Em termos emocionais, o projeto residencial é território virgem para todos. E cada uma tem suas próprias perguntas. "O que acontece se eu me tornar um caso que necessita cuidados intensivos?", pergunta Helga Arenhövel.
"O que faremos quando as crianças saírem de casa?", questiona Anneke Berger. "Em que porta eu devo bater quando meus pais não estiverem em casa?", pergunta sua filha de 12 anos.
Tais perguntas ainda não podem ser respondidas. Trata-se agora de fase de teste. Trata-se também da certeza de não se estar sozinho, quando se apresentarem mudanças na situação de vida.