Projeto em Berlim pensa soluções para a vida urbana
30 de junho de 2012Uma mistura entre um local para a reflexão sobre a cidade e um centro comunitário, o Guggenheim Lab tem como objetivo pensar soluções para a vida urbana através de uma série de oficinas e eventos.
Em seus primeiros dias o Lab recebeu famílias, estudantes e curiosos que queriam participar do que os organizadores chamam de intervenção urbana. "A grande sacada por trás desse projeto é que, através das oficinas, as pessoas aprendem a fazer coisas sozinhas e assim moldar sua própria cidade", declarou Maria Nicanor curadora geral do Lab em Berlim. "Às vezes, você pode aprender mais fazendo do que falando".
Fazendo as coisas se moverem é o tema de uma das oficinas que ensina a modificar aparelhos de mobilidade, como bicicletas, cadeiras de rodas, carrinhos de bebês e andadores, deixando-os mais funcionais, robustos e personalizados.
Mão na massa
Outra parte do projeto, chamada de Fortalecimento de Tecnologias, teve a curadoria de José Gómez-Marquéz, diretor do programa para Inovações em Saúde Internacional, uma iniciativa do Instituto de Tecnologia de Massachusetts em Boston.
"Estamos interessados em tecnologias que vão incentivar os berlinenses a fazerem coisas com as próprias mãos", explicou Anna Young, co-organizadora, juntamente com Gómez-Márquez. "Isso pode acontecer tanto com a fusão entre o mundo físico e o digital, através de sensores e microcontroladores, ou de maneira mecânica, com um liquidificador que funciona com a energia gerada por uma bicicleta".
Ao lado de Young e Gómez-Marquéz, alguns estudantes do Instituto ajudam a ministrar as oficinas. Emily Johnson ensinou um grupo de crianças a transformar uma escova de dente em um robô, utilizando um telefone celular e duas pilhas. O estudante de engenharia mecânica Ben Eck estava construindo um carregador USB para uma bicicleta com um pequeno dispositivo que ajuda a carregar as luzes da própria.
Capital criativa da Europa
O Guggenheim Lab é um projeto de longo prazo. Durantes seis anos, ele passará por nove cidades ao redor do mundo.
"Temos alguns critérios para a escolha das cidades por onde o Lab acontece", disse Maria Nicanor, especificamente se referindo ao crescimento e densidade. "Basicamente escolhemos megacidades do futuro". Entre as escolhidas estão Nova York e Mumbai.
"Berlim não se encaixa nesse critério, na verdade a cidade é quase o oposto", completou Nicanor. "Qual a cidade na Europa onde há mais criatividade e coisas interessantes acontecendo? A resposta é certamente Berlim, sendo ou não uma megacidade. Todo mundo na Europa está se mudando para Berlim".
No entanto, o Lab encontrou resistência na cidade. Protestos contra o projeto patrocinado pela BMW foram feitos pelos moradores de Kreuzberg, onde inicialmente o Lab iria acontecer. O bairro, que já foi considerado um dos mais alternativos da cidade, foi um dos mais afetados pela gentrificação.
A resposta dos organizadores foi continuar o projeto de maneira mais discreta. Ele acontece, com a entrada não sinalizada, no pátio de um complexo de edifícios em Prenzlauerberg. O Guggenheim Lab é tão discreto e benigno que parece mais um centro comunitário para adultos do que um tirano corporativo.
"Meses antes da abertura do Lab, já estávamos discutindo a gentrificação e o aumento dos alugueis, o que é uma das intenções do projeto", explicou Nicanor. Ela diz entender a razão dos protestos, mas disse que a reação foi "totalmente desproporcional" em relação a um "pequeno projeto".
Desde o início do evento, apenas alguns manifestantes apareceram para protestar contra o prefeito de Berlim, Klaus Wowerheit. Nada que pudesse interferir na realização e na programação do Lab.
Testando o potencial urbano de Berlim
Em um dia chuvoso no decorrer do Lab, um grupo de 15 berlinenses seguia Colin Ellard, professor de psicologia da Universidade de Waterloo no Canadá, por diferentes locais nos bairros de Mitte e Prenzlauerberg. Eles observavam uma dilapidada casa ocupada ao lado de um complexo de apartamentos renovados, próximo ao transito intenso da Rosenthalerplatz.
Os participantes carregavam Blackbarries que levantavam questões, pedindo para que refletissem sobre o que os rodeava. Alguns deles utilizavam pulseiras com sensores que mediam seus pulsos em relação aos locais em que estavam.
"Design de ambiente significa saúde", disse Ellard, que conduzia o passeio como parte de sua pesquisa. "Estou interessado em como o design de um ambiente influencia nossos sentimentos. O estresse relacionado a aonde vamos, nosso comportamento e para onde olhamos. Alguns tipos de ambientes, ou como eles são projetados, geram mais estresse que outros".
Por seu tamanho e densidade, o grau de estresse em Berlim é bem menor do que em lugares como Nova York ou Mumbai.
O Guggenheim Lab, que acontece até o dia 29 de julho, deixou uma impressão, de resistência ou aceitação, entre moradores de Berlim. Porém, somente o tempo dirá o quanto eficaz, e necessário, o projeto foi em explorar o potencial urbano da cidade.
Para Anna Young, a capital alemã é uma cidade cheia de possibilidades. "Berlim é cheia de cultura, no sentido que as pessoas expressão suas opiniões, cultural e politicamente. Para esse tipo de projeto dar certo, você precisa de uma cidade onde as pessoas se sintam confortáveis em discutir problemas e estão abertas a novas idéias", completou.
Author: Melanie Sevcenko (mas)
Revisão: Francis França