Integração na Europa
25 de agosto de 2010Antonietta Madeiros gosta de ilustrar livros infantis. Ela nasceu na Bolívia, estudou design em Buenos Aires, na Argentina, e depois retornou a seu país de origem para trabalhar com livros didáticos. No entanto, depois que conheceu seu marido e optou por viver em Copenhague, capital da Dinamarca, sua carreira foi abruptamente interrompida.
"Encontrei trabalho apenas em cafés, ajudando pessoas a subirem em ônibus ou distribuindo folhetos em conferências", relembra Madeiros. Todas as vezes em que ela se candidatou a vagas que exigiam profissionais com qualificação semelhante à sua, a resposta era negativa. "Pensei que ficaria louca. Mandei meu currículo para tantas agências e para tantos escritórios que trabalham com design, mas a resposta que recebia era sempre 'nei, tak: não, obrigada'", conta.
As ilustrações nos livros didáticos na Bolívia são marcadas por uma mitologia milenar indígena. Logo, a linguagem simbólica usada por Madeiros em seu trabalho era pouco ou nada compreendida na Dinamarca. Como uma criança, ela passou os primeiros anos no país estrangeiro tentando, como uma criança, aprender tudo a partir do zero.
Perda de identidade
"Tudo é novo, até cozinhar. Tive que aprender a cozinhar coisas congeladas", conta. A boliviana também teve que superar muitos obstáculos quando ia às compras, já que todas as informações dos rótulos eram em dinamarquês, sueco, norueguês ou finlandês.
A auto-estima de Madeiros ficou muito abalada, assim como a da maioria dos imigrantes que frequenta uma escola de idiomas. "Os dois primeiros anos foram muito difíceis. Todo mundo fala bastante de integração, mas acho que, ao mesmo tempo, há um processo de desintegração. Muitos imigrantes perdem sua identidade, porque precisam se orientar em um mundo totalmente diferente. Tudo o que aprenderam antes, de repente, está errado", conta Madeiros.
Foi com a ajuda de uma mentora que ela começou a se adaptar na Dinamarca. A editora de livros Eva Maria Fredensborg explicou à designer boliviana como eram feitas as ilustrações para as publicações infantis dinamarquesas e orientou a boliviana também em questões cotidianas básicas. "Eu queria mudar algo realmente, em vez de ficar apenas lendo a respeito das estatísticas, que mostram milhares de mulheres estrangeiras na Dinamarca sem uma rede de contatos e sem chance de usar suas habilidades profissionais. Eu quis ajudar uma pessoa", revela Fredensborg.
Modelo de integração
Juntas, Madeiros e Fredensborg criaram o Programa de Aconselhamento para Mulheres. Segundo Elisabeth Moeller Jensen, diretora da Biblioteca Feminina Kvinfo (Centro Dinamarquês para Informação sobre Gênero, Igualdade e Etnia), o modelo, hoje bem-sucedido, surgiu por acaso.
"Minha explicação para o grande sucesso do Kvinfo está na forte discussão sobre imigração e integração na Dinamarca. Como em muitos outros países europeus, esse debate foi decisivo nas últimas três eleições. A população dinamarquesa é completamente dividida quando o assunto é a forma como os imigrantes devem ser tratados", diz Moeller.
Uma das discussões sobre integração no Kvinfo deu origem à ideia de criação de uma rede de aconselhamento. Depois de uma troca de e-mails com as usuárias, a ressonância foi impressionante. Nesse ínterim, milhares de mulheres dinamarqueses já se registraram como mentoras – número superior a programas semelhantes em outros países.
"Com a nova legislação, tornou-se muito difícil obter a cidadania dinamarquesa. Muitas mulheres querem algumas mudanças nessa política. E elas se perguntam: como posso contribuir pessoalmente para ajudar as imigrantes?"
Sinal positivo
Moeller Jensen acredita que muitas especialistas se registraram como mentoras junto ao Kvinfo na tentativa de dar um sinal positivo a essas estrangeiras. Além disso, a organização preocupa-se em indicar mentoras a estrangeiras que tenham experiência profissional e metas semelhantes. Assim como em muitos países, também na Dinamarca a maioria dos trabalhos aparece por meio de redes de contatos pessoais. Através de relações pessoais entre mentoras e aprendizes, toda uma rede de contatos se abre para as imigrantes.
"Embora tenhamos outros critérios, nossos resultados podem ser comprados aos de outras organizações profissionais. Cerca de 25%¨das mulheres que têm mentoras acabaram encontrando trabalho. Essa é uma boa média, tomando por base outros projetos dos quais já ouvi falar", diz Jensen.
Com a ajuda de sua mentora Eva Maria Fredensborg, Antonietta Madeiros também conseguiu estabelecer contato com editoras de livros e autores interessados em suas ilustrações. Hoje, a designer boliviana ainda não pode viver completamente do seu trabalho, mas seus novos contatos profissionais a ajudaram a renovar não só sua auto-estima, como também seu traço, que se tornou compreensível também para as crianças dinamarquesas.
Autora: Jutta Schwengsbier (np)
Revisão: Soraia Vilela