Porcelana europeia completa 300 anos
15 de janeiro de 2008"Idealmente branca e translúcida": foi com esses parcos adjetivos que Johann Friedrich Böttger, então com 26 anos, se referiu à massa que conseguira produzir nas casamatas de Dresden, onde experimentava como prisioneiro do príncipe saxão Augusto, o Forte, na busca de uma solução para o fabrico da porcelana.
A anotação, datada de 15 de janeiro de 1708, contém também a fórmula utilizada pelo alquimista naquele determinado experimento e é considerada por isso a "certidão de nascimento" da porcelana européia. Fazia 200 anos que se tentava em diferentes cortes da Europa encontrar a receita para fabricar o bem precioso, importado até então da China a altos preços.
Busca do ouro levou ao "ouro branco"
Böttger (1682-1719) afirmava em Berlim, depois de concluir o aprendizado de farmacêutico em 1701, ter encontrado a fórmula do ouro. Tendo despertado a cobiça do rei da Prússia, decidiu fugir para Wittenberg, onde chamou a atenção do não menos ambicioso rei da Saxônia, Augusto, o Forte. Tratado desde então como segredo de Estado, foi levado para as casamatas de Dresden, para continuar experimentando às escondidas, na busca da fórmula do precioso metal.
A partir de 1704, o erudito Walther von Tschirnhaus colocou o jovem alquimista a par de seus escritos teóricos sobre a fabricação da porcelana. Juntos, recorreram aos conhecimentos de especialistas em minas, com destaque para Gottfried Pabst von Ohain.
A descoberta da fórmula do "ouro branco" foi, portanto um trabalho de equipe, tendo cabido a Böttger grande parte do sucesso na prática. Já em 1707 ele conseguiu confeccionar uma faiança que ainda não tinha o grau de pureza da porcelana e era de uma cor mais escura.
A Manufatura de Meissen
Em 1710, Augusto, o Forte, que tinha fascinação pela porcelana, mandou fundar uma manufatura em Meissen. Aperfeiçoando passo a passo a receita da massa, Böttger, que dirigia a manufatura, pôde levar a porcelana de Meissen pela primeira vez à Feira de Leipzig em 1713.
No começo, a manufatura produzia vasos e figuras segundo o modelo chinês, mas logo desenvolveu um estilo próprio, que se orientava pelo barroco europeu. As espadas azuis cruzadas, que se tornaram símbolo da marca que representa por excelência luxo e tradição, foram introduzidas em 1722.
Invenção, não imitação
O diretor-gerente da Manufatura de Meissen, Hannes Walther, salienta que Böttger e seus auxiliares não copiaram meramente os chineses. Na China, o material bruto era encontrado em minas na composição correta. Já a porcelana branca européia – que é queimada a temperaturas bem mais altas que a chinesa, sendo, portanto, também mais dura – foi resultado de uma longa busca e de inúmeras tentativas, até que fosse encontrada a fórmula adequada. (lk)