Erdogan lidera pesquisas para eleição presidencial
9 de agosto de 2014A calma em Istambul chama a atenção. Muitos estão de férias, principalmente no sul do país, bem longe dos acontecimentos políticos. No restaurante Güney, no bairro de Beyoglu, a televisão está ligada, assim como na maioria dos outros estabelecimentos na metrópole turca.
"De novo. Ele não para de falar. Já não aguento mais", reclama um garçom. O alvo do comentário é o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, que concorre à presidência nas eleições deste domingo (10/08).
Em frente ao restaurante, tremula uma bandeira com um Erdogan sorridente e a inscrição "Vontade nacional, força nacional – Meta: 2023". Segundo a visão do premiê, até centenário da república, a Turquia deve constar entre as potências econômicas mundiais.
Erdogan mobiliza seus correligionários do AKP (Partido Justiça e Desenvolvimento) acima de tudo com o desempenho econômico da Turquia sob seu governo conservador. Em 2011, por exemplo, o país obteve um crescimento econômico de mais de 8%, de acordo com a agência nacional de estatísticas.
Nas campanhas políticas de Erdogan – como no último domingo antes das eleições – centenas de milhares de seus seguidores se reuniram em Istambul, portando bandeiras e cartazes com inscrições do tipo "A estabilidade deve continuar, a Turquia precisa crescer".
Todas as pesquisas indicam a vitória de Erdogan no que é a primeira eleição direta para a chefia de Estado na Turquia. Até então, o presidente era eleito pelo Parlamento e possuía apenas um papel representativo. O analista Mehmet Murat Pösteki, do instituto de pesquisa ORC, diz que há boas chances de Erdogan obter mais de 50% dos votos e se tornar o novo presidente já no primeiro turno.
"Não sabemos em quem votar"
A poucos dias da eleição, muitos eleitores turcos seguiam indecisos em Istambul. Uma mulher de 28 anos, que preferiu se manter anônima, marcou propositalmente a data de seu casamento para 10 de agosto. "A maior parte dos meus familiares não vota, mesmo", confessou. "Além disso, não sabemos em quem votar. Seja como for, quem vai vencer é o Erdogan."
Na maioria dos casos, quem não é partidário de Erdogan oscila entre os dois adversários: Ekmeleddin Ihsanoglu, candidato comum dos partidos Popular Republicano (CHP) e do Movimento Nacionalista (MHP), e o candidato curdo Selahattin Demirtas, do Partido Democrático dos Povos (HDP).
"Por um lado, quero escolher Demirtas. Ele pode unir curdos e turcos", diz um estudante de 26 anos, até hoje fiel eleitor dos republicanos do CHP. "Mas, por outro lado, votar em Demirtas me dá um sentimento de traição." Uma outra adepta do CHP, de 30 anos, já se decidiu pelo curdo. "Não conheço Ihsanoglu. Além disso, ele é velho. Demirtas, por outro lado, é carismático, jovem e um verdadeiro democrata."
Erdogan lidera também nas redes sociais
No entanto, segundo um relatório do Alto Conselho Audiovisual RTÜRK, os candidatos da oposição recebem frequentemente menos espaço no canal estatal de TV TRT. No dia 3 de julho, por exemplo, 30 minutos de transmissão foram colocados à disposição de Erdogan, enquanto Demirtas e Ihsanoglu nem apareceram na tela. No dia seguinte, a campanha eleitoral do premiê foi o tema dominante por uma hora e 20 minutos, enquanto Ihsanoglu apareceu apenas por um minuto e Demirtas nem foi mencionado.
Também nas redes sociais, Erdogan encontra claramente mais respaldo do que seus dois adversários: no Facebook são quase 6 milhões de fãs, no Twitter, outros 4 milhões. Suas postagens enfatizam principalmente o poder econômico da Turquia e o papel do islã.
Também no perfil do conservador no Twitter, é possível assistir o spot da campanha eleitoral, onde se vê-se uma mulher rezando e uma oração islâmica é ouvida. Por conter símbolos religiosos, o vídeo está proibido para transmissões televisivas pelo Alto Conselho Eleitoral (YSK), atendendo a uma queixa do nacionalista MHP.
Em segundo lugar de preferência nas redes sociais, está Demirtas, com mais de 1 milhão de seguidores no Facebook. Já Ihsanoglu é curtido por apenas 330 mil no Twitter e seguido por pouco mais de 300 mil no Facebook – apesar de apoiar redes sociais e tecnologias modernas, segundo consta expressamente de seus perfis.
Baixa adesão na Alemanha
Em eventos de sua campanha eleitoral, Erdogan repetidamente enfatiza a origem alevita de Ihsanoglu e a curda de Demirtas. Essa é a chamada "tática do rótulo", mas que não está funcionando na atual eleição presidencial, comenta o cientista político turco Fethi Açıkel.
"Nem Ihsanoglu nem Demirtas entram em confrontação verbal com Erdogan. Assim, ele não tem com quem brigar." Isso é decepcionante para o premiê, que busca a disputa pública. E ambos "mostram, com suas presenças moderadas e amigáveis, que o próximo presidente turco deveria personificar uma Turquia pacífica", salienta Açıkel.
Contudo, o especialista duvida que Demirtas consiga obter mais de 10% dos votos. Por sua vez, Ihsanoglu poderá atrair os islâmicos conservadores. "Afinal de contas, ele é o ex-secretário-geral da Organização da Conferência Islâmica (OCI). No passado, desempenhou um importante papel como mediador nos conflitos do Oriente Médio. Assim, Erdogan não é mais o único que pode marcar pontos com uma política pró-Palestina", avalia Açıkel.
O resultado da eleição poderia proporcionar uma surpresa, portanto – embora a vitória de Erdogan continue certa, segundo as pesquisas. Também surpreendente é menos de 10% dos turcos residentes na Alemanha terem participado do pleito – apesar de esta ter sido a primeira oportunidade de votar para os cerca de 1,4 milhão de eleitores turcos residentes no país.