Escândalo presidencial
7 de janeiro de 2012O líder do Partido Social Democrata (SPD) alemão, Sigmar Gabriel, criticou duramente pela primeira vez em público o comportamento do presidente Christian Wulff no escândalo dos créditos. "É péssimo um presidente federal ter deixado a coisa chegar a tal ponto. Essa discussão toda é indigna e repulsiva", declarou na edição deste sábado (07/01) do jornal Bild.
Gabriel acusou Wulff de deslocar na direção errada os critérios de honestidade e credibilidade. "Uma caixa de supermercado já seria demitida só por haver guardado um vale para si. Mas o presidente acredita que para ele vigoram regras especiais".
Para o deputado Stefan Wenzel, chefe da bancada verde da Baixa Saxônia, Wulff teria ocultado mais informações relativas ao financiamento de sua casa do que se pensava. Em declaração ao periódico Frankfurter Rundschau, Wenzel ressaltou que o presidente não registrou o contrato de empréstimo em cartório, não é mencionado no cadastro quem lhe concedera o crédito e, até o momento, não apresentou comprovantes de pagamento do empréstimo. "Aqui se abrem abismos profundos que eu não considerava possíveis", disse o parlamentar.
Na última quarta-feira, Wulff concedeu uma entrevista aos canais de televisão ARD e ZDF como uma forma de se reabilitar perante a opinião pública. Uma oportunidade que o chefe do Estado teria desperdiçado, na opinião da presidente do partido A Esquerda, Gesine Lötzsch: "Muitas questões continuam em aberto. [Wulff] continua insistindo em sua tática de vencer pelo cansaço. Ele tem uma relação deformada para com a imprensa, a verdade e o dinheiro".
"Shoe for you!"
Os partidos da coalizão do governo federal alemão – União Democrata Cristã, União Social Cristã (CDU/CSU) e Partido Liberal Democrático (FDP) – desmentiram uma notícia de jornal, segundo a qual já teriam deliberado sobre um processo de sucessão, caso Wulff renuncie.
O Rheinische Post divulgou que os líderes dos partidos em questão – Angela Merkel (CDU), Horst Seehofer (CSU) e Philipp Rösler (FDP) – não mais apoiariam Wulff caso se constate que ele tenha faltado com a verdade. Ainda segundo o jornal publicado em Düsseldorf, planeja-se indicar um sucessor que também "pudesse ser aceito pelos círculos socialista e verde".
Neste sábado, o palácio presidencial Bellevue, em Berlim, foi palco de uma manifestação em protesto pelos escândalos envolvendo Christian Wulff. A ação foi organizada pelo grupo Creative lobby of future (Clof), por meio da rede social Facebook. Mais de 300 pessoas participaram do movimento, que pedia a renúncia do presidente.
Acompanhado por cartazes e apitos, o slogan do protesto era "Mostre o sapato para Wulff" (Shoe for you, Mr. President!). Na cultura árabe esse gesto representa escárnio, mas é também uma forma de expressar cólera e desprezo. "Queremos só mostrar os sapatos, não jogar", acentuou o porta-voz do protesto, Jürgen Jänen.
AV/dpa/afp/dapd
Revisão: Mariana Santos