Presidente da Argélia desiste de concorrer a quinto mandato
12 de março de 2019O presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, anunciou nesta segunda-feira (11/03) que desistiu de concorrer a um quinto mandato consecutivo nas próximas eleições presidenciais, cedendo aos apelos de milhares de manifestantes opositores que saíram às ruas do país nas últimas semanas.
O pleito, contudo, foi suspenso por ora. Em comunicado divulgado na imprensa argelina, Bouteflika anunciou o adiamento das eleições, antes marcadas para 18 de abril, e disse que uma nova data para a votação será estabelecida em uma conferência nacional.
Essa mesma conferência, a ser liderada por "uma figura nacional independente, consensual e experiente", ficará responsável por supervisionar a transição de governo, bem como elaborar uma nova Constituição para o país, que será submetida à população em referendo. Os trabalhos devem ser finalizados até o fim deste ano, com eleições sendo convocadas em seguida.
Ao anunciar que deixará a presidência da Argélia após 20 anos no poder, Bouteflika afirmou que seu último dever como presidente é contribuir para a fundação de uma nova república e de um novo sistema que esteja "nas mãos de novas gerações de argelinos".
Críticos temem, contudo, que as movimentações, incluindo o adiamento das eleições, possam abrir caminho para que o presidente avance um sucessor escolhido a dedo por ele mesmo.
"Eu decidi fazer reformas substanciais na formação do governo o mais rápido possível. Tais reformas serão uma resposta apropriada às demandas que vieram de vocês", diz ele no comunicado, referindo-se às manifestações populares que pediam que ele deixasse o poder.
Em meio à série de anúncios, o dia foi marcado também por mudanças no alto escalão do governo. O primeiro-ministro, Ahmed Ouyahia, outro alvo dos protestos, deixou o cargo, sendo substituído pelo ministro do Interior, Noureddine Bedoui, que terá que formar um novo gabinete. Ramtane Lamamra, assessor diplomático de Bouteflika, foi nomeado vice-primeiro-ministro.
A decisão do presidente de não concorrer a um quinto mandato foi anunciada após semanas de protestos que exigiam sua renúncia e a queda do regime, acusado de corrupto pelos opositores. Manifestações dessa magnitude não eram vistas há décadas na Argélia.
"A voz do povo foi ouvida", afirmou o diplomata argelino Lakhdar Brahimi, ex-ministro do Exterior e enviado especial da ONU, após se reunir com Bouteflika nesta segunda-feira. "Jovens que tomaram as ruas agiram de forma responsável e passaram uma boa imagem do país. Precisamos transformar essa crise em um processo construtivo."
Nesta segunda, argelinos voltaram às ruas para comemorar o anúncio do governo. "De forma pacífica, nós derrubamos o fantoche!", entoavam os manifestantes na capital, Argel. Motoristas soavam buzinas, enquanto opositores erguiam bandeiras argelinas e cantavam o hino nacional.
Bouteflika, de 82 anos, está desde 1999 na presidência do país norte-africano. Em 2013, ele sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) que o colocou numa cadeira de rodas e o impediu de participar da campanha para as eleições presidenciais de 2014. Mesmo assim, venceu o pleito.
Desde então, Bouteflika não fala em público. Suas aparições são raras, limitadas a imagens gravadas pela emissora estatal durante conselhos de ministros e visitas de líderes estrangeiros.
Faz cinco anos que ele não viaja para compromissos no exterior. Chegou a cancelar de última hora, alegando recaídas de saúde, reuniões já confirmadas com líderes como a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman.
Com preocupações crescentes, nos últimos anos, sobre se a saúde debilitada de Bouteflika lhe permite tomar decisões e agir de forma independente, os detalhes sobre a saúde do presidente argelino vêm sendo tratados como segredo de Estado. No domingo, ele retornou ao país após duas semanas internado num hospital na Suíça.
A oposição argelina acusa o mandatário de ser um presidente "fantoche de militares", que apenas dá rosto civil a um governo comandado pelas Forças Armadas há décadas, desde que o país conquistou sua independência da França, em 1962.
EK/afp/ap/efe/rtr
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