Porto Alegre fracassa na mobilidade urbana, mas tem menor gasto da Copa
28 de março de 2014"Serão projetos com tempo determinado, com cronograma de trabalho. Porto Alegre de 2014 será razoavelmente diferente da cidade em 2009, para melhor. Não estamos preparando a cidade para o turismo, mas para os moradores. Ficará um grande legado de tudo isso". Estas foram as palavras proferidas na última semana de maio de 2009 pelo então vice-prefeito e secretário da Copa e atual prefeito de Porto Alegre, José Fortunati. Exatamente naquela semana a capital gaúcha havia sido escolhida como uma das 12 sedes da Copa do Mundo de 2014.
Cinco anos se passaram e Porto Alegre praticamente não tirou proveito da condição de sede do megaevento. A expectativa era que a capital gaúcha se transformasse em um canteiro de obras e houvesse a melhoria na qualidade de vida da população local – o que não se concretizou de forma plena. É bem verdade que as obras foram iniciadas, mas ou estão extremamente atrasadas ou completamente paradas.
Ao menos Porto Alegre pode se orgulhar em ser a sede da Copa do Mundo com o menor gasto de dinheiro público. E isso porque o estádio Beira-Rio foi reformado com investimento da iniciativa privada, a expansão do Aeroporto Internacional Salgado Filho foi postergada e simplesmente todas as dez obras de mobilidade urbana foram retiradas da Matriz de Responsabilidades da Copa.
130 milhões de reais: o menor gasto entre as sedes
Em sua primeira publicação em 2010, a Matriz de Responsabilidades previa 13 projetos pagos pelo poder público em Porto Alegre, com o orçamento previsto em cerca de 1,2 bilhão de reais. Três anos depois, entre exclusões e inclusões de projetos, o valor previsto caiu para aproximadamente 130 milhões de reais, distribuídos em seis projetos: um de sinalização e acessibilidade de pontos turísticos, três que envolvem o aeroporto Salgado Filho – o pátio do aeroporto, a primeira fase do terminal de passageiros e o Módulo Operacional Provisório, batizado de "puxadinho", que é o único projeto concluído na cidade. Além disso, estão em andamento duas obras referentes ao acesso ao estádio Beira-Rio.
Em 2011, o então ministro do Esporte, Orlando Silva, declarou: "A Copa do Mundo funciona como uma espécie de catalisador. Temos uma grande oportunidade de executar planos de investimentos e de melhorar a qualidade dos serviços nas grandes cidades, sobretudo o transporte público".
A melhoria na infraestrutura da mobilidade urbana, que era a principal bandeira erguida pelo governo federal para justificar a candidatura e o recebimento do Mundial, praticamente inexiste em Porto Alegre. Inclusive a escolha do estádio Beira-Rio como palco dos jogos, em detrimento da – naquela época ainda em planejamento – Arena Grêmio localizada apenas cinco quilômetros do aeroporto, está atrelada à promessa de reestruturação das vias expressas e na concepção de um sistema de transporte público moderno que conectaria o aeroporto – no norte – com o estádio, no sul da capital gaúcha.
Beira-Rio versus Arena Grêmio
Ainda na época da candidatura de Porto Alegre para a Copa do Mundo de 2014, o governo decretou que o estádio do Sport Club Internacional seria o palco gaúcho. As autoridades optaram pela reforma de um estádio construído nos anos 1960, ao invés de apostar na Arena do Grêmio – um projeto que seria realizado mesmo sem a Copa. Além disso, o imbróglio para arrecadar os fundos necessários e a demora no fechamento do contrato com a construtora Andrade Gutierrez atrasaram em 18 meses a obra no estádio colorado.
Tanto no Beira-Rio quanto no terreno onde se localiza hoje a Arena do Grêmio, as escavadeiras iniciaram os trabalhos praticamente de forma simultânea no final de 2010. O Internacional não só não conseguiu concluir a reforma na data prevista – agosto de 2012 – como viu o arquirrival Grêmio inaugurar a sua Arena em dezembro daquele ano. Enquanto falta o tempo necessário para testar as instalações e certos procedimentos de dia de jogo no Beira-Rio, a recém-construída Arena será apenas um dos locais oficiais de treinamento das seleções que forem para Porto Alegre na Copa do Mundo.
Porém a justificativa para a escolha do estádio colorado reside no argumento que os turistas que chegassem ao aeroporto iriam se hospedar no centro da cidade e, desta forma, estariam em contato direto com atrações turísticas e consumiriam mais em Porto Alegre.
Turistas estes que ao vierem para as quatro partidas programadas na cidade vão se deparar com diversas obras inacabadas e que tiveram seus cronogramas atrasados, seja por empecilhos burocráticos, disputas judiciais referente às inúmeras desocupações e realocações de famílias ou até por falta de areia. Eles vão se deparar com uma Porto Alegre não tão diferente da de 2009.