Premiê italiano chama presidente da Turquia de ditador
9 de abril de 2021O primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, chamou de "ditador" o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, na noite desta quinta-feira (08/04), em resposta a uma pergunta a respeito do chamado "Sofagate", mas assegurou ser necessário manter a cooperação com Ancara.
Draghi respondia, durante uma entrevista coletiva em Roma, a uma pergunta sobre a visita da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, a Erdogan, realizada na terça-feira.
Durante a reunião com o presidente turco, Von der Leyen não recebeu um lugar ao lado das cadeiras de Erdogan e Michel e teve que se contentar com um sofá recuado dos dois.
Um vídeo do encontro mostra Von der Leyen perplexa quando Erdogan e Michel ocupam as duas únicas cadeiras dispostas em frente às bandeiras da UE e da Turquia. "Ehm", murmurou a ex-ministra da Defesa alemã, estendendo os braços em um gesto de decepção.
Por fim, ela se sentou em um sofá um pouco mais longe de seus colegas, em frente ao ministro do Exterior da Turquia – alguém abaixo dela na hierarquia do protocolo diplomático. O incidente foi apelidado na mídia de "Sofagate".
"Fiquei muito descontente com a humilhação que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, teve que sofrer", afirmou Draghi. "Com esses ditadores, vamos chamá-los do que são – que, no entanto, são necessários – é preciso ser franco e expressar ideias e opiniões divergentes sobre a sociedade", disse o premiê, ex-chefe do Banco Central Europeu (BCE).
"Mas também é preciso estar preparado para cooperar com eles pelo interesse do país. O equilíbrio certo é necessário", acrescentou.
Turquia exige desculpas
A escolha da palavra "ditador" chegou às manchetes na mídia italiana e irritou Ancara, fazendo com que o Ministério do Exterior da Turquia convocasse o embaixador italiano para esclarecimentos.
"Condenamos veementemente as observações inaceitáveis do primeiro-ministro italiano sobre nosso presidente eleito", escreveu o ministro do Exterior turco, Mevlut Cavusoglu, no Twitter, de acordo com a agência de notícias estatal turca Anadolu.
Um porta-voz presidencial exigiu que Draghi se retratasse. "Condenamos fortemente esta retórica, que não tem lugar na diplomacia. Se Mario Draghi está à procura de um ditador, ele não deve ir além da história da Itália", disse o diretor de comunicação de Erdogan, Fahrettin Altun.
O vice-presidente turco, Fuat Oktay, defendeu Erdogan, dizendo que o líder turco se opôs a "todos os tipos de fascismo" e "venceu cada eleição com o maior respeito de seu povo". "Eu convido Draghi a pedir desculpas", disse ele.
Até a tarde desta sexta-feira, Draghi não havia pedido desculpas ou emitido uma retratação.
md/lf (Lusa, DPA, AP)